Ramiro acabara de conhecer seus novos patrões, sentado em seu quartinho pequeno olhava suas mãos com certa curiosidade.
Aos vinte e oito anos possuía mãos de um velho, um velho que trabalhou a vida toda, mãos cheias de calos e machucados.
As vezes olhando no espelho se achava mais parecido com bicho que com gente, sua pele escura, barba e cabelo crespo lhe davam aspecto sujo lhe disseram uma vez, e isso Ramiro não conseguia tirar da cabeça.
Seus colegas saiam juntos pra beber e ir atrás de mulher, mas ele nunca se sentia bem. Segundo ele mulher nenhuma jamais olharia pra um bronco desse, então nem tentava.
Quando aceitou a oferta de emprego dos La Selva acabou deixando seus companheiros pra trás, agora teria que se enturmar de novo e isso o assustava um pouco, conhecer gente era sempre difícil pra ele. Mas dessa vez jurou a si mesmo que iria se esforçar mais, se os peões o chamassem pra sair ele iria.
Passou a tarde toda deitado na cama olhando a parede, não iria trabalhar nos próximos dias por ser fim de semana, começaria na segunda.
Por volta das vinte horas vieram chamar. O patrão servia almoço e janta para os funcionários, o que adiantaria muito a vida dele já que pelo menos com isso não ia se preocupar.
O jantar era servido na casa dos patrões mesmo e comiam todos juntos, peões, os filhos ele e a esposa. Ramiro acho estranho, aprendeu com a vida a não confiar em empregador nenhum, na hora de contratar são respeitosos mas basta algum erro por menor que seja pra começar as humilhações...de um de seus patrões o preto até chicotada chegou a levar.Chegando na casa dos La Selva foi recebido por um de seus filhos que veio correndo lhe cumprimentar.
- Oi, você deve ser o Ramiro né? novo aqui? - perguntou o moço bonito e cheiroso lhe estendendo a mão - eu sou Daniel, vem fica a vontade.
- Boa noite, vou só caçar um canto ai pra eu sentar, seu Daniel - apertou a mão do rapaz mas falava com cabeça baixa - prazer conhecer.
- Você é tímido? não se preocupa viu, o pessoal aqui é bem tranquilo, logo você panha amizade.
Já tinha ouvido essa palavra 'tímido' mas não lembra o que significa. Não quis perguntar, estava intimidado, sempre na presença de gente chique ficava assim, se sentindo deslocado, como se estivesse os desrespeitando apenas estando presente.
Por outro lado Daniel não se sentia desrespeitado de forma alguma, percebeu em Ramiro algo que o interessava, algo que via em poucos peões que ali chegavam, tendo certeza que o preto poderia ser um deles logo disse o que queria.
- Ramiro, a primeira janela nos fundos da casa é a do meu quarto - sorriu de lado - ela fica aberta, vem hoje perder essa timidez.
A cara do homem ficou roxa de vergonha, não sabia como reagir. Como Daniel percebeu? será que estava escrito na pele dele? será que Ramiro tinha cheiro de bicha? era tão óbvio assim?
- Eu-eu não sou disso não sinhô! - disse gaguejando.
- Não precisa ter medo, ninguém se importa...e também não vão ficar sabendo.
Ficou tão atordoado que simplesmente saiu andando deixando o moço sozinho.
- Então cê é o novo contratado? - Um rapaz alto, bonito igual o outro disse - seja bem vindo a fazendo viu? aqui nóis é família! - falou quase gritado erguendo o copo e todos responderam com um urro.
-Agradecido, patrão - estendeu a mão - Ramiro Neves.
- Caio La Selva! vem Ramiro, vou te apresentar minha mãe e irmã, acho que o Dani cê já conheceu né?
VOCÊ ESTÁ LENDO
inefável
RomanceRamiro, peão analfabeto recém chegado na cidade conhece Kelvin, garoto de programa. O sonho de Ramiro é aprender a ler e escrever para por em palavras o que tem em si. Kelvin conhece precariamente as palavras e mesmo assim é toda a ajuda que ele pr...