˗ˏˋ 𝟬𝟯 ˎˊ˗

1.3K 114 21
                                    

✮ - 𝒜𝗅𝗅𝗂𝖼𝖾 𝒞𝖺𝗌𝗍𝗋𝗈.

Eu deveria estar me sentindo mais ridícula por ter chorado em frente a garota bonita, mas só me sinto tosca por ter dito que não queria ser sua amiga. Agora não consigo pensar em nada além de suas palavras. "Você ainda vai ser minha, Allice!". Como assim? Ninguém é de ninguém, já dizia Zibia Gasparetto.

Mas, droga, eu acho que quero ser dela.

Sua mão massageando minha cabeça era tão calma e macia, eu ficaria ali por horas. A voz calma e o sotaque engraçado me dando conselhos foi acolhedor.

O que está acontecendo comigo? Eu não quero amar ninguém de novo.

Com oito anos, eu perdi meu pai em um acidente de avião. Ele era o piloto. Naquela época, eu estava prestes a participar de um grande campeonato de patinação artística, tal qual eu trabalho profissionalmente hoje, e sou uma das mais novas e reconhecidas da carreira. Com isso, eu só descobri depois dos jogos que meu pai havia falecido, e nem consegui comemorar. Ele era a pessoa que eu mais amava, e só estive ali por ele, seus treinamentos fizeram uma grande patinadora.

Desde então, minha rotina e forma com que eu lido com tudo mudou. Passei alguns anos indo na psicóloga, mas fui transferida porque ela não conseguia me ajudar. Eu não gosto de demonstrar o que sinto, já que quando eu demonstrei, quem recebeu esse amor faleceu. Todos dizem que não foi culpa minha, mas e se eu tivesse pedido para ele ficar? E se eu tivesse demonstrado um pouco menos, ou tivesse dito que lhe amava mais vezes? Eu só me culpo por não ter dado o que ele precisava.

Depois do acidente, eu nunca mais fui a mesma. Minha família disse que eu fiquei apática e insensível a tudo o que acontece, mas essa é a minha forma de lidar com tudo. Eu quero ser amada e amar também, só não quero machucar ninguém de novo. Durante esses anos eu desaprendi a demonstrar afeto, então não conseguiria amar nem se quisesse. Fora que eu não quero comprometer ninguém a um amor difícil como o meu.

Ontem, quando apareci machucada e a vizinha me trouxe em casa, eu tinha ido fazer minha matrícula no colégio e depois conhecer um ginásio de patinação no gelo, mas cai enquanto patinava. Nada muito sério.

Agora, estou terminando de me arrumar para ir a escola.

— Pronta? — Anne aparece na porta. — E arrasando.

Assinto com a cabeça e continuo colocando meus brincos. Por fim, coloco o piercing de ouro no nariz e desço com a bolsa para a cozinha.

— Vai tomar café? — minha mãe pergunta e eu nego com a cabeça. Eu não como antes de sair pela manhã. — Ok. Vamos levar a Rayssa com a gente, tá? A mãe dela me pediu esse favor e eu não posso negar.

— Quem é Rayssa? — indago, calçando um tênis da Nike branco.

— A filha da vizinha da frente, minha filha..? — responde, em tom óbvio.

"Você ainda vai ser minha, Allice!"

— Ah, tá.

Termino de me calçar, encho minha garrafinha e saímos de casa. Cumprimento a família Leal e a garota vem com a gente no carro. No caminho eu falei poucas coisas e fiquei retocando a maquiagem não muito elaborada. Finalizei com um gloss de cor e paramos em frente ao CEBAMA.

— Boa aula, meninas. — minha mãe deseja acenando, e eu aceno de volta.

Entramos no colégio e eu já me sentia perdida.

— Qual sua sala? — ela me pergunta.

— Segundo ano D. — respondo, olhando em volta.

— Sério? É minha sala! Vem comigo. — me puxa pela mão e depois de me fazer correr sobre uns doze lances de escada, paramos em frente a sala.

Demais. - 𝗥𝗔𝗬𝗦𝗦𝗔 𝗟𝗘𝗔𝗟.Onde histórias criam vida. Descubra agora