A Última Rainha Do Mar

☠️ Capítulo XVII ☠️

Lee Feng

Uma das melhores qualidades que Jin Zhao me ensinou foi a estratégia. Apesar dessa parte da minha inteligência ter escorrido pelo meu cérebro no momento de salvá-lo, essa habilidade parece estar bem operante no momento. Meus olhos vasculham os mapas do navio com a ideia de Thomas na cabeça atrelada a tudo que sei sobre ele e um pouco de surpresa por sua atitude. Para alguém que passou o último mês enchendo meu saco com um moralismo excêntrico e que teve que receber um tiro meu para abaixar a bola, ele parece ter mudado muito rápido. Não foi necessário nem mesmo deixá-lo a par de toda a podridão que está por trás da sua nação.

Uma parte de mim ainda sente um pé atrás sobre ele, mas a maior parte de mim apenas deixa relaxar e confiar nele. Não digo isso porque estou terrivelmente atraída por ele ou porque a forma como ele me olha me faz derreter por dentro ou porque quero desesperadamente uma noite perfeita ao seu lado, mas por que esse ruivo me cativou muito desde a primeira vez que o vi.

Quando o salvei naquela taverna, quando ele se pôs ao meu lado quando os quatro brutamontes tentaram me agarrar no navio, quando quis saber da minha história e me ouviu com atenção e gentileza. Ele exala uma aura doce que me faz suspirar por ele involuntariamente, ninguém jamais fez meu coração bater de tal forma. Thomas me fez cair em meu próprio golpe. É ridículo admitir, mas estou ridiculamente apaixonada por ele. Porém a vida não é assim tão simples e existe um plano ainda para se cumprir.

Minhas mãos passam pelo papel do meu bolso e o retiro devagar. A caligrafia do meu informante é pequena, mas seu conteúdo tem um peso enorme.

O Porto Real da Marinha é apenas um disfarce, um pano para esconder ela. Não existe um lugar exato e nem mesmo uma rota direta para tirá-la das jaulas. Eles controlam ela e consequentemente todo o poder dos oceanos, para libertá-la terá que existir um poder maior para aniquilá-los.

A mensagem chegou até mim três meses antes que eu mandasse arquitetar a entrada de Thomas na minha tripulação, mas ler essas palavras agora parece ainda mais doloroso do que foi naquela época. Magia não é algo banal, uma história que se pode ser contada para criancinhas sonharem com um conto de fadas, magia é real e não só na ideia de espécies diferentes de humanos, mas é algo vital que corre pelas veias de alguns.

Ágil e discreta rabisco uma mensagem rápida para meu informante e a coloco dentro de um dos livros da minha estante, quando ele lê-la hoje a noite saberá exatamente que devemos seguir com o plano original. O plano que vou plantar na cabeça de Thomas quando ele passar por essas portas.

A partir de agora minha real missão vai começar.

Poucos minutos depois, duas batidas soam na porta e Thomas entra sereno.

— Oi.

— Oi, bonitão. — Ele se senta, respirando fundo, parecendo  satisfeito em ter o conforto do estofado ao seu redor. A camisa com dois botões abertos me dão a visão de seu peitoral, as pernas meio abertas. Ele parece imenso, uma força da natureza enquanto se espreguiça. Engulo em seco e tento fingir normalidade. — Tudo certo com o seu turno?