Falando a verdade

2 0 0
                                    

          Passamos horas conversando, e ela me ajudou a achar os ternos. Comprei quatro, com cores bem sofisticadas. Almoçamos, e quando vi, já era tarde. Eu tinha que ir trabalhar, mas ela insistiu para ir comigo porque precisava ver o irmão. Ela falou sobre a infância dele inteira no Uber; quase não consegui acompanhar. Dei uma bolsa nova de presente a ela pela ajuda. Assim que cheguei na cafeteria, falei para Bruna que precisava conversar com ela, e Camila foi atrás do irmão.

— O que foi? Você nunca me chamou para conversar... — disse, preocupada.

— Não sei como vou te explicar essa situação. Bom, eu vou me demitir.

— Como pode meu próprio patrão se demitir? Tá tirando com a minha cara, né?

— Você já sabia?

— Óbvio. O seu Elias me contou quando me contratou.

— Que safado, ele nunca me disse isso — falei, perplexo.

— Bom, algo aconteceu para você ter que contar isso agora — disse, curiosa.

— Justamente. E tem dedo dele também. Basicamente, vou precisar de você em outra posição. Logo, essa semana será cheia de entrevistas para nós dois.

— Vai me demitir? Por quê? Não quero sair daqui, não.

— Nem para ser minha sócia? — falei, debochado.

— Por que não disse logo? Onde eu assino?

— Calma, o contrato não tá pronto. Vim falar com você primeiro.

— Então tá bom. Minha lojinha... outra pessoa vai cuidar.

— Que tal o Henrique? — Me veio a lembrança dele.

— Vamos ver, patrãozinho! — falou sorrindo.

— Vai procurar o que fazer, mulher. Não me chama assim nunca mais, misericórdia. Parece aquelas mulheres que têm caso com os patrões — me arrepiei só de pensar.

Voltamos ao trabalho por hoje. Deixei a Bruna cuidando da parte chata, ligar para o pessoal para entrevista. Fiquei imaginando a responsabilidade que estão em minhas mãos agora, deu um frio na barriga. O dia passou rápido. Bruna foi embora mais cedo, o movimento começou a aumentar, não estava dando conta e o Austin entrou na loja do nada.

— Nem pede ajuda, né? Posso te ajudar como?

Admirei a intenção dele, apenas sorri, entreguei o avental e uma touca.

— Fica no caixa, coloca as comandas em ordem no balcão e vou entregando. Pergunte os nomes dos clientes e anote na comanda — ele me olhava atento.

Ele acabou ficando preso lá por horas na loja. Esqueci que era dia de pagamento, uma das semanas mais movimentadas. Só conversávamos o básico, pois não tínhamos tempo. Pude notar que ele era muito carismático com os clientes e sabia vender bem os produtos. Aprendeu o cardápio nos primeiros trinta minutos, fiquei impressionado.

Depois de umas quatro horas, o movimento morreu. Ele estava exausto de tanto falar, pude perceber. Fiz um café para mim e um para ele.

— Obrigado por hoje! — falei, entregando o café. — Vamos sentar um pouco.

— Por favor, minhas pernas agora que tô sentindo doer — falou, engraçado.

— Eu sei bem como é. Obrigado mesmo pela ajuda. Você não tinha mais aula?

— Tinha duas, mas quando vi você atendendo e fazendo o pedido, e a fila aumentando, não pude passar direto.

— Isso significa que tá apaixonado? — falei, debochado.

Pausa para o caféOnde histórias criam vida. Descubra agora