𝑻𝑯𝑬 𝑷𝑬𝑶𝑵𝑰𝑬𝑺 / 𝗝𝗞

𝟎𝟕.

NOVA YORK

1987

Poucos minutos depois, os Peonies sobem no palco. A energia é insana. O som das guitarras reverbera a multidão ansiosa e as luzes cegantes fazem tudo parecer um sonho lúcido. O público grita a plenos pulmões e eu posso sentir a vibração no ar, cada batida da bateria parece parte de mim. É como sentir meu próprio coração batendo forte contra o peito.

    O Madison Square Garden está lotado. É o maior show da turnê deles, Jungkook está concentrado, dando tudo de si nos vocais, mas minha cabeça ainda está longe. Estou chateada, para ser bem sincera comigo mesma. Toda essa situação é uma merda. E minha raiva triplica porque eu não estou conseguindo aproveitar um dos melhores shows que já fui na vida. Mas as palavras dele ecoavam na minha cabeça muito mais alto que o solo de guitarra que Jace está tocando.

    Jungkook canta enquanto encara a multidão. As veias do pescoço aparecem enquanto inclina a cabeça para trás, completamente absorto em sua música. Meus pensamentos são egoístas demais para externar, mas será que ele se arrepende de ter me dito aquilo? Nesse momento, aparentemente, não. Estou logo abaixo do palco, próxima o suficiente para sentir os seus olhos castanhos queimarem minha pele toda vez que ele percorre o palco. Ele é incrível, sua presença é sem igual.

    — Eles são muito bons!

    A voz de Lauren interrompe meus pensamentos e tudo o que eu consigo fazer é soltar um sorriso fraco. Não sou boa em esconder meu humor, minha frustração. E eu sei que devo estar transparecendo demais, porque minha amiga me olha feio. Aquele típico olhar que fura como facas e soa como "eu não acredito que você vai ficar mal por isso". Era o olhar que Lauren me dava quando eu me lamentava por Mason, ela odiava aquilo. Chris Cornell ainda está aqui, junto com o restante dos membros do SoundGarden, vibrando animados pelos amigos no palco.

    Uma ideia irracional, juvenil e imbecil percorre minha cabeça.

    — Nem pense em fazer isso... — A loira aperta meu braço de leve. — Se não quiser que esse estádio arda em chamas e Chris tenha todos os seus ossos quebrados.

    — O que? Eu não devo nada a ninguém aqui. — Não consigo conter um sorriso debochado. Passo por trás de Lauren e chego mais perto de Chris. — Será que a energia de vocês é tão boa quanto a deles?

    Os olhos verdes de Chris recaem sobre mim. — É difícil superar o Jungkook.

    Dou uma risadinha, mesmo sem intenção. De fato, é difícil superar isto. Esse show só é um lembrete do que a mídia vem dizendo em todos esses meses: Os Peonies são os maiorais. Os acordes da música vão cessando e minha atenção se volta para o palco. Meu coração quase para quando percebo o olhar duro do vocalista em nós dois. As pupilas de Jungkook estão negras, sua feição está fechada como nunca antes.

    Sim, isso mesmo.

    Ciúmes.

    Vermelho. Agressivo. Pulsante.

    E por mais que eu tente me convencer que isso não tem importância para mim, o meu interior aquece me lembrando que importa, sim. Me importo em ter seus olhos em mim e seu rosto fechado pronto para mandar todas essas pessoas irem se foder. Eu sei que ele está se sentindo assim.

    A multidão continua a gritar e eu tento focar em Chris, sem dar qualquer gostinho a Jungkook. O vocalista pega uma garrafa de água e bebe o conteúdo em um ou dois golpes. Então ele se aproxima de novo da beirada do palco, os gritos se tornam mais intensos, eu respiro fundo antes de encará-lo. Eu sei que ele está me desafiando, mas estou pronta, afinal, eu sei as regras desse jogo.