Capítulo 11

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Os olhos de Gilbert estão arregalados quando os volta para mim, depois de ver o teste no chão.

— Você tá grávida?

Faço uma careta.

— É claro que não.

Quero me abaixar para esconder o teste, mas Gilbert está tão próximo que isso parece impossível.

— Diana?

Não respondo; não cabe a mim falar nada. Em algumas situações, o silêncio também é uma resposta. Vejo seus ombros relaxarem à medida que a informação se instala em sua mente. Ele abre a boca, provavelmente para perguntar mais alguma coisa que eu não tenho o direito de responder, mas sou salva por Cole.

Ele puxa o ombro de Gilbert para trás e se abaixa para pegar o teste aos meus pés.

— Deveríamos ter cuidado melhor com isso — comenta, antes de colocar o teste no bolso do shorts. Então, olha para Gilbert. — Não conte para Jerry.

— Ele precisa saber — diz Gilbert, confuso.

— E é Diana que vai contar.

Gilbert concorda com a cabeça.

Nesse instante, Jerry e Diana voltam para a sala. Ela segura uma trouxinha sob os olhos, provavelmente recheada de gelo.

— Quando quiser me contar o que aconteceu, pode ter certeza de que vou escutar — diz Jerry.

— Já disse que não foi nada — Diana responde, apoiando o pano de prato com gelo na mesa, parecendo irritada.

Jerry se volta para ela, pega o pano e coloca sob os olhos dela com cuidado.

— Você odeia chorar na frente dos outros. É melhor colocar o gelo por mais tempo.

— Obrigada.

Jerry bufa.

— Fico triste que não queira me contar o que está acontecendo, mas vou aceitar isso.

Ele se dirige ao corredor e entra no banheiro.

Tanto eu quanto Gilbert e Cole observamos tudo como se fosse um filme, mas, no momento em que Diana faz menção de voltar a chorar, voltamos à realidade.

Nós a abraçamos e, quando Diana percebe a presença de Gilbert, se afasta.

— Vocês contaram para ele?

— Esquecemos o teste na sala e ele viu — justifica Cole.

Diana se senta no sofá, bem ao lado do meu travesseiro.

— Por favor, não comente nada com o Jerry. Preciso de um tempo para pensar antes de contar para ele.

— Não vou falar nada.

Ela bufa.

— Não posso ir para a aula hoje. Vou tentar digerir tudo isso e pensar em como resolver.

Me sento ao seu lado.

— Eu não tenho nada além das minhas palavras e companhia para oferecer, Diana. Mas estou aqui para o que precisar e vou apoiar o que você decidir.

— Eu também — diz Cole.

Gilbert concorda.

— Obrigada. Agora acho melhor vocês irem, ou vão se atrasar para a aula.

— Estou de carro, levo vocês.

— Preciso buscar minhas coisas — digo.

— Tudo bem, vou trazer o carro aqui para a frente.

Antes de sair do apartamento, dou um abraço apertado em Diana.

Quando entro na cafeteria, o único caminho para o apartamento dos Cuthberts, vejo Marilla em pé, vestindo um avental branco e conversando com a senhora Rachel.

— Anne! — ela me chama, parecendo preocupada assim que me vê.

— Bom dia — digo para as duas.

— Como a Diana está?

— Melhor.

— Ah, que bom. Mais tarde vou levar um pouco de sopa para ela. Você não deveria estar na escola?

— Só vim pegar minha mochila.

— Certo. Boa aula.

Coloco os livros e cadernos dentro da minha mochila velha, a mesma que trouxe minhas roupas quando vim para cá, e não posso evitar a pontada de decepção que sinto com isso.

Assim que piso na calçada novamente, vejo um único carro parado ali, e sei que é o de Gilbert. Não entendo muito de carros, mas ao me sentar no banco traseiro ao lado de Cole, percebo que é o mais confortável que já estive, não que eu tenha andado em muitos.

Gilbert não move o carro, apenas ajeita o espelho para olhar para nós dois e diz:

— Não sou motorista de ninguém.

— Vai lá, Anne.

— Onde?

— Sentar no banco da frente.

— É sério que você se importa com o banco do carona estar vazio? — olho para Gilbert pelo espelho.

— Eu não sou Uber.

— Tá.

Bufo e me sento no banco do carona, colocando a mochila velha no colo. Gilbert nota a mochila esfarrapada, e acho que consigo ler seus sentimentos: vergonha.

Seguimos o resto do caminho em silêncio, com apenas o som do celular de Cole, que assiste TikTok, preenchendo o ambiente.

— Qual sua primeira aula? — Cole me pergunta quando entramos na avenida da escola.

— Artes, eu acho.

— A minha também.

Gilbert estaciona o carro na única vaga restante do estacionamento. A aula começou há quinze minutos e não há uma única pessoa na rua.

— Obrigada pela carona — digo rápido, abrindo a porta para sair.

— Anne! — Gilbert me chama antes que eu feche a porta.

Olho para ele.

— Sinto muito pela mochila. De verdade.

Dizer que está tudo bem e que a mochila é apenas um objeto substituível seria uma mentira. Aquela mochila era muito importante para mim, meu primeiro presente. Então apenas o encaro, com o rosto mais inexpressivo que consigo fazer, e digo:

— Tá.

E fecho a porta.


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