BACK TO DECEMBER - 10

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CAPÍTULO DEZ31 de dezembro, 2023por Gabriel Medina

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CAPÍTULO DEZ
31 de dezembro, 2023
por Gabriel Medina

Sabe aquele frio na barriga tão forte que faz a gente sentir vontade de se curvar? Ou que nos dá a sensação de que vamos desmaiar a qualquer momento... Eu tô assim.

Infelizmente não tem nada a ver com o clima quente em Pernambuco, e tem tudo a ver com a Maria Alice. Honestamente, tá' sendo pior do que eu imaginei que seria quando vi ela dentro do carro.
Claro que eu pensei que iam ser dias difíceis, principalmente depois daquela última conversa e tudo que aconteceu por causa dela mas... Porra. Isso aqui tá quase insustentável.

É o último dia do ano, eu deveria estar na melhor vibe pra curtir a passagem mas não dá. Não quando eu tô' vendo ela o dia inteiro na mesma casa. Tenho 30 anos e fico me sentindo um adolescente que não consegue organizar os próprios pensamentos. Tudo fica branco quando a Mali aparece. Não sei se estou indiferente, se estou com raiva, se estou triste... Perco todas as convicções.

Apareceu mais uma galera aqui e tenho certeza que a virada vai ser maneira, mas nem nisso consigo pensar direito. Realmente não tem muita coisa passando na minha cabeça agora que não envolva ela.
Queria falar com ela sobre a nossa conversa, sobre a conversa dela com os pais, e ao mesmo tempo não queria nunca mais precisar falar com ela. É bizarro.

Estamos todos sentados, meu amigo tá' tocando violão e cantando enquanto a gente toma cerveja. Tá' tudo muito legal, mas parece que nossos olhares se cruzam de cinco em cinco segundos e é como um soco no estômago. Eu tento não olhar na direção dela mas quando percebo já estou olhando de novo. Tipo um ímã.

Tenho certeza que nenhum de nós está aguentando mais e decido fazer o favor de dar uma volta. Falo que vou na cozinha beber água, mas na verdade queria ir pra cozinha e me esconder em algum lugar por lá.

Fico um tempo marolando, bebo a água do copo com a maior calma do mundo. Mas ela se esvai quando eu ouço passos e sei que é ela antes mesmo de ouvir a voz.

Gabriel? -chama. Eu demoro um pouco pra virar, me preparando pra seja lá o tipo de conversa que vamos ter.

— E aí. -respondo. Ela parece receosa. Tamborila os dedos no outro lado do balcão e não deixa o olhar fixo em mim.

— Desculpa se você tá desconfortável por minha causa. -diz.

— Não estou. -respondo. É mentira, estou sim.

— Eu não tô aqui... -ela pausa, parecendo buscar palavras. — Tipo, não é proposital. Eu realmente não sabia.

— Eu sei, Mali. -afirmo. — Não considerei isso nem por um minuto, relaxa.

Até porque eu sei que ela fugiria de mim como o diabo da cruz se pudesse.

— Aproveitando que você tá de boa comigo... -ela diz, dando uma risadinha. Soa meio inocente, mas com certeza de inocente não tem nada. — A gente pode falar rapidinho?

— Pode. -dei de ombros, meio incerto. Ela fez uma cara surpresa, como se estivesse esperando uma resposta negativa. Talvez ela merecesse, mas não consigo.

Eu não sei como fazer isso. -ela riu fraco, parecendo sem jeito. Encarei ela curioso, mas não disse nada. Era uma surpresa a Mali ficar sem palavras, ela sempre foi bem direta.

— Fica de boa. —incentivei. Ela suspirou pesado lá do outro lado.

— Eu vou começar pedindo desculpa. Eu sei tudo o que eu possivelmente causei, mesmo sem querer, quando eu fui embora. Sei que todo mundo te culpou. -disse. — E eu sei que você merecia algo muito melhor. Merecia que eu tivesse ido embora de um jeito menos... Egoísta. E toda vez que eu olho nos seus olhos eu juro que se pudesse voltar no tempo, eu mudaria isso. Faria tudo diferente. -ela olha pra cima, fungando um pouquinho pra evitar chorar.

Eu engulo em seco, atordoado. Eu quis muito ouvir esse pedido de desculpas, mas agora que estou ouvindo quero abraçar ela e dizer que ela não precisa pedir, porque eu já perdoei no mesmo momento em que vi ela na praia dias atrás.

Eu perdi muito tempo, muita coisa e... Eu me arrependo, Gabriel. Demais. -volta a falar. — E eu só quero que você saiba que toda vez que eu te afasto não é... Não é sobre você. É sobre mim, sobre as coisas que eu não consigo lidar. E eu quero tentar mudar as coisas agora, mas eu só vou conseguir se a gente tentar ser amigo. -diz. — Só amigo. E se você não quiser, você tá no seu direito. Era isso. -conclui.

— Alice... -eu começo, inseguro do que dizer. — Não vou mentir. Eu tô' chateado. Eu esperava que todo esse tempo tivesse mudado alguma coisa, esperava que você tivesse de boa como eu, querendo deixar o passado no passado. Mas foi totalmente o contrário desde a nossa primeira conversa. Mesmo assim a gente se envolveu de novo e sendo errado ou sendo certo, foi verdadeiro. -digo, engolindo em seco mais uma vez. — E eu quero que a gente fique bem, pela história que a gente viveu e pela nossa família também...

Amigos, então? -ela sorri minimamente.

Amigos, dona Mali. -concordo. Ela assente com a cabeça e começa a se afastar, mas para e volta a me olhar.

Obrigada. -ela diz. — Por ter feito por mim o que eu não conseguia fazer mas precisava muito. Obrigada, Gabriel.

Ela se vira e sai antes que eu possa responder, mas queria poder dizer que eu faria outras mil vezes. Mesmo chateado, mesmo com raiva, eu faria muita coisa pela Mali.
Porque ela é... A Maria Alice. E eu sou o Gabriel. É simples assim.

 É simples assim

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curtinho só pra preparar o terreno pra o que vem por aí nessa grande amizade 🤩🤭

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curtinho só pra preparar o terreno pra o que vem por aí nessa grande amizade 🤩🤭

TIMELESS | Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora