Capítulo 10

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Naquela mesma noite alguém liga no apartamneto pelo interfone. Cole vai atender porque estou deitada na cama com Diana deitada nos meus braços.

Cole e ela podem ser muito mais próximos do que nós duas, mas na última hora consegui entender porque Diana me pediu para vir aqui hoje. Sou uma mulher e Cole não. Talvez seja sua única amiga mulher no momento.

- Disse para Marilla que Diana passou mal e estamos ajudando. Ela queria chamar um médico, mas eu disse que estava tudo sobre controle.

Ele se deita novamente, do lado esquerdo de Diana.

O rosto dela enruga novamente e tanto Cole como eu já a estamos abraçando novamente quando chora pela milionésima vez.

- Mal conseguimos nos sustentar - funga. - Como podemos lidar com uma criança?

- Os Cuthberts, eles...

Diana o interrompe.

- Eles já nos ajudam mais do que deveriam, a cafeteria está quebrada. Jerry querendo ou não tem um trabalho de fachada e o que eu ganho mal cobre a conta de água.

Ela se afunda ainda mais no choro.

Fico tensa. Não quero pensar nisso. Tenho certeza que serei a primeira a ser mandada embora de Green Gables e esse não é o melhor momento para tocarmos nesse assunto.

Nas horas que se passam Cole e eu conseguimos fazer com que Diana vista um pijama e tome um copo de leite. Acho que ela tinha certeza de que não estava grávida e não se preparou para a possibilidade de estar errada.

Cole está deitado na cama com seu shorts dos Simpsons e roncando, enquanto Diana dorme abraçada ao próprio corpo e de rosto vermelho pelo choro.

Essa cama não foi feita para três pessoas e aceito isso quando alguém se move e causa a minha queda. Busquei um pijama horas atrás e levei meus livros, obviamente precisei explicar para Marília o que estava acontecendo.

Não sou boa com mentiras, então não sei se a convenci.

Pego o travesseiro e ando em direção ao sofá de dois lugares da sala, provavelmente será a superfície mais desconfortável que deitei, mas isso não importa, não quero que se passe nem por um segundo na cabeça de Diana que eu a deixei só.

(...)

Acordo com o som da porta de entrada sendo aberta, hoje é sexta-feira e quase imploro para Deus que acelere o tempo, mal consigo mover o ombro de tanta dor.

Segundos depois de me sentar Jerry e Gilbert surgem da cozinha, os dois vestindo roupas simples mas limpas.

- Bom dia. - Jerry diz antes de colocar o molho de chaves na mesa.

- Bom dia. - Respondo.

- Achei que vocês fariam uma festa do pijama ou algo do tipo. - Diz Gilbert depois de analisar o meu pijama. - Só não entendi a parte da festa.

Jerry já havia entrado no quarto onde Diana e Cole estavam quando eu lembro do teste de gravidez em cima do aparador da TV.

Arregalo os olhos e movo a cabeça por instinto, para ter certeza de que ele ainda está ali. O meu movimento repentino chama a atenção de Gilbert, que gira os olhos para onde estou encarando.

Quase pulo do sofá, ignorando as dores, para pegar o teste e esconder.

- O que é isso? - Gilbert pergunta se aproximando aos poucos.

No mesmo instando Jerry aparece seguido de Diana, que tem os olhos inchados e rosto vermelho. Resquícios da noite anterior.

- Não posso te ajudar se não sei o que você tem, Di! - ele diz, parecendo frustrado quando entra na cozinha.

- Não é nada, é sério. - ela responde fungando.

O apartamento é tão pequeno que mesmo da sala conseguimos escutar a discussão claramente. Não sei como Gilbert consegue dormir aqui, mesmo que uma vez ou outra.

- É um teste de gravidez? - ele sussurra.

Minhas mãos ainda agarram com firmeza o teste atrás das costas, mas ele parece ainda mais pesado quando Gilbert fala dele.

- Não. É um marca-texto. - digo imediatamente.

Ele evidentemente não acredita em mim e tenta pegar o teste das minhas mãos, ando para trás desviando de suas mãos até que encosto na parede, amassando a cortina com o corpo.

- Então por que você precisa tanto esconder?

- Não é da sua conta, Gilbert Blythe!

Pelo sorriso que ele dá é óbvio que ele vê a situação como uma oportunidade para uma brincadeira idiota, porque tenta com afinco colocar as mãos entre as minhas costas e a parede.

Sinto que uma lembrança ruim virá a tona, mas antes que ela se aloje na minha mente Gilbert me dá um cutucão na cintura que me faz cócegas.

A risada que dou o incentiva a continuar e aos poucos sinto o teste deslizar sobre os meus dedos.

A questão agora deixou de ser o que eu estava escondendo e se tornou uma provocação de Gilbert, tentando ser legal da forma mais idiota possível.

- Queria um namorado.

Escuto a voz de Cole próxima, mas não tenho tempo de entender a situação antes que o teste de gravidez caia das minhas mãos com um clack na madeira.

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