O Último Suspiro

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— Hanae, se ele sabe que você é filho do Alexandre, ele não vai te deixar em paz. Venha para minha casa, aqui tem seguranças.
— Estou indo — respondi.

Abro a porta e vejo três caras.
— Senhor Elias, me perdoe, por favor diga ao Júlio que eu o amo muito — e desliguei. Fecho a porta, mas um deles me impede e outro me empurra. Com o impacto, caio no chão, mas me levanto rapidamente. Quando um deles tenta me segurar, consigo acertar um soco e chuto o outro. Começamos a lutar, eu pego tudo que vejo pela frente e jogo neles. Pego uma cadeira e a quebro nas costas de um, jogo o outro em cima da mesa de vidro e ele desmaia. O terceiro era mais forte, então apelei para o ponto fraco. Ele se abaixou e soquei seu queixo, fazendo-o cair. Pego meu celular e a bolsa, saio correndo, abro a porta do carro, mas sinto algo afiado cortar minha coxa e desmaio ao sentir a coronhada na cabeça.

Me sinto zonzo e escuto vozes. Olho de relance e vejo Otávio com outro cara sentados à minha frente.
— Sendo filho de quem é, já imaginava que não seria tão fácil — ele diz.
— Cometi o erro de te esquecer, mas isso não vai se repetir.
— Você acha que vai sobreviver? Sentiu saudades do que fiz com você?
— Eu tenho nojo de você. Você tem um filho, como pode fazer isso?
— Meu filho é só um negócio, investimento e nada mais. Já você é uma pedra no sapato. Hoje vou fazer você relembrar nosso passado — ele caminha até mim e aplica uma injeção.
— Você não vai se safar dessa.
— Vou sim. Aquele velho uma hora ou outra vai morrer e tudo será meu. Vou convencer os acionistas a me tornar o presidente.

Cuspo na cara dele e ele me dá um soco no rosto e no estômago. Sinto meu corpo formigar e a dor do soco se amenizar. A injeção está me deixando anestesiado.

PART JULIO ON
— Você e ele apostaram. Eu vi o contrato.
— Apostamos sim, mas ele desistiu, Júlio. Ele falou que estava apaixonado e que não teria coragem de ferir seus sentimentos.
— Ele brincou comigo! — gritou.
— Deixa de ser idiota e hipócrita, cara. Nós brincamos com ele tanto quanto ele com a gente. Você o humilhou, e agora tá chorando aqui sem motivo? Ele te ama, Júlio. Você deveria saber disso melhor que ninguém.
Júlio se sentiu confuso.
— Eu não sei, nunca senti isso por ninguém.
— E agora você magoa a única pessoa que realmente te faz feliz? Se toca! Nem eu seria tão babaca.
— Gustavo, como faço para me redimir? Ele até acordou chorando e eu nem perguntei por quê. Ele está sendo ameaçado de morte só porque vai herdar a Elitecnologia. E eu o deixei sozinho.
— Calma... você falou que ele vai herdar a Elitecnologia?
— Sim. O senhor Elias é como um pai para ele.
— Precisamos ir atrás dele agora — falou preocupado.
— Meu pai vai matá-lo.
— Seu pai está atrás dele?
— Sim. Ele falou a semana toda em matar o herdeiro do senhor Elias. E, pelo que conheço do meu pai, ele não estava brincando.
— Gustavo, é o seu pai. Ele sempre me tratou bem — meu celular toca.
— Alô! Oi, Bruna!
— Júlio, pegaram o Hanae. O senhor Elias acabou de me ligar. Ele mandou os seguranças na casa dele e estava tudo destruído. Tinha sangue na porta do carro. — Ela chorava desesperada. — O homem que sequestrou o Hanae é o mesmo que matou o pai dele e... que o estuprou, Júlio.
Desliguei atônito, sem acreditar no que acabara de ouvir. Lembrei da nossa discussão e me senti ainda mais culpado.
— Gustavo, tem algum lugar que seu pai poderia tê-lo levado?
— Ele já pegou o Hanae, né? Não sei onde ele pode ter levado... — Gustavo parou para pensar. — Vamos passar na minha casa primeiro.

PART JULIO OFF
Eu já não conseguia sentir meu corpo. Ele começou a tirar minhas calças, e eu não conseguia me mover.
— Vou mostrar como se fode uma bichinha como você e relembrar os velhos tempos — ele disse. Eu não conseguia falar, as lágrimas escorriam pela repulsa. Ele esfregava a boca no meu pescoço. As cenas do passado se repetiam. Cada toque trazia uma lembrança daquela noite. Lembrei dele batendo no nosso carro, até batemos em uma árvore. Queria gritar, mas não conseguia. Ódio e medo misturados. Cada parte de mim queria fugir dali.

PART SENHOR ELIAS ON
— Quero todos procurando em cada propriedade daquele canalha — disse no telefone, desligando em seguida. Ele discou outro número.
— Júlio? Precisamos salvar o Hanae antes que seja tarde demais. Você tem um passado com a família do Otávio. Alguma conversa ou lugar que vocês visitaram na infância? Tente lembrar.
— Eu não sei, senhor Elias, mas o Gustavo está me ajudando.
— Júlio, sabe quais foram as últimas palavras dele antes de ser capturado? — falou pausadamente. — Ele disse que te amava e que você foi uma das melhores coisas da vida dele.
Escutei Júlio chorar.
— Eu vou encontrá-lo. — E desligou.

PART SENHOR ELIAS OFF

PART JULIO ON
— Como eu pude ser tão egoísta? Não quero que nada aconteça com o Hanae. Jamais me perdoaria. — Tento me lembrar de algo da infância que possa ajudar.
— Gustavo, alguma vez, quando éramos crianças ou adolescentes, seu pai nos levou para algum lugar deserto?
— Pelo que me lembro, não... mas... — ele pareceu lembrar de algo. — Lembra daquele dia que meu pai levou a gente para um galpão velho, na zona leste?
— Pego o telefone e ligo para o senhor Elias.
— Acho que já sei onde ele está. Passo as instruções.
— Vamos para lá o mais rápido possível.

PART JULIO OFF
Ele me causava nojo. Tentou me beijar, mordi seus lábios, e isso o irritou ainda mais. Me deu socos e pontapés. Eu já não tinha forças. Doía na alma. A única pessoa que vinha à minha mente era o Júlio. Depois, minha mãe, minha tia e a Bruna. Nunca disse o quanto os amo. Senti ele me virar de costas e tirar minha calça por completo. O pior estava para acontecer. Lembrei dele me sufocando com o travesseiro enquanto me estuprava. Senti ele me invadir com força, e as lágrimas escorreram. Meu corpo foi violado mais uma vez. Não havia mais chance de sobreviver a isso. Usei a última força que me restava e o empurrei, saindo cambaleando. Quando ia cair, alguém me segurou. Era Júlio. A expressão no seu rosto era de pavor, medo, ódio e culpa. Olhei para trás e vi Otávio sacar a arma e atirar no Júlio. Sem pensar, me coloquei na frente. Gustavo tomou a arma de Otávio e o derrubou. Ouvi sirenes, e Júlio gritar:
— Eu te amo, me perdoe por te magoar — tentei falar, mas meu peito queimava. Meus pulmões estavam se enchendo de sangue. — Nun... nunca vou esquecer de você.
— Não fala nada. Me perdoa, por favor. Fui egoísta e te deixei sozinho quando você mais precisava de mim. Aguenta firme...
— Eu... eu... — tentei completar, mas apaguei.

PART JULIO ON
Ele tentou falar, mas apagou, e eu não consegui segurá-lo.
— Não! — gritei. — Não me deixa! Aguenta firme! Socorro! — Ele não se mexia, sua respiração parou. — Hanae, acorda! Não me deixa! — A polícia chegou nesse momento. — Não vou deixar você morrer. Lute! — comecei a fazer massagem cardíaca e respiração boca a boca. Gustavo parou o carro ao nosso lado.
— Coloca ele no carro agora! A polícia vai escoltar a gente, a ambulância furou o pneu no caminho.

Coloquei ele no banco de trás e continuei tentando o máximo possível.
— Hanae, acorda! — meus olhos brilharam ao vê-lo abrir os olhos. — Você tá vivo, meu amor. Aguenta firme.
— Faça um torniquete — ele disse tossindo sangue. — 

— Hanaé, seu tiro foi no peito...

— Eu só quero que você saiba que eu te amo... de verdade. Me desculpe por não pedir para você ficar... Tá difícil respirar... — disse Hanaé, tremendo e com quase nenhuma força restante.

— Guarda seu ar, não force... — disse Júlio, tentando conter as lágrimas, que já caíam. — Vai mais rápido, Gustavo!

— Hanaé, me perdoa, por favor... Eu não imaginava que meu pai era tão monstruoso assim. Fica vivo, estamos quase chegando! — implorou Gustavo, desesperado.

— Você é melhor do que ele... Eu não o culpo por nada... Cuide do Júlio por mim... — murmurou Hanaé, com suas últimas forças, antes de partir.

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