As ruas movimentadas de Nova Iorque não são mais um choque para mim. Cinco anos atrás, a ideia de me adaptar a essa cidade, e viver longe do Brasil, parecia impossível...
Mas hoje, enquanto caminho pelas calçadas cheias de vida e diversidade, me sinto parte desse caos organizado. É curioso como as coisas mudam, como a vida te coloca em lugares que você jamais imaginou...
Aqui, sou apenas Jade. Não a Jade Picon que o Brasil conhecia, mas uma mulher comum, que trabalha, cuida da filha e vive longe dos holofotes que um dia tanto brilharam sobre mim...
Nova Iorque é onde eu me reinventei. Trabalho como estilista, desenhando peças para marcas que admirava quando era mais nova. Irônico como as voltas que a vida dá me colocaram aqui, no centro da moda mundial, mas de forma completamente anônima...
Talvez essa seja a maior ironia da minha vida: estar onde sempre sonhei, mas sem que ninguém saiba quem realmente sou. O anonimato me deu a paz que sempre procurei, longe das críticas, dos olhares invasivos e das expectativas esmagadoras...
Minha rotina é tranquila, na medida do possível para uma mãe solteira. Maya, minha pequena, está crescendo rápido. Ela tem cinco anos agora, e a cada dia que passa, fica mais parecida com o pai...
Paulo André está presente em cada detalhe dela, desde os traços físicos até a energia vibrante que ela carrega...
Mas Maya tem a minha personalidade, teimosa e determinada, com uma curiosidade insaciável sobre o mundo. Ela é a luz da minha vida, o meu pequeno raio de sol que faz tudo valer a pena...
Cuidar de Maya é uma alegria indescritível. Ela é esperta, saudável, e enche a casa de risadas e perguntas. Sempre que me olha com aqueles olhos brilhantes, sinto uma mistura de orgulho e medo...
Medo do que o futuro pode trazer, medo das decisões que tomei e das que ainda terei que tomar. Mas acima de tudo, medo de como ela reagiria se soubesse a verdade sobre seu pai, sobre por que ele não está aqui conosco...
Tenho que admitir que penso em Paulo André mais do que gostaria. Quando saí do Brasil, deixei tudo para trás, inclusive ele. Sabia que nossa história tinha chegado ao fim, mas isso não torna as coisas mais fáceis. Ao longo desses anos, tentei seguir em frente, conheci outras pessoas, mas nunca consegui tirar Paulo completamente do meu coração. Ele foi, e ainda é, o grande amor da minha vida...
Sempre que olho para Maya, me pergunto como seria se Paulo soubesse sobre ela. Se ele a veria com os mesmos olhos de amor e orgulho que eu vejo...
Mas esse pensamento me aterroriza. E se ele a rejeitasse? E se ele não quisesse saber dela? A ideia de ver minha filha sofrer por uma possível rejeição é insuportável...
Maya conhece o pai através das histórias que eu conto, das fotos que mostro. Para ela, Paulo André é um herói distante, alguém que ela admira e ama, mesmo sem nunca ter conhecido pessoalmente. Não posso destruir essa imagem...
Nina, minha amiga e confidente, sempre está ao meu lado, me apoiando em todas as decisões. Ela me ajudou a criar Maya. Nina entende os meus medos, minhas inseguranças, e nunca me pressiona a voltar para o Brasil, mas já sugeriu algumas vezes que talvez Paulo mereça saber sobre Maya, que talvez eu poderia tentar contar pra ele novamente ,mas o medo de expor Maya a uma situação de rejeição me paralisa...
Confesso que sinto falta do Brasil, das cores, dos sabores, e, claro, dos fãs. Às vezes, quando estou sozinha, lembro dos dias em que meu rosto estava em capas de revista, em outdoors, em milhares de posts nas redes sociais. Era uma vida intensa, cheia de altos e baixos, mas havia algo de mágico em ser reconhecida, em ser amada por tantas pessoas...
Hoje, vivo uma vida mais simples, mas isso não significa que não sinto falta daquela euforia. Mas sei que voltar significaria enfrentar tudo o que deixei para trás — as pessoas, os julgamentos, e claro, Paulo André. E isso é algo para o qual ainda não me sinto preparada...
Meu trabalho me consome bastante, mas é um tipo de trabalho que eu adoro. Desenhar roupas, criar novas coleções, ver minhas ideias ganharem vida através das mãos habilidosas de outros, é gratificante...
Embora eu esteja longe dos holofotes, o fato de minhas criações serem vistas e admiradas ao redor do mundo me dá uma satisfação silenciosa. A moda sempre foi uma paixão minha, e aqui em Nova Iorque, encontrei uma forma de viver essa paixão de uma maneira que me mantém segura, longe dos olhos curiosos...
Maya está crescendo bilíngue, aprendendo português e inglês, e isso me enche de orgulho. Quero que ela conheça suas raízes...
Quando ela pergunta sobre o pai, sempre respondo com carinho, mas com cuidado. Digo a ela que ele mora no Brasil, que é um homem incrível, alguém que um dia ela pode conhecer. E ela aceita isso, com a inocência e a confiança de uma criança que acredita nas histórias que a mãe conta...
Ela está no meu escritório agora, brincando com suas bonecas, enquanto faço novos desenhos. Eu a observo de longe, e não consigo evitar o sorriso. Ela é tudo para mim, a razão pela qual eu continuo seguindo em frente...
Talvez um dia eu encontre a coragem para enfrentar o passado, para encarar Paulo e dar um pai para minha filha. Mas por enquanto, prefiro viver um dia de cada vez, aproveitando cada momento com minha filha e mantendo nossa vida pacífica e feliz...
Nina sempre me lembra de que o futuro é incerto e que às vezes as respostas que procuramos só aparecem quando estamos prontos para enfrentá-las...
E enquanto essas respostas não chegam , sigo em frente, com Maya ao meu lado, vivendo essa nova vida que construímos juntas. Nova Iorque me deu a chance de recomeçar, e por mais que às vezes a saudade do Brasil aperte, sei que fiz a escolha certa para nós duas. Aqui, somos livres. E por enquanto, essa liberdade é tudo o que preciso...
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