˗ˏˋ 𝟭𝟯 ˎˊ˗

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✮ - 𝒜𝗅𝗅𝗂𝖼𝖾 𝒞𝖺𝗌𝗍𝗋𝗈.

Como uma boa - e melhor - vizinha que sou. resolvi acordar meu vizinhos mais próximos ao som de Shameless da Camila Cabello na guitarra. Uma obra de arte!

Chris era apaixonado na minha versão 'grotesca', como ele chamava. A família Leal eu já não sei, mas se não reclamaram das outras vezes é porque tão gostando. Depois de algumas músicas muito bem tocadas, eu desci para ir pra escola.

O horário passou como uma tortura, mas ao meio dia fomos liberados para casa. Resolvemos vir a pé para apresentar o caminho as novatas, já que Chris não estuda mais. Ele até se ofereceu pra vir buscar a gente de carro, mas convenhamos, ele nem sabia onde era.

Em casa, coloquei meus deveres em dia e fui estudar para as provas. Tudo está tão em cima que só medicada pra dar conta.

𝜗𝜚 - 𝗺𝗼𝗺𝗲𝗻𝘁𝘀 𝗹𝗮𝘁𝗲𝗿.

Algumas semanas se passaram, e eu passei nas provas. Os pais dos meus amigos voltaram pra inglaterra, mas como prometido, iríamos também. Nesse exato momento eu estou acordando pela madrugada pra me arrumar e sairmos até o aeroporto.

Com um conjunto moletom preto e minhas poucas malas, saí de casa em completo silêncio. Minha mãe e meu padrasto vão nos levar. Antes, deixei um beijo na testa de Lucas e uma cartinha.

No aeroporto, encontramos um lugar pra sentar e ficamos a espera do avião.

— Qualquer coisa, me liga ou manda mensagem. — minha mãe diz, me abraçando.

— Com toda certeza.

— Senhoras e senhores, o voo 194 com destino a Londres espera no portão 15. Repito...

Nos levantamos das cadeiras e nos despedimos de todos. Subimos no avião e fomos até nossas poltronas. Por serem três fileiras de cada lado, as meninas ficaram juntas e eu decidi ficar com Chris, assim não teria erro.

Coloquei os fones de ouvido e pus uma música no estilo R&B e fechei os olhos. Estava me sentindo satisfeita de comer, mas não havia comido absolutamente nada. Fechei os olhos, mas fui cutucada por Chris, ele me entrega um tapa-olho e assim uso. Deitei a cabeça em seu colo confortável e o homem ao seu lado nos olhava como se fossemos algo a ser admirado.

Longas horas tediosas se passaram, mas finalmente estávamos em meu lar. Arrumamos as malas e dormimos espalhados pela casa durante o resto do dia e a noite toda. Na manhã seguinte, eu fiz o café e tomamos em silêncio. Um nó na garganta me proibia de falar e um aperto no peito aumentava. O clima estava estranho, não me agradava, não sei.

— Vocês pretendem fazer algo hoje? — Allany pergunta, e todos começam a falar.

— Eu quero ir em uma lojinha vinte e quatro horas perto daqui. — Christian diz.

— Eu quero ir na pista de skate na praça que eu vi no caminho. — Rayssa sobressai.

— Eu te levo! — Chloe sugere a Rayssa.

Eles olham pra mim, e vejo isso pela visão periférica, pois agora já encarava minhas coxas de olhos ardendo e nariz vermelho segurando o choro. Não sei o que aconteceu, nem quando, mas estou sentindo o aperto aumentar e uma dor se intensificar a cada respirada. Lágrimas já caiam devagar, e o desespero me fazia apertar o peito e puxar a camisa. Um zumbido fino e agudo passeava por todos os cantos da minha mente e me deixava ainda mais agitada.

— Allice? — chamam, mas não consigo olhar, entrando em desespero.

— Água. — Lany se levanta correndo.

Sem pensar, sou levada para o quarto por Christian e a porta é fechada, ele abre as janelas e me senta na cama, liga o ventilador e me ajuda a tirar a camisa.

Uma crise de pânico.

O mundo parecia querer cair a qualquer momento, e minhas palavras eram limitadas. De "socorro" até "desculpa". O espaço ficava menor e iria me esmagar a qualquer segundo, por isso escondi a cabeça entre as pernas, forçando com as unhas para não focar o ambiente, mas não funcionava.

— Eu pensei que tinha parado.. — murmuro, alisando uma mão na outra para tirar o suor. — Não parou, e eu vou estragar a viagem de vocês. Me desculpa, me desculpa, por favor!

Me sento no chão, sentindo a falta de ar apertar e as lágrimas ficarem mais pesadas. Eu quero ser arracada de mim, para um corpo que não sinta a dor como eu sinto, que não veja o mundo tão danificado como eu vejo e que não tenha perdido tanto quanto eu perdi.

— Você não estragou. Ainda não acabou. — ele diz, se sentando a minha frente.

Sua calmaria me enlouquece, e agora eu puxo os cabelos na esperança de aliviar os gritos internos, que só ficavam cada vez mais altos.

— Eu não quero comprometer a experiência de vocês, então sai daqui, Christian. — peço, sem olhar em seu rosto, passando a mão pelo cabelo freneticamente. Minhas mãos tremem em um ritmo de loucura, esfregando as unhas cumpridas pela perna e deixando arranhões.

A falta de ar ficava maior, e parecia que alguém estava me impedindo de respirar, mas eu sei que isso não é ninguém além a minha própria mente. Viro o rosto para a parede e pressiono o peito com as mãos, o zumbido parecia parar por poucos segundos quando desferidos socos na minha orelha, então eu tentava isso também.

— Nunca. — levanta meu rosto para o teto, mas eu mão consigo manter.

— Tá doendo, caramba, eu vou morrer de novo, Christian... — digo, vagando com o olhar por todo ponto baixo, em pânico total.

A porta é aberta e vi Allany com um copo d'água e Rayssa atrás dela. Não tive reação alguma e chorei mais, sem controlar nada do que sentia. Eu quero morrer pra não ter que sentir nada disso nunca mais. Allany se aproxima com o copo d'água e coloca sobre a mesinha ao meu lado, saindo do quarto e puxando a garota com ela.

Eu quero minha garota aqui, comigo.

— Ray-s-ssa... — sussurro, entre soluços.

Chris levanta o rosto e corre do quarto, fala alguma coisa que eu não consigo ouvir pelo zumbido e logo sou abraçada por um corpo quente e cheiroso, tal qual eu conheci bem o perfume.

— Eu estou aqui, minha princesa...

Demais. - 𝗥𝗔𝗬𝗦𝗦𝗔 𝗟𝗘𝗔𝗟.Onde histórias criam vida. Descubra agora