Feridas Abertas: À Procura da Luz no Fim do Túnel

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— Tudo bem, apenas tome seu café. Quando for a hora, saberei. Venha sentar na cama... Você tem uma casa bonita, bem organizada. Não sabia que morava sozinho.

— Permaneci calado, apenas segui suas instruções.

— Você tem muitos livros, parece ter bom gosto.

— Dá para parar de ficar me analisando? Se quer ficar aqui, pare de me analisar.

— Tudo bem — levantou os braços em sinal de rendição. — Tá se sentindo melhor?

— Por que se importa?

— Só estou perguntando.

— Obrigado por me colocar na cama e pelo café!

— Eu fiz algo errado ontem?

— Você quer mesmo falar sobre isso?

— Você saiu correndo, óbvio!

— Não foi exatamente por conta disso, mas enfim, já que você quer sinceridade. Você beija muito bem, calmo e paciente, mas no sexo parece um hétero que só quer um buraco para meter o pau. Não tem toque, você não procura saber o que dá prazer ao outro, não é nem um pouco carinhoso ou cuidadoso, mas dá para melhorar.

— Caramba, ninguém nunca reclamou do meu sexo, mas e você, o que você queria? Tudo isso não passou de uma aposta e você sabia. Eu tive tesão apenas, não tenho desejo ou atração por você.

— Aí está o babaca que você realmente é — falei com lágrimas nos olhos.

—Olha pra mim e olha pra você, lhe fiz um favor basicamente, você teriaque nascer de novo para ficar com alguém que nem eu. - Falou um riso perverso edebochado.

Peguei o prato e joguei na parede, gritando para ele sair da minha casa.

— Vai embora! Agora, antes que eu não me contenha.

Ele finalmente saiu e corri para o banheiro. Liguei o chuveiro e me encolhi no chão em posição fetal, todas aquelas palavras cortando meu peito. Sei que posso ter incitado, mas ele rasgou todas as minhas cicatrizes, deixando todas as minhas inseguranças expostas. Depois de um tempo, acabei indo para a cama e dormi novamente. Acordei com muita febre e liguei para a Bruna.

— Amiga! Me ajuda, por favor — não consigo falar mais nada, pois apago.

Acordo com a Bruna me chacoalhando e falando algumas coisas, mas não consigo responder, só fico observando-a agir desesperada.

— Hanaé, o que aconteceu? Você tá todo molhado e esse sangue? Seus pés estão sangrando.

Bruna é a minha melhor amiga, sempre esteve do meu lado em todos os momentos. Tenho muitas crises de ansiedade, muitas vezes severas, por isso ela tem minha chave. Ouço ela falar de sangue, provavelmente pisei nos cacos de vidro do prato. De repente, sinto uma dor imensa no pé e a Bruna fala.

— Caralho, esse foi grande. Como você não sentiu esse vidro entrar no seu pé? Vamos ter que ir para o hospital.

— Não, tem uns adesivos aí na mala de primeiros socorros que servem para isso. — Joga o soro e depois álcool iodado.

— Hanaé! — falou me repreendendo.

— Por favor, você sabe que eu não gosto de hospitais.

— Está bem, mas amanhã você não vai trabalhar desse jeito e com esse pé. Você ficou assim por quantas horas?

— Você falou, amanhã? Hoje já é domingo?

— Sim, já são cinco da tarde.

— Eu dormi por vinte e oito horas praticamente... — Por que você está todo molhado? — Fui para o chuveiro com roupa e tudo — Teve alguma crise, o que houve?

— O Júlio veio aqui em casa e discutimos. Ele abriu todas as minhas feridas antigas, falou tudo que eles falaram naquela época, amiga, tudo.

Contei todos os detalhes para minha amiga que ouviu atentamente. Ela me deu remédio e me ajudou a ir para o banheiro tomar um banho, trocou as roupas de cama e depois fomos assistir a um filme. Fiquei deitado no sofá. Contei meu plano para ela; eu estava desistindo dele, mas ele me deu estímulo para isso. Ela achou que eu estava brincando, mas percebeu depois que era sério.

— Como tá o marido e a filhinha? — perguntei depois de algum tempo, fitando a parede. — Estão bem? Faz tempo que você não aparece.

— Irei lá em breve, meu pé tá latejando. — Falei para você que era melhor ir ao hospital, mas você é teimoso.

— Eu sei, amiga — Sinto meu celular vibrando, quando olho, era uma mensagem de transferência: "Você recebeu quatro mil reais de Júlio." Pelo visto, ele se sentiu culpado, mas esse dinheiro vai complementar o meu plano. Fui na rede social e procurei o amigo dele nas fotos e achei bem rápido. Estava ele e o amigo. Cliquei e fui para o Instagram do Gustavo. Entrei no direct e mandei uma mensagem: "Lamento ter feito perder a aposta, mas tenho uma proposta para você. Se você se interessar, esteja nesse endereço daqui a três horas e não conte para o Júlio. É sobre ele." Passaram-se trinta minutos e meu celular tocou: "Estarei aí em quinze minutos."

— Amigo, você tem certeza que quer fazer isso? — nunca tive tanta certeza. Minha campainha tocou e a Bruna abriu a porta, deixando ele entrar.

— Vou ficar lá no quarto.

— Se quiser, pode ficar, amiga.

— Prefiro o quarto!

— Tudo bem.

Pausa para o caféOnde histórias criam vida. Descubra agora