Diários de uma Apotecária (Kusuriya no Hitorigoto) Light Novel 4

O Exército Marcha

Vamos voltar um pouco no tempo.

Jinshi estava em uma carruagem que balançava e sacudia, sentado em frente a um homem com um olhar azedo no rosto. Mas talvez 'carruagem' não fosse bem a palavra certa. Puxada por nada menos que dez cavalos, esta era mais uma casa sobre rodas. O chão estava coberto com pele de animal e havia uma mesa no meio da cabine.

Lakan, um homem conhecido por seu sorriso implacável, agora estava olhando para um mapa com evidente aborrecimento. Atrás dele, seu filho adotivo estudava as expressões de Lakan e Jinshi enquanto colocava um recibo nas dobras de seu manto. Este homem, Lahan, era a segunda pessoa mais pão-dura que Jinshi já conhecera depois da madame da Casa Verdigris — mas, nesta ocasião, ele estava mais do que feliz em reconhecer que Lahan havia salvado seu pescoço.

Ele sentiu que poderia ser atacado a qualquer momento. A intervenção do eunuco Luomen acalmou com sucesso a ira de Lakan, mas ela ainda ardia. Atrás de Jinshi, Gaoshun estava preparado para sacar a espada embainhada em seu quadril a qualquer momento. Esse era o tipo de represália que alguém arriscava receber ao levantar a mão contra Jinshi, mas no momento Lakan provavelmente não se importava. Jinshi suspeitava que o homem ficaria feliz em pular em cima dele e espancá-lo até deixá-lo desmaiado.

O estrategista estava preocupado. Lahan, no entanto, estava demostrando ter um bom controle sobre ele. "Pai, pergunto puramente hipoteticamente, mas se um homem cometesse alguma violência a um membro da família imperial, o crime não recairia sobre ele sozinho, certo?" Era uma pergunta indireta, certamente, mas foi o suficiente para impedir Lakan de fazer algo precipitado.

Atacar Jinshi seria o fim da família de uma pessoa. Nem mesmo a filha de Lakan, Maomao, seria poupada. Lakan não era fácil de enganar e ele sabia exatamente quem era Jinshi — foi por isso que ele pediu que o belo eunuco mobilizasse o exército. Ele suspeitava que Lahan também tivesse adivinhado a verdade. Por quê? Quando Jinshi lhe perguntou, recebeu a resposta mais típica de um membro do clã La: "Porque sua altura, peso, peitoral e tronco são todos exatamente o mesmo número. Pessoas assim são muito, muito raras." Como sempre, a maneira de Lahan ver as coisas era mais ou menos incompreensível para os outros. "O senhor é terrivelmente adorável. É uma pena que não tenha nascido mulher." Ele acrescentou. Isso rendeu arrepios a Jinshi. É verdade, o primo de Maomao parecia e agia muito como ela, mas, infelizmente, Jinshi não tendia para esse lado.

Ainda assim, ele sabia reconhecer talento quando o via e, por isso, obteve permissão especial para que esse oficial civil o acompanhasse nessa expedição militar. Hoje, Jinshi não era o eunuco Jinshi. Seu cabelo estava preso por um hashi de cabelo prateado, e ele não usava sua roupa preta usual de oficial, mas uma armadura e um capacete roxo-azulado, com forro de algodão grosso.

"Espero que ele consiga distinguir vitória e derrota melhor do que nós conseguimos distinguir se ele é homem ou mulher." Esse era Lakan. Ele estava certo sobre uma coisa: havia chegado a hora de Jinshi trocar sua pele de eunuco. Eles estavam liderando um exército e tentando coordenar vários planos ao mesmo tempo.

"Tem certeza disso?" Jinshi perguntou.

"Não haverá problemas." Lahan lhe garantiu.

O mapa diante deles mostrava uma fortaleza com montanhas ao fundo. O mapa era mais antigo, já que a fortaleza não era usada há algum tempo, mas eles encontraram soldados que já estiveram em serviço naquele lugar para atualizá-los e garantir que as informações fossem as mais precisas possíveis. Lahan acreditava que armas de fogo estavam sendo produzidas naquela fortaleza. Os limites do norte tinham madeira em abundância. Muitos desejavam desesperadamente controlar o lugar na esperança de capitalizar seus recursos madeireiros, mas o clã Shi o defendeu bravamente. Haviam fontes termais nas proximidades também; um lugar excelente para se encontrar enxofre. Mas havia mais um ingrediente que seria necessário para criar pólvora.