Por Detrás das Claras
César de Andrada Batista
Meu dia começava cedo, às quatro da manhã. Com uma caminhada de lei, levava meu pitbull para andar no mínimo 5 km e Manuela no carrinho ao lado. Às seis e quinze, já estava entrando no carro para levá-la até a creche desde que a filha da mãe a quem tentei construir uma família havia me dado um pé na bunda alegando não conseguir mais tocar brincar de casinha. Para mostrar que policial durão também leva enrolo. Me despedia da pequena e embarcava na minha Frontier velha para iniciar os trabalhos na sede do BOPE.
Eu era um capitão bem rígido, dispensava as besteiras policiais. Não gosto de papo, só de fazer meu trabalho. Ser caveira é viver numa guerra constante, onde a disciplina e a lealdade são tudo. A gente sabe que a qualquer momento pode ser o último. Mas, ao mesmo tempo, é um orgulho servir no BOPE. Aqui, somos a última linha de defesa contra o caos que ameaça a cidade. A gente enfrenta os piores criminosos, em condições que ninguém mais tem coragem de encarar. Mas isso tem um preço. A violência, o medo, a morte... são coisas que a gente carrega todos os dias. E não é só no campo de batalha. As consequências dessa vida atingem tudo, até a família, os amigos. É um peso que, às vezes, parece insuportável.
Ao entrar no batalhão, enquanto assistia a todos prestando continência para mim, sem muita demora vejo um soldado deitado numa mesa, dormindo. Me aproximei, dando tapas na mesa para acordá-lo.
— Caralho, Diogo, não é possível que você esteja dormindo de novo, porra! — exclamei, com fogo nos olhos.
O soldado se levantou com o susto, abrindo um sorriso cínico e torto.
— Bom dia, meu capitão, dormiu mal essa noite? — disse Diogo, com um falso tom de inocência.
Eu não tinha tempo nem paciência para aquele tipo de comportamento. Diogo sabia muito bem das regras. A disciplina era tudo no BOPE, e eu não ia deixar aquilo passar.
— Escuta aqui, seu merda. Se eu te pegar dormindo de novo, vai desejar nunca ter entrado nessa porra. Estamos entendidos? — rosnei, chegando bem perto dele, sentindo meu sangue ferver.
Diogo engoliu seco, seu sorriso desaparecendo.
— Sim, senhor. Não vai se repetir — respondeu ele, finalmente mostrando um pouco de seriedade.
Continuei meu caminho pelo batalhão, cumprimentando alguns soldados e verificando os preparativos para a operação do dia. Nossa missão era delicada: intervir em uma comunidade onde o tráfico de drogas tinha tomado conta. A situação estava crítica e precisávamos agir rápido.
Subir a favela é sempre um risco. E eu subia com sangue nos olhos. Não era nenhum filha da puta pra tá atrás de vagabundo de meio metro com fuzil na mão tal qual um corvo atrás de carniça. Em dia das crianças ainda por cima, o lugar varado de gente. Cada viela, cada barraco, podendo esconder uma armadilha mortal. A tensão é constante, e a adrenalina, nossa companheira inseparável. O tráfico domina a comunidade com mão de ferro, e qualquer movimento errado pode ser fatal. Quando se trata de uma invasão, a gente tem que estar preparado para tudo. Ninguém entra e sai de lá sem se envolver em confrontos violentos.
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Por Detrás Das Claras | Chay Suede e Alanis Guillen
ChickLitDra. Ana Eulália é uma médica dedicada e autônoma, que trabalha na linha de frente de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em uma região periférica do Rio de Janeiro. Sua vida é dedicada a salvar vidas e lutar contra as injustiças sociais, o que...