Capítulo 21

173 15 5
                                    

   No Hellingly, Mary começava a despertar de seu sono profundo. Levantou-se rapidamente como quem prevê-se algo ruim; dirigiu-se até a porta, girou a maçaneta gelada e a porta não abriu. Soltou o cepilho e empunhou-o novamente com velocidade e girou em um simples gesto e novamente a porta insistia em não abrir. Sem alternativa, Mary resolveu procurar em sua bolsa a chave. Voltou até a cama e vasculhou uma bolsa que estava sobre ela, após instantes agonizantes de procura nada encontrou. Poderia ela esmurrar a porta, mas dificilmente alguém escutaria; talvez o mais prudente, pensou ela, fosse esperar alguém sentir a sua falta, quem sabe Santiago poderia ser essa pessoa... Porém para que o rapaz fosse realmente essa pessoa, ele precisaria sair vivo do Instituto...

   Após a pergunta de Santiago, David ficou perplexo, não esperava uma pergunta daquele tipo, visto que para ele encontrar uma pessoa degolada deve ser algo natural.

   — Santiago, acalme-se! — Ordenou David colocando a mão esquerda sobre o ombro de Santiago.

   — Acalmar-se? — Perguntou Santiago com um tom de voz surpreso. — Creio que o senhor não está tendo a noção real do problema! — Prosseguiu o rapaz afastando-se em direção a saída da sala.

   David sorriu delicadamente como sempre fazia em situações do tipo. Colocou as duas mãos no bolso e fez um acesso com a cabeça dando um sinal para o homem com capuz; que sem hesitar agarrou Santiago e o jogou no chão sob uma poça de sangue escuro onde algumas moscas rondavam próximo ao corpo de Jerry que já começava a ficar rígido e gelado como um iceberg.

   — Meu nobre Santiago, parece que o senhor está com um pouquinho de medo? — Indagou David que sem deixar o rapaz mover um músculo da face continuou: — Não parece ser o mesmo homem que costuma ser gentil com Mary. Agora o senhor está parecendo ela e eu estou parecendo o senhor.  — David aproximou-se de Santiago e agachou enquanto continuava sorrindo.

   O rapaz amedrontado sentado em uma poça de sangue, tendo como única companhia confiável um cadáver, abriu a boca para tentar dizer algo...

   — Consigo ouvir Jerry gritando com o pescoço degolado do que você Santiago que ainda possui seu pescoço no lugar. Vamos, diga alguma coisa. — David olhou fixamente para Santiago e via no fundo dos olhos do rapaz o temor. Santiago suava frio como nunca antes, o medo exalava pelos poros de seu corpo como o suor exala do corpo de um atleta.

   — Até tu...

   — Brutos! Brutos! Brutos! — Gritou David interrompendo o rapaz. — Até tu Brutos?! Você acha que eu não li Julio César? Essa frase é mais batida do que aquele bife fedorento que servem vez ou outra no Prato de Arroz Santiago! Essa frase não é a mais adequada para o que está acontecendo aqui! Não somos amigos!

   David andava de um lado para o outro da sala, com as mãos no bolso e o blazer alinhado. No canto da sala, próximo à porta, o homem de capuz estava estático, com as mãos para trás e corpo totalmente ereto, como se fosse uma espécie de subordinado de David; seu olhar era firme, sempre para frente e com a respiração lenta.

    — Naquela porta existem algumas geladeiras. Prepare uma agora; a menor que tiver! — Ordenou o médico ao homem.

   — O que vai fazer? — Indagou Santiago.

   — Resolveu falar agora? — O médico retirou o bisturi do bolso da calça e sentou na beirada da maca metálica próximo a um corpo que estava repousado sobre ela; corpo este que era examinado por Jerry antes de ser morto. — Conhece esse homem? — Indagou indicando o corpo do médico morto próximo de Santiago.

   — Não! Não sei quem é esse homem senhor David. — Respondeu rapidamente Santiago mordendo os lábios.

   — Não minta para mim senhor Santiago, isso pode lhe render uma demissão por justa causa! — Disse David rindo alto. — Não se preocupe Santi, não irei demitir você! Mas pode ser franco com seu chefe, você conhece esse homem?

A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now