Confissões de um coração danificado.

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"Sempre procuramos algo a mais na nossa vida mas muitas vezes não encontramos, as vezes sentimos falta de algo mas não sabemos o que esta faltando. Sentimentos vão e vem como ondas no mar, alguns deles machucam e outros te distraem. Todos nós temos uma forma diferente de pensar e por isso não nós aceitamos. O ser humano está quebrado por dentro e por fora e a maioria não liga ou prestam atenção, mas ainda existem pessoas que conseguem ver além mas sofrem sozinhas no escuro, sem força e sem coragem para conserta o que esta danificado."

- Eu não sei exatamente quando começou, eu só sei que quando me dei conta já esta no buraco. Eu era chamado de antissocial por alunos de um curso que eu fazia, durante meu ultimo ano no colegial eu entrei em um curso profissionalizante e lá fui adquirindo um pouco de experiência, eu me apaixonei por uma garota mas nunca tive coragem de contar,no final do curso prometemos sempre manter contato e foi assim durante muitos meses. Eu não saia de casa, minha vida era ao computador, fiz amigos virtuais e para mim isso bastava. Tive minha primeira decepção amorosa aos 18 anos e me lembro como sofri, a gente não escolhe por quem se apaixonar e ai que está o problema. Depois de um ano encontrei um grupo de amigos no meu bairro, muitos deles gostavam das mesmas coisas que eu e outros me faziam rir como ninguém mais fazia. Ficamos juntos um bom tempo mas você sabe como é a vida, tudo muda deu ma hora para outra. No final só restou três, três pessoas que considero amigos de verdade, irmãos. Minha família sempre foi muito conhecida no bairro onde moramos e era só ver alguém eu acompanhado de um estranho que a noticia chegava aos ouvidos de todos. A cada mês que passava ficávamos mais e mais próximos um do outro, a rua sempre criava mentiras e boatos sobre nós e isso repercutiu na minha família com muita força. Eu não ligava mais para o que o povo dizia, eu só queria estar com quem me fazia feliz. Eu comecei a sentir coisas, coisas que eu nunca tinha sentido na vida e com o passar do tempo eu comecei a ver também.Eu comecei a dizer aos meus amigos que não estava bem, que faltava algo e que eu precisava daquilo que faltava, eu comecei a tirar brincadeiras com eles,todos os dias eu falava que ia morrer ou que algo muito de ruim ia acontecer,eles me mandavam parar com aquilo, que não era legal, falar tais palavras para eles os machucavam muito mas eu continuava mesmo assim, diariamente. Comecei ater trocas de humor repentinas e isso complicou mais meu estado, agora eu me sentia sozinho e com um buraco no peito. Passei meses assim, era uma sensação horrível,uma hora eu ria outra eu me calava e ficava pensativo, ai vinha a tristeza e choro logo em seguida. Eu não sei como eles me aguentavam, tinha vezes que eu era tão cruel com eles, mas eles continuavam ali. A dor dominava meu corpo,passava horas sem dormir e chorava... Foi quando eu me cortei pela primeira vez.Eu vivia na internet e via fotos de meninas com os pulsos cortados, mas nunca pensei que ia fazer aquilo e terminei fazendo, quando me dei conta eu já tinha passado dos limites. Comecei a me cortar todos os dias e não eram corte pequenos, eram grandes e profundos, comecei ir além, cortava toda minha coxa mas em lugares que a bermuda escondia e assim continuei durante meses. Tentei me matar, de varias formas e nunca dava certo, eram comprimidos, cortes em veias certas, ao todo foram quatro tentativas, meus amigos enlouqueciam mais a cada dia e minha família nem percebia. Então o jeito era distrair a mente de qualquer forma, e foi o que nós fizemos, com o passar do tempo ficava mais claro que meus sentimentos por um dos meus amigos era mais que apenas carinho,com vergonha e aos prantos contei para ele, ele podia ter qualquer tipo de reação ruim mas não, ele me abraçou e disse que tudo ia ficar bem. Mesmo sentindo aquele sentimento eu guardei só para mim e continuei juntos dos meus irmãos. Cada dia que se passava eu piorava mentalmente, quando completei 20 anos arranjei um estagio e isso me ajudou a ter mais comunicação e entendimento,agora eu saia mais de casa, tinha amigos e um pouco de dinheiro, dava para eu me distrair (era o que eu pensava), o aperto no coração ainda estava lá e eu não entendi o porquê. Um mês antes de terminar o estagio eu não sei o que deu em mim e tive um surto, me cortei todo e fiquei chorando na cozinha com uma faca em mãos, eu precisava de ajuda mas não tinha coragem de pedir, sentei na porta do quarto da minha mãe e passei horas até conseguir ter um pingo de coragem e abrir, na hora a reação foi de desespero, imagina sua mãe ver você todo cortado e chorando, ela chorou muito e me perguntava o que eu tinha feito,vendo ela de tal modo voltei para meu quarto e comecei a quebrar tudo, DVDs,CDs, joguei meus livros na janela até que cai na cama chorando, ela me deu um comprimido e apaguei. Logo pela manhã todos sabiam, e ficaram preocupados com meu estado, passei dias no quarto sem querer falar ou comer, apenas chorando e dormindo, então todos foram atrás de ajuda e logo já estava me consultando com psicólogos e psiquiatras. Eu tive uma tia que trabalhava em um hospital e conseguiu tais consulta pela rede publica. Minha primeira psicóloga falou tudo que eu já sabia mas em alto e bom som, de acordo com ela eu sofria de inicio de depressão, bipolaridade, automutilação e tinha tendências suicidas, nada que eu já não soubesse. Ela queria que eu contasse, "assumisse" minha opção sexual,disse que ia me ajudar e que minha família estava preparada, ela meio que me sufocou e pedi ao meu pai para n ir mais, logo encontrei outra psicóloga. Era inicio de ano e eu queria mudar o que estava acontecendo, então entrei em uma academia, minha avó começou a pagar já que meu pai já estava cheio de despesas com remédios e alimentos. Minha tia que trabalha no hospital conseguiu também consultas com uma nutricionista, eu estava muito fora do peso e então ela me receitou uma dieta, nada barata. Graças a minha tia, minha família e amigos eu comecei a ter sinais de melhoras, ia para academia, comia bem, saia a noite, no começou não era fácil mas tive que me acostumar e gostar por que aquilo era bom para mim, sobre minha sexualidade minha família esqueceu e assim para eles eu sou hétero. Eu sempre pensei na morte e dizia que ela sempre me acompanhava,então fiz outra loucura, peguei toda minha medicação e tomei, eu lembro de pessoas na beirada da minha cama chorando e dizendo o porquê eu fiz aquilo, eu não lembro muito bem mas me trocaram e me levaram para o pronto socorro,colocaram uma sonda em mim para retirar todo medicamento, meu corpo incrivelmente aguentou mas foi nesse dia que uma coisa que aconteceu e eu nunca vou esquecer,minha mãe sentada do lado da maca chorando e pedindo desculpa, ela rezava e chorava, ver minha mãe daquele jeito foi muito pior do que sentir um cano em seu nariz até seu estomago, eu nunca vou esquecer seu rosto de desespero.Voltei para casa no dia seguinte e tudo estava mudado, facas ou objetos cortantes não estavam mais ao meu alcance, até os espelhos foram tirados e assim foi mais uma tentativa de suicídio. Na metade do ano minha tia adoeceu e descobriu que tinha leucemia, toda família desmoronou, depois de dois meses ela faleceu deixando meus dois primos menores um de 7 anos e um de 2 anos sem mãe.Foi uma queda que eu nunca vou esquecer, perder um ente querido é uma das coisas mais horríveis que existe, entrei em estado de choque, toda família estava no chão mas continuei por ela, eu lembro que ela sempre perguntava por mim no hospital, perguntava por que eu não a visitava, a resposta era simples:Eu tinha medo de ver ela naquele estado, não ia suportar. Fiz um vídeo para ela e mandei pelo celular, ainda drogada pela medicação ela me respondeu em mensagem de voz que aquilo ia passa e que ela e eu estaríamos curados logo, logo... mas não foi o que aconteceu, ela partiu e eu não tive nem a chance dizer adeus e agradecer. Comecei a odiar Deus e tudo que falavam dele, durante muito tempo fiquei com raiva da vida, quem deveria ter ido era eu e não ela, ela tinha dois filhos pequenos, a vida dela era mais importante que a minha. Passou os meses e então decidi nunca mais amar ninguém, congelei meu coração e assim me afastei dos meus amigos, meus melhores amigos. Comecei a ter fobia de carinho e toque, mesmo tendo medo eu saio de casa desafiando a vida, esperando que algo de ruim aconteça.Eu perdi minha cabeça, minha tia, meu coração, abandonei meus amigos e a cada dia que passa eu continuo mais seco por dentro e um ator por fora.

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