A casa está silenciosa...
Maya não voltou da escola para casa pois vai sair com pai pela primeira vez hoje. Esse é um momento que deveria me trazer alegria, alívio até, mas tudo o que sinto é um aperto no peito que não consigo explicar...
Por cinco anos, Maya foi só minha. Cada sorriso, cada choro, cada descoberta foi compartilhado entre nós duas. Ela era minha companheira inseparável, e a ideia de ter que "dividi-la" com outra pessoa, mesmo que esse alguém seja o pai dela, me deixa insegura...
Não que eu não queira que Paulo André faça da vida dela, longe disso. Eu sei o quanto é importante para Maya ter um pai presente, mas ainda assim, não consigo evitar essa pontada de ciúme...
Ao longo dos anos, me acostumei a ser o único mundo de Maya. Fui eu quem a acalmou nas noites em que o medo a impedia de dormir, eu quem a ensinou a andar de bicicleta, quem ouviu cada palavra das suas primeiras frases...
Agora, Paulo André surge, e Maya, com aquela pureza que só as crianças têm, já se apega a ele de uma forma que me assusta. Ela olha para ele com uma admiração que, confesso, me deixa desconfortável...
Eu me sento no sofá, tentando organizar meus pensamentos. Tento me convencer de que estou sendo irracional, que não há motivos para me sentir ameaçada...
Paulo André é o pai dela, e ela tem o direito de construir essa relação com ele. Mas, ao mesmo tempo, me pego pensando: será que ele sabe o que está fazendo? Será que ele entende o quão especial e única Maya é? Será que ele vai conseguir lidar com as exigências, as necessidades e o carinho que ela demanda?...
Eu sei que Paulo André é uma boa pessoa. No fundo, sempre soube. Mas ele errou tanto no passado, e eu tive que recolher os pedaços e reconstruir nossa vida sozinha....
Agora, vê-lo entrar na vida de Maya com essa facilidade, como se os anos de ausência não tivessem peso algum, me deixa desconcertada. Eu me pergunto se ele realmente percebe o que significa ser pai, ou se ele está apenas encantado com a ideia de ter uma filha tão adorável quanto Maya...
Levanto-me do sofá e caminho pela casa.Me pego imaginando como será daqui para frente. Será que ela vai começar a preferir passar mais tempo com o pai? Será que eu vou me tornar a segunda opção?...
Tento pensar em algo positivo. Penso Maya vai se beneficiar tanto com a presença de Paulo André. Ela finalmente terá a figura paterna que sempre mereceu, alguém para ensiná-la coisas que talvez eu não consiga...
Sento-me à mesa da cozinha e olho para o celular. Quase ligo para Nina para desabafar, mas me contenho. Ela já tem tanto com que lidar, cuidando do pai, e eu não quero sobrecarregá-la com meus problemas. Mas, ao mesmo tempo, eu me sinto tão sozinha sem minha princesa aqui ...
Pego um copo de água e tento me acalmar. Lembro-me do que Nina me disse na noite passada:
Nina: Você precisa confiar nele, Jade. Ele é o pai dela, e ele merece uma chance de provar que pode ser bom para ela.
Ela está certa, eu sei disso. Mas é difícil. Tão difícil.
Minha mente começa a vagar, e eu me pego pensando em como Paulo André e Maya estão se saindo agora. Será que ele conseguiu escolher o prato certo para ela no restaurante? Será que ele lembrou que ela não gosta de cebola no arroz? Será que ele está prestando atenção ao que ela diz, ou está distraído...
Esses pequenos detalhes, que podem parecer insignificantes para outros, são tudo para mim. São as coisas que fazem de Maya quem ela é, e eu temo que ele não as conheça bem o suficiente...
Mas então, uma vozinha dentro de mim sussurra que talvez seja hora de soltar um pouco as rédeas. Talvez seja hora de permitir que Paulo André aprenda, do jeito dele, e que Maya tenha o espaço para descobrir quem ela é ao lado do pai...
Talvez eu precise aprender a confiar, não só nele, mas também em Maya, e na nossa conexão...Ainda assim, a ideia de não ser mais a única para ela, de dividir esse papel que tenho desempenhado sozinha por tanto tempo, me assusta...
Suspiro profundamente e decido que a única coisa que posso fazer é esperar. Não há como prever como as coisas vão se desenrolar, e talvez eu precise aceitar que não tenho controle sobre tudo. Maya tem direito a essa nova relação, e eu tenho que encontrar meu lugar nisso....
Levanto-me da mesa, olhando para o relógio. O tempo parece se arrastar, mas sei que logo eles estarão de volta, e eu terei que lidar com o turbilhão de emoções que Maya trará consigo...
Só espero que, quando isso acontecer, eu esteja preparada para ser a mãe que ela precisa, mesmo que isso signifique abrir mão do controle e aceitar que, às vezes, amar também é permitir que outros amem outras pessoas...
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Mamãe tá ciúmes da neném que fofa 🥹🤏...