012. a família

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Roberto pov;

Era merda em cima de merda. Acordar assustado depois de uma noite péssima, ter que entregar aquele bando de moleques machucados para os responsáveis e - ainda por cima -, voltar pra base e ver a Marina, me pareceu um castigo divino por todas as vezes que eu mandei um vagabundo pro inferno sem direito ao purgatório.

Quando eu a reconheci naquela sala, o inferno era todo meu.

— Marina. - eu não questionei a sua identidade. Eu reconheceria os seus contornos até mesmo no escuro. Dei a volta e me sentei, diante dela; os olhos esverdeados estavam vermelhos.

— Trouxeram meu irmão por engano, Beto. Me ajuda. - as lágrimas escorreram. FUDEU.

— Como ele é? - eu perguntei distante, tentando me afastar da agonia dela. Meu coração parecia querer pular pela boca, à qualquer momento.

Ela me olhou perdida, magoada. Coloco uma das mãos sobre a mesa e tentou alcançar a minha; eu me afastei.

— E-ele é... um pouco mais escuro do que eu. - meu corpo doía à cada palavra. Eu tinha espancado o maconheiro. - e ele tem... assim... - ela apontou para os olhos - um olhar parecido com o meu, eu acho. - as mãos agora limpavam as lágrimas.

Eu mexi em alguns papéis e desviei os meus olhos dela. Queria poder segura-la, abraça-la e protegê-la daquele ambiente, daquela situação e do que eu estava prestes a fazer.

Tirei uma ficha e mostrei a foto do garoto que mais batia com a descrição que ela fez. Ela olhou assustada para a pele machucada dele e com a cabeça, confirmou.
Eu me levantei e senti como se o corpo esmurrado fosse o meu; o chão pareceu sumir. Ela agarrou o meu braço e eu parei.

— Beto, o que aconteceu com ele? - eu só conseguia pensar no que estava acontecendo com a gente.

— Peguei ele com um baseado, essa madrugada. - ela soltou o meu braço. As lágrimas rolaram ainda mais.

— Foi você. - a voz dela estava completamente embargada.

Fui contra tudo o que havia prometido pro Martins: vomitei meu coração, outra vez. Me agachei perto dela e coloquei uma das mãos sobre a sua coxa. Ela não se moveu e permaneceu com a cabeça baixa.

— Vou liberar ele e levo vocês pra casa. - disse quase sussurrando; ela me olhou, com raiva.

— Se ele fosse branco, você espancaria ele desse jeito por causa de um baseado? - ela não parecia preocupada em guardar segredo e o tom da sua voz era mais alto que o meu.

Eu era como uma bomba-relógio; mais nervoso, mais ansioso e mais enfurecido do que nunca. Ela questionou a minha honestidade e eu, pude sentir o ódio correr pelas minhas veias.

— Não fala do meu trabalho, entendeu? Não questiona a porra do meu trabalho! - eu me levantei do chão em um impulso e gritei. Gritei com ela.

Minha mão bateu sobre a mesa e ela pulou assustada no mesmo segundo. Eu me aproximei e apontei o dedo em seu rosto.

— Esse merda não tinha que estar na rua de madrugada, fumando essa porra. Eu fiz o meu trabalho, entendeu? Não tá escrito na testa dele que ele é irmão da salvadora dos fracos e oprimidos. - os olhos dela se arregalaram. Eu não havia terminado.
— Enquanto você tá ensinando o B-A-BA pra aquela pirralhada sem pai, seu irmão tá financiando o tráfico que vai matar essas crianças depois. O PROBLEMA É A POLÍCIA? - meu coração disparou. Eu andei para o outro lado da sala, parei em frente a parede e a encarei.

maria  batalhão | CAPITÃO NASCIMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora