Gabriel e Maria Alice se conhecem desde a infância. Foram criados juntos, estudaram na mesma escola, começaram no surf na mesma época e assistiram cada fase da vida um do outro... Isso até - depois de três anos de uma paixão adolescente -, Maria Al...
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CAPÍTULO QUATORZE janeiro, 2024.
Hoje é aniversário do João Pedro. Já fazem cinco dias desde que voltei pra Maresias, mas vi o Gabriel só hoje pela manhã e bem rápido. A pré-temporada já começou e ele passa bastante tempo treinando, além de que eu precisava resolver umas coisas na capital — e uma delas era começar minha terapia —, algo que tem tomado bastante do meu tempo também. E o tempo que passamos juntos na viagem foi mais que o suficiente pra eu ficar com overdose de Medina. Tá, infelizmente não é verdade, mas estou tentando me convencer disso.
Outro motivo pra gente não se ver era o fato de que eu estava horrorizada com a ideia de falar abertamente para os meus pais que eu e o Gabriel estamos tendo algo depois de dez anos de um ódio mortal que podia muito bem ter separado nossas famílias. E tudo bem que eu já sou muito dona de mim, mas ainda é complicado.
Só que, agora, sabendo que vamos estar todos juntos no aniversário do Jopê, fico arrependida de já não ter contado. A chance de ser desastroso é muito grande. Fora que eu me sinto uma traidora toda vez que meu irmão fica me olhando como se soubesse de todos os meus crimes. E eu nem cometi nenhum crime, pelo menos não ainda.
— Mali, qual eu uso? -ele aparece na ponta da escada. Eu levanto rapidamente a minha cabeça, antes focada no notebook, pra analisar as duas camisetas verde lima que são absolutamente iguais na minha opinião. — Acho que gosto mais dessa. -ele ergue o cabide da mão esquerda.
— Não sei. -eu respondo, ajeitando uma mecha do cabelo que fugiu da presilha. — Elas não são iguais?
Ele me encara incrédulo por uns quinze segundos. — Tá de sacanagem? -ergue uma sobrancelha. Fica igualzinho minha mãe. — Essa aqui tem um recorte totalmente diferente. Eu achei que você sabia de moda!
— E eu sei. -cruzo os braços. — Mas elas realmente parecem iguais. -ele nega com a cabeça, ainda desacreditado. Eu dou uma risadinha com a cena. — Você vai ficar bem em qualquer uma. -jogo um beijo na sua direção.
Meu irmão parece prestes a responder quando alguém entra pela porta. Meu pai e minha mãe estão no restaurante uma hora dessas, então a reação calorosa do meu irmão só pode ser justificada de uma forma... O Gabriel passa pela entrada da cozinha e meu irmão corre até ele como um cachorro corre pra o dono. Eu assisto a cena em silêncio, ainda me acostumando com todo esse amor pelo surfista.
