Para a minha raiva logo depois do café da manhã mais gostoso da minha vida, por ser o mais fresco que a fazenda pode oferecer, segundo Gilbert. Matthew diz que vai nos levar diretamente para a escola.
Nenhuma das roupas velhas de Marilla que estavam em Green Gables couberam em mim e fui forçada a usar a mesma camisa larga e calça moletom suja emprestadas de Bash, além de que a minha mochila estava inutilizável no momento e terei que levar todos nas mãos, pelo menos por hoje.
-Não se preocupe com as roupas, Anne. Pedi que Diana pegasse uma muda de roupas para você antes de ir para a escola. -Matthew tenta me confortar.
Acontece que essa não é a minha maior preocupação, estar usando roupas de outra pessoa, só tenho medo de isso ser uma gatiho para o bullying. Não sei se aguentaria tudo de novo.
-Obrigada pela carona. -Gilbert diz antes de descer do carro.
Empurro o encosto do banco do passageiro para sair, mas preciso de alguns segundos para pensar no melhor movimento de impulso sem derrubar os livros das mãos.
-Eu seguro para você sair. -Gilbert diz, parado ao lado da porta.
O olho com uma carranca e me impulciono para frente. Por pouco não caio para trás quando meus pés tocam a calçada, mas Gilbert me segura.
-De nada. -ele diz puxando a pilha de livros das minhas mãos quando me desvencilio dele.
-Obrigada pela carona, Matthew. -digo, ignorando o outro.
Quando Matthew sai com o carro percebo como a nossa chegada chamou atenção, sempre imaginei que qualquer coisa nova em uma cidade pequena fosse motivo de conversa. Só não imaginei que fosse literalmente qualquer coisa.
-Te vejo na aula. -ele sai com minhas coisas em mãos.
Por sorte não precisei encarar os olhares julgadores sobre mim por muito tempo porque Diana estava ao lado da porta de entrada com uma pequena mochila em mãos.
Ela me olha de cima a baixo analisando as roupas, para depois se virar para Gilbert, que já estava atravessando o corredor principal.
-É sério que ele te deu essas roupas para ficar na fazenda?
Faço uma careta.
-Está tão ruim?
Ela balança a cabeça, como se espantace pensamentos. Ainda tem muitas pessoas olhando para mim.
-Peguei uma calcinha também, perguntei se você se importaria comigo mexendo nas suas gavetas, mas ele me falou para pegar tudo o que você precisasse.
-Obrigada.
-Vou te levar para o vestiário para tomar um banho.
Diana entrelaça nossos braços, provavelmente notando meu desconforto e tentando me prestar apoio. Em cada corredor que entramos sinto pelo menos uma pessoa me analisando e quando chegamos no vestiário feminino sinto o rosot vermelho por segurar as lágrimas.
Diana me empurra para dentro de uma cabine e rapidamente desmancha a trouxinha, pendurando meu vestido verde no gancho da porta junto com as roupas íntimas. Em seguida, ela me entrega um sabonete em barra ainda lacrado e uma toalha da escola, antes de fechar a porta ao sair.
Tiro a roupa suja e a apoiona porta, deixando metade dela para fora graças a presença de um único gancho. Ligo o chuveiro e para a minha surpresa a água está morna, exatamente como eu preciso.
Menos de cinco minutos depois, quando finalmente sinto os músculos relaxarem, a porta que junta o vestiário com o corredor é aberta bruscamente e as roupas sujas são arrancadas com força da porta.
-Essa cadela! -Escuto uma voz vagamente familiar.
Logo em seguida consigo escutar soluços de choro. Imediatamente estou me enxugando e me vestindo para ver o que está acontecendo.
-Do que você tá falando, Josie? -Escuto Diana falar indignada.
-Olhe o estado de Ruby! Você ainda vai ficar do lado dessa órfãzinha podre?
Quando abro a porta da cabine vejo duas loiras que nunca tinha visto antes. Enquanto uma chora baixinho sentada no banco que cruza todo o meio do vestiário, a outra segura as roupas sujas de Bash como se fossem provas de um crime violento.
-Para de ser maluca! -Diana diz e arranca as roupas das mãos da garota.
Pela lógica do que ouvi antes imagino que aquela que me olha com seja a Josie, e a coitada no banco Ruby.
-Você não tem vergonha, garota? -Josie rosna para mim.
-Não sei do que vocês estão falando, mas definitivamente é um engano.
-Você não fez nada de errado, Anne! Ruby que é uma maluca! Agora vamos embora.
-Desde que começou a sair com aquele pé rapado você mudou, Diana. Não consigo acre-
Antes que Josie termine a frase Diana está com a palma da mão em movimento e bem mirada no rosto da garota.
Olho para Ruby, que na mesma hora começa a chorar de forma ainda mais intensa, como se tivesse sido ela a levar o golpe.
-Eu já te disse, Josie Pye, que se falasse do meu namorado assim de novo eu não ficaria calada. Então é bom ficar quieta se não quiser que eu dê mais do que um só tapa!
Diana segura meu braço e me arrasta para fora do vestiário, deixando apenas a incredulidade de Josie e as lágrimas de Ruby para trás.
-Posso saber está acontecendo?
Diana bufa, tentando recuperar a calma, e me entrega o emaranhado de roupas.
-Ruby é apaixonada por Gilbert desde pequena e jura que vai casar com ele. Ela deve ter se sentido traída quando te viu chegando com as roupas dele.
-Roupas dele?
-Sim, bem que eu estranhei quando você falou de Bash. Não conte para ele, mas Bash não é bom com moda.
Esfrego as mãos no rosto.
-Gilbert e ela estão namorando e ele não respeita ela. É isso o que está tentando me dizer?
Diana arqueia as sobrancelhas em surpresa.
-Nunca. Gilbert provavelmente nem sabe dessa paixão de Ruby, ele não é a pessoa mais alerta sobre essas coisas.
-Então fui chamada de cadela sem motivos?
Diana sorri sem graça.
-Tipo isso.
Bufo frustrada e na mesma hora o sinal toca.
-Nos encontramos no intervalo.
Graças a Gilbert não tenho meus horários em mãos, mas imagino que a aula seja de Biologia já que ele disse que me encontrava na aula.
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Espresso Avonlea
FanfictionQuando Anne Shirley chega à pequena cidade de Avonlea, sua esperança de um novo começo é abalada por um engano administrativo que ameaça mandar sua vida de volta para o fundo do poço. Tudo isso com apenas meses antes de completar dezoito anos. Adota...