12.

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— Não precisa amor. Do mercado lá em casa são no máximo quinze minutos andando, vai demorar mais se eu tiver que esperar o Uber chegar. – digo ao homem do outro lado da linha.

— Mas está anoitecendo. Acha mesmo uma boa ideia sair andando por aí indefesa? – seguro o riso e balanço negativamente a cabeça.

— Não estou indefesa. Qualquer um que chegar perto de mim, vai sentir a fúria do meu alface. – ele ri do outro lado da linha. — Eu tenho que desligar agora. Hum?

— Tudo bem. Me avise assim que pisar esses pequenos pés dentro do condomínio, tá?

— Pode deixar. – sorrio largo. — Até daqui a pouco.

Ele desliga antes que eu possa fazer isso e eu começo meu caminho até o condomínio.

O mercadinho não ficava muito longe, era até que perto do studio de ballet.

Ballet.

Eu amava tanto dançar e sentir a música. Eram tantos sentimentos bons, mas também tantas cobranças.

Pressão. Dor. Machucados. Lesões. Medo.

Ao mesmo tempo que era amor, paixão, fé e esperança.

Ballet era um dos meus nortes na vida.

Até eu me machucar feio e ficar com tanto medo disso voltar acontecer que juntei o útil ao agradável e desisti.

Porque era o mais fácil na minha situação.

Mas eu sentia falta.

Deus… como eu sentia falta.

Eu me sentia plena dançando.

Pude ver mesmo que de relance e tentei ignorar, mas não obtive sucesso. Meus olhos flagraram as pequenas vestidas em tutus cor de rosa na pontinha dos pés e as mãozinha acima da cabeça. Meus pés travaram no chão e eu observei curiosa do lado de fora, meus olhos atentos aos movimentos e meu corpo tentado a repeti-los.

Era tão incrível sentir meu corpo mover-se junto a música. Foi incrível, até que tudo se tornou sério demais e minha mente não acompanhava meu ritmo. A dança de tornou difícil e o ballet, não era mais minha coisa favorita no mundo.

As lesões contribuíram para que eu abandonasse tudo sem pensar duas vezes.

Só queria voltar no tempo, sabe? No tempo que eu dançava só como passatempo, sem competições internas e externas, sem colegas de danças egocêntricas e professores tão exigentes que te levavam à exaustão em alguns casos.

Só queria ser como essas crianças pequenas que estão rindo e se divertindo.

Dançando por amor, sem preocupação.

Meu coração palpitou quando uma delas não conseguiu dar um giro completo e caiu no chão ao perder o equilíbrio, agarrei com mais força a sacola em minhas mãos e caminhei apressada até o portão brilhoso do condomínio.

Chego em casa mais rápido que os meus próprios pés podem processar.

Era uma mistura de sensações que eu nem sabia ao certo como descrever.

Deixo as sacolas em cima da mesa e subo correndo para o meu quarto.

Assim que abro o closet, escalo ele com cuidado para pegar uma caixa que eu deixo escondida nele.

Que eu não mexo a anos.

Resmungo quando sinto um urso de pelúcia cair na minha cara enquanto eu estava tentando alcançar a caixa.

Suspiro aliviada quando a pego.

Me sento rapidamente no chão do closet a assim que abro a caixa fico sem fôlego.

Older. | Erick PulgarOnde histórias criam vida. Descubra agora