Capítulo 1

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Eu não conseguia acreditar no que a vida me deu, tinha apenas quatro meses sobrando antes do orfanato me mandar embora por completar dezoito anos. Perdi noites de sono pensando no desastre de futuro que estava por vir, mas os Cuthbert conseguiram me salvar de qualquer mal.

Pelo menos eu espero que seja melhor, ainda não os conheci e já que sou quase maior de idade as coisas jurídicas foram bem mais fáceis. Coloco minha mochila no ombro assim que o condutor anuncia a parada que me indicaram a descer.

Me falaram que meu novo lar era no segundo andar de um prédio de esquina, onde o térreo ocupa uma cafeteria de bairro. Ou seja, não foi difícil encontrar o lugar, afinal Avonlea não é uma cidade grande, tem menos de vinte mil habitantes de acordo com o Google. Abro a porta da cafeteria e o som de um sininho toca, ninguém parece me notar ou se importar com a minha presença.

Não seria a primeira vez.

Vou até o balcão e espero que alguém apareça, não demora muito para que um garoto de cabelos pretos e olhos castanhos apareça com um sorriso simpático.

-Desculpe a demora, moça. Como posso ajudar?

-Estou procurando os Cuthberts. Pensei em subir para o segundo andar direto, mas achei que poderiam me achar uma intrometida.

O garoto levanta as sobrancelhas e vira a cabeça confuro.

-Certo, vou chamar o Matthew. Já volto.

Ele sai por uma porta de vaivém me deixando sozinha, aproveito a espera para analisar o lugar. É bem mais rústico do que eu imaginava, as únicas cores presentes são o branco e os diferentes tons de madeira que cercam a mobília, os únicos clientes são dois casais de idosos e um segundo garçom que conversa com eles.

Pouco tempo depois o garoto de antes volta acompanhado de um senhor de cabelos acinzentados e olhos azuis como o céu, o mesmo parece relutante em conversar comigo, mas não recuo e o ofereço a mão para um cumprimento.

-Olá senhor Matthew, tudo bem? Meu nome é Anne Shirley, os Cuthberts me adotaram anteontem.

Matthew me dá um aperto fraco e quando diz as primeiras palavras mal as consigo ouvir.

-Isso só pode ser um engano, não adotamos nenhuma garota.

Sinto um vento frio cercar o coração, me fazendo inconcientemente murchar.

-Mas senhor, tenho certeza que está tudo certo, tenho até o documento de adoção!

No mesmo instante o desespero me invade e me ajoelho no chão para abrir minha mochila. Assim que recebi o documento usei meus últimos trocados para comprar uma pasta, sem querer danificar um papel tão importante para a minha vida. Por isso facilmente o encontro, me levanto no mesmo instante e a entrego para o senhor.

-Está vendo? A senhora Marilla Cuthbert me adotou, ela assinou aqui.

Mathew pega os óculos de leitura pendurados na camisa e lê a assinatura autêntica, essa pouca interação extressante parece o ter desgastado de mais pela reação que tem.

-Certo, então venha menina.

-Meu nome é Anne, com "E".

-Certo. Venha. Vamos falar com Marilla.

O garçom levanta a tábua do balcão que serve de divisor de cômodos e entro na mesma hora, receosa apenas da possibilidade de ser mandada de volta para o orfanato. Pior do que esperar o despacho em quatro meses é ser adotada e devolvida na mesma semana, não me surpreenderia se eles me mandassem para fora mesmo ainda tendo dezessete anos.

Passamos pelas portas de vaivém, é uma cozinha pequena e no fim dela tem uma escada de madeira antiga. Sigo o senhor sem exitar.

-Não pode me mandar embora, senhor! Por favor!

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