ALL TO WELL - 01

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 CAPÍTULO UMdezembro, 2023

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CAPÍTULO UM
dezembro, 2023

Assim que o avião aterriza sinto vontade de chorar. Ou talvez correr muito e pegar o próximo vôo de volta para minha casa. Mas não tem mais nada lá.
É irônico, porque um dia a minha casa já foi o Brasil, mas... Não é mais. E fazem dez anos.

Acabo não fazendo nenhuma das coisas, nem choro, nem corro e nem vou embora. Vou caminhando pelo aeroporto com as minhas malas, me sentindo igual a Maria Alice de dezoito anos chegando em Milão; deslocada, perdida.
Reconheço meus pais com facilidade. Eles estão de costas, conversando com meu irmão mais novo. Ele me vê primeiro, porque está alto igual um poste e meus pais não conseguem tampar a visão dele.

O João Pedro diz alguma coisa pra eles, que viram e imediatamente começam a chorar. Os dois.
Sei que esses últimos anos não foram fáceis. Por sorte, as vezes a carreira de modelo me fazia viajar até o Brasil e assim eu podia vê-los. Mas no restante do tempo, as chamadas de vídeo se fizeram bem mais presentes do que eu pude.

Não me culpo, acho que eles também não. Mas ver eles chorando copiosamente só porque eu estou de volta me causa um aperto no peito.
Corro na direção deles. Abraço meu pai, o famoso "Lindo de Maresias" — o nome dele é Arlindo e, por ter nascido, crescido e formado família em Maresias, ficou conhecido assim —. Depois abraço minha mãe, dona "Júlia do Lindo". O Jopê tá um pouco mais tímido atrás deles.

Quando eu fui embora do Brasil, ele tinha seis anos. Agora tem dezesseis. Não fiz parte dos momentos mais importantes da vida dele até aqui, e isso sim me dói muito. Então quando ele me abraça, como se sentisse muita falta de mim, eu desabo.
Ele tem o dobro do meu tamanho agora. O cabelo é como o meu, castanho com rajados dourados do contato com o sol. A pele tem as mesmas sardas que um dia eu já tive — agora são bem menos aparentes —, de quem passa muito tempo na praia. E ele tem cheiro de parafina, mar. Não dá pra negar que é um obcecado por Surf, como eu também já fui.

Senti sua falta, mana. -ele diz. A voz tá mais rouquinha e sei que está segurando o choro. — Eles também, então tenta ser mais carinhosa. -sussurra essa parte, me confidenciando o pedido. Eu suspiro. Sei que carinho e afeto não são meu forte. Eu amo eles, é claro. Mas desenvolvi um certo bloqueio com demonstrações.

TIMELESS | Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora