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heloisa

— Obedece seu irmão. Se comporta, por favor. – mamãe me pede com os olhos cheios d'água, sorrio e aliso seu rosto.

Era uma situação engraçada, ela agindo como se eu fosse para o outro lado do mundo e eu fingindo não estar me sentindo da mesma forma que ela e segurando o choro.

— Qual é mãe. O Leonardo só não perde a cabeça porque tá grudada no corpo, mais fácil ele ter que me obedecer. – ela me abraça mais uma vez entre diversas e aperta com força. — Ai mamãe. Tá me deixando sem ar. – digo tentando respirar.

— Flávia. Larga a menina.. – meu pai diz rindo com a situação, como alguém que eu herdei toda a personalidade, apertos não são tão bem vindos. — Te amo docinho. Juízo e coloca juízo no seu irmão quando for preciso.

Concordo prontamente. Recebo um beijo na testa e ele alisa meus ombros.

— Vou sentir sua falta, hum?

— Eu também vou. – ajeito a mochila nas costas e suspiro. — Amo vocês. Vou sentir saudades. Volto no próximo jogo do Flamengo aqui em Curitiba.

Eles concordam.

E papai segura a mamãe para que ela não me abrace novamente por mais dez minutos.

— Nós te amamos bebê. – mamãe diz alto o suficiente para que alguns passageiros me olhassem de forma triste.

Aceno com as bochechas queimando e desapareço da visão deles em algum tempo.

[...]

"chatolinda"

Era o que estava escrito na placa que eu pude ver o alto louro segurando enquanto me procurava atentamente. Sorri animada e fui me escondendo atrás das pessoas até chegar perto dele e me encostar no pilar a poucos passos.

Pude vê-lo ficar ansioso, as mãos sendo levadas até o tecido da calça preta secando o suor diversas e diversas vezes. Parando sempre para tirar fotos, é claro.

Quando vejo ele pegar o celular (provavelmente para me ligar) decido que minha brincadeira havia ido longe demais.

Faço barulho com a garganta me posicionando atrás dele, o susto foi nítido e ele me abraçou apertado (tal qual a minha mãe).

— Oi, minha bebê. – meu irmão diz me apertando com força. — Que saudade, chatolinda.

— Oi mãmão. – aliso seu rosto e ele fecha os olhos.

Mãmão.

O apelido dado por uma menininha que não tinha facilidade alguma para chama-lo de irmão. E se apegou ao apelido de forma tão intensa que nunca conseguiu chama-lo de outra forma.

Leonardo era a minha pessoa. A história inicial é que eu só existo porque um dia ele disse aos nossos pais que era muito triste ser sozinho.

Mas é claro, ele queria um irmão.

E eu cheguei pra acabar com a graça dele.

E tirá-lo do posto de bebê dos nossos pais.

Eu só não contava, que ele também acabaria com a minha graça. E me tornaria o bebê dele também.

— Vamos nessa. – ele diz me soltando e puxando consigo minha mala. Enlaço nosso dedos como de costume e então caminhamos em direção a BMW estacionada. — É... – entro no carro e coloco o cinto, meu pai entra logo em seguida. — Eu já falei com todo o elenco do Flamengo, todos querem que você trabalhe pra eles, Gabi quer que você projete o estúdio que ele vai fazer em casa.

Older. | Erick PulgarOnde histórias criam vida. Descubra agora