Por Detrás das Claras
César de Andrada Batista
Enquanto eu colocava as últimas fatias de pizza no prato, não conseguia tirar os olhos de Ana. Ela estava sentada no sofá, brincando com Manuela, e a luz suave da sala parecia destacar ainda mais a beleza natural dela. Era uma cena simples, mas carregada de uma intimidade que eu nunca imaginei que poderia compartilhar com ela de novo.
A noite tinha sido agradável até então, mas eu sabia que a qualquer momento precisaríamos conversar sobre tudo o que havia acontecido. Havia tanto que precisava ser dito, tanto que eu precisava explicar, e ao mesmo tempo, a simples ideia de mergulhar de novo em todos aqueles problemas me deixava tenso.
Finalmente, depois de alguns minutos de silêncio, sentei-me ao lado dela no sofá. Manuela estava quase dormindo em seus braços, e o olhar de Ana era sereno, mas eu podia ver a preocupação escondida por trás daqueles olhos castanhos.
— Ana, a gente precisa conversar. — Comecei, tentando manter a voz firme, mas suave.
Ela olhou para mim, e por um segundo, vi a hesitação em seu olhar. Ela sabia o que vinha a seguir, mas ao invés de se afastar, ela apenas assentiu, me dando a oportunidade de falar.
— Eu sei que eu te machuquei, e não posso mudar isso. Tudo o que aconteceu, as coisas que eu fiz... — Suspirei, procurando as palavras certas. — Eu nunca quis te afastar de mim, Ana. Eu fui impulsivo, eu agi com a cabeça quente, e me arrependo todos os dias por isso.
Ana ficou em silêncio, apenas me ouvindo. Era como se ela estivesse esperando por esse momento, esperando para ouvir o que eu tinha a dizer. Havia algo de quase doloroso em seus olhos, mas também havia compreensão.
— César, eu estou assustada com tudo isso, com a intensidade disso tudo. — Ela finalmente disse, sua voz baixa e firme. — Você é um carrapato, um grosso e me desperta os piores sentimentos, tem o poder de me deixar furiosa.— Ela soltou uma risada baixa — Mas amar você é inevitável. O que você despertou dentro de mim é imutável. É como se... fosse algo que transcende o tempo, o que eu sinto por você, por mais que tudo o que aconteceu me confunda..
Ela parou, respirando fundo antes de continuar.
— Eu ainda estou perdida nisso tudo. Tudo o que aconteceu foi tão rápido, tão intenso, que eu mal tive tempo de entender o que estava sentindo. Mas... — Ela hesitou por um segundo, olhando para Manuela em seus braços. — Eu topo a gente continuar se encontrando, mesmo que seja às escondidas, até que essa medida protetiva passe. Até que a gente consiga se ajeitar. E se eu puder continuar vendo essa fofura que é a Manuela, acho que posso aguentar qualquer coisa.
Um misto de alívio e emoção passou por mim. Não havia sido fácil ouvir suas palavras, mas a ideia de que ela ainda queria tentar, ainda queria estar comigo, era mais do que eu podia pedir.
— Ana... — Eu comecei, mas as palavras pareciam faltar. Tudo o que eu sentia por ela, tudo o que eu queria dizer, parecia pouco comparado ao que estava dentro de mim.
Ela olhou para mim de novo, e dessa vez havia um leve sorriso em seus lábios.
— Eu sei que você está tentando se explicar, César. E eu entendo. Mas o que eu preciso agora é de tempo. Tempo para processar tudo isso, para entender o que a gente realmente quer.
Assenti, respeitando o que ela dizia, mas ao mesmo tempo, não conseguia evitar o pensamento de como ela era bonita, de como cada detalhe nela me atraía. Seu corpo, perfeito em cada curva, era uma tentação constante, mas era sua alma que me deixava realmente encantado. Havia uma força nela, uma sensibilidade que eu nunca havia encontrado em outra pessoa. Uma maturidade que para sua idade era realmente um show de se ver.
E era essa combinação, esse equilíbrio entre a beleza externa e a profundidade interna, que me fazia querer agarrá-la e nunca mais soltar. Queria tê-la comigo, queria protegê-la de tudo, mas sabia que precisava respeitar o tempo e o espaço que ela precisava. Isso não significava que eu não desejasse, com todas as fibras do meu ser, estar com ela de todas as maneiras possíveis.
— Eu te respeito, Ana. — Disse finalmente, e minha voz estava carregada de sinceridade. — E eu vou te dar o tempo que você precisa. Mas só quero que você saiba que estou aqui, para o que você precisar. E que, mesmo que a gente tenha que se esconder por um tempo, estou disposto a fazer isso. Porque você vale a pena. Você e a Manuela são tudo para mim agora.
Ela sorriu de novo, e dessa vez havia algo de doce e terno em seu olhar.
— Eu também quero isso, César. Mas preciso que a gente vá devagar, que a gente entenda o que está acontecendo entre nós. E o que queremos para o futuro.
Olhei para ela, e tudo o que eu queria naquele momento era beijá-la, sentir seus lábios nos meus de novo. Mas ao invés disso, apenas me aproximei, e dei um beijo suave em sua testa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Detrás Das Claras | Chay Suede e Alanis Guillen
ChickLitDra. Ana Eulália é uma médica dedicada e autônoma, que trabalha na linha de frente de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em uma região periférica do Rio de Janeiro. Sua vida é dedicada a salvar vidas e lutar contra as injustiças sociais, o que...