𝟎𝟖.

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NOVA YORK

1987

Why'd you only call me when you're high?

A adrenalina do show ainda pulsava em minhas veias, se misturando com a frustração corrosiva que me fazia ranger os dentes. O palco era o meu reino, mas quando as luzes se apagaram, tudo o que restou foi um vazio turbulento. Sai do camarim antes mesmo dos outros, com um cigarro queimando entre meus dedos e apenas a minha jaqueta de sempre. Precisava de ar e de algo forte o suficiente para calar minha mente perturbada.

As ruas de Nova York, sujas e mal iluminadas, contaminadas por letreiros neon, só evidenciaram a minha inquietação. Entrei no primeiro bar que vi, um buraco insalubre onde o som de With or Without You, do U2 se misturava ao cheiro de cigarros e álcool. Os olhares foram imediatos, mas caminhei com passos firmes até o balcão.

Duplo uísque, sem gelo. — Minha voz soou rouca, quase perdida entre o ruído resultante da péssima acústica do lugar. O bartender, robusto e grisalho, não fez qualquer pergunta. Apenas colocou o copo.

Dei um gole longo, o líquido quente queimando minha garganta. O pensamento voltou: Diana. A imagem dela ao lado de Chris, rindo, brincando. Seu rosto parecia um pesadelo que eu não conseguia me livrar, um constante lembrete da minha fraqueza. Da minha falta de controle. Porque eu permitia que ela tivesse tanto efeito sobre mim? Porque tudo parecia tomar outras proporções quando se relaciona a ela?

Você está completamente fora de si, porra! — Murmuro para mim mesmo, sentindo o peso do copo vazio na minha mão.

Alguém deveria estar me seguindo, porque em pouco tempo Jace já estava ao meu lado, sinalizando para o mesmo bartender. Meu amigo carregava uma feição que eu odiei observar de primeira, era deboche. Ele estava pronto para jogar na minha cara toda a situação de merda em que eu estava, e eu lhe daria um soco. Seria mais um capítulo na nossa amizade.

Ei, que cara é essa? O show foi foda 'pra caralho. — Deu um tapa no meu ombro.

Soltei um resmungo baixo, sem qualquer convicção, enquanto me inclinava o copo para o bartender encher novamente.

Foi, não foi? — Retruco, indiferente. — Só que isso significa porra nenhuma agora.

Jace se inclinou em minha direção, olhos atentos.

Deixa eu adivinhar... — Pôs o dedo indicador no queixo, fingindo estar pensando. Minha vontade de empurrá-lo só aumentou. — Diana?

Só a breve menção do seu nome fez o meu estômago revirar. Jace riu, percebendo que eu não ia responder sua pergunta. Meu interior apertou novamente, bebi o restante da bebida sem qualquer cerimônia. Não havia qualquer resquício de paciência para piadinhas no meu corpo.

Você é inacreditável, sabia? — Abanou a cabeça. Seu cabelo louro escapando do laço do laquê e sprays. — É só trabalho. Assim como é com a gente.

Cala a porra da boca, Jace. Antes que eu acerte um soco no meio da sua fuça. — Falo, seco e direto. O loiro se endireitou no banco, com um sorriso ainda maior.

Ei, ei! Controle sua bravura. — Bebe sua cerveja. — Só estou falando que você pode estar enxergando coisas onde não existem.

O bartender, sem perder o ritmo, enche meu copo novamente. Conto três copos duplos de uísque antes de começar a ficar zonzo, depois disso minha mente divaga sobre Jace reclamar das putas da cidade. Eu bebo rapidamente, o desespero de poder ouvir meus próprios pensamentos novamente é angustiante. O que ele quis dizer com "ver coisas onde não existem"? Isso é uma grande palhaçada.

𝑻𝑯𝑬 𝑷𝑬𝑶𝑵𝑰𝑬𝑺 / 𝗝𝗞Onde histórias criam vida. Descubra agora