Quando entro na sala de aula, alguns minutos depois, Billy não está lá. Uma parte de mim quer gritar comigo mesma por me permitir ceder, por me permitir sentir alívio. Talvez a Anne de treze anos teria gritado com ele, teria levado uma surra mas não aceitaria ser tratada assim, mas aquela versão de mim nunca imaginaria sequer parar na casa dos Thomas.
Quando Cole me vê, tento rapidamente ajustar minha expressão. A última coisa que preciso agora é mais confusão. Essa adaptação já está sendo difícil o suficiente.
— Encontrou? — ele pergunta, seus olhos atentos, mas com um sorriso que tenta suavizar a tensão.
— Sim — respondo, forçando um sorriso e tentando mudar meu foco para a ideia da luminária. — Você sabe cortar madeira?
— Sei sim — ele responde com naturalidade. — Meu pai é marceneiro. Mas vou perguntar à professora se posso fazer isso aqui. Não acho que vá fazer muita sujeira.
— Ótimo.
Cole se levanta, mas antes de ir, desliza o desenho que fez para mim sobre a mesa.
— Dá uma olhada. Se precisar mudar alguma coisa, posso alterar.
Ele se vira e sai, e eu fico ali, com o desenho nas mãos. No entanto, não consigo evitar o impulso de lançar um olhar na direção de Josie, que está na bancada ao lado. Ela não está mais desenhando. Agora, segura dois fios elétricos nas mãos, seus dedos brincando com eles de maneira quase distraída. Quando percebe meu olhar, tenta forçar a atenção de volta para o projeto, mas eu vejo o movimento, o esforço.
Não duvido que ela saiba o que Billy fez e esteja cedenta por me encontrar machucada.
Tiro minha mente desses pensamentos e me volto para o desenho. Está exatamente como eu imaginei. Cole entendeu a mensagem.
— E então? — ele pergunta, voltando a se sentar ao meu lado, com uma expressão expectante.
— Ficou perfeito — digo, genuinamente. — Eu adorei.
— Que bom — ele sorri, aliviado. — A professora deixou eu entalhar a madeira aqui, então você pode cuidar da parte elétrica e da pintura. Eu até pintaria, mas não vou fazer quase tudo sozinho.
Sorrio de volta, mais aliviada agora que estamos alinhados.
— Tudo bem, eu cuido disso.
Cole pega um par de óculos de proteção de algum lugar na mesa e coloca-os no rosto, com um movimento concentrado.
— Os fios estão em uma das gavetas — ele diz, já se preparando para começar seu trabalho.
Abro a primeira gaveta, que fica na bancada, e encontro tudo o que provavelmente precisarei para construir a luminária, incluindo uma lâmpada. Nunca mexi com eletricidade, mas não acho que Cole pense o contrário. No entanto, se for pensar assim, a única coisa que realmente sei fazer direito nesse projeto é imaginar.
Cole tira um papel do bolso traseiro do jeans e me entrega.
— Quase esqueci, é o passo a passo da parte elétrica que a professora entregou enquanto você estava lá fora. Não parece muito difícil, mas tome cuidado na hora de testar na tomada.
— Obrigada.
Abro o papel e encontro algo digno da Wikihow, ou seja, vago demais. Provavelmente, eles tiveram aulas de elétrica durante o ensino médio e isso seja apenas um trabalhinho para a maioria, mas para mim isso é meio desesperador.
PASSO 1: Remover um pouco da cobertura das duas pontas dos fios com uma tesoura.
Faço o que o manual pede, até chegar na parte de juntar os fios da luminária com a entrada da tomada. Mesmo que não seja muito diferente do resto, minha cabeça insiste que, se eu errar agora, posso explodir a tomada.
Mesmo com medo, sigo as instruções. Quando termino a parte elétrica, olho para Cole, na esperança de que ele possa testar comigo na tomada do outro lado da sala, onde outros alunos se reúnem em fila para testar os projetos. Ele já fez três das cinco pétalas, todas muito bonitas.
Ele me percebe observando e levanta a cabeça, me olhando.
— Vai testar?
— Sim, mas não queria ir sozinha.
— Não temos tempo para que dois de nós fiquem sem fazer nada. Já é perder muito tempo ficar naquela fila.
Sussurro:
— Estou com medo de explodir a tomada.
Ele sorri, achando graça.
— Isso não vai acontecer. Você teria que ter errado muito feio nisso aí para que explodisse ou pegasse fogo em qualquer coisa. E ele parece normal para mim.
— Certo.
Com um suspiro, me levanto e caminho até a fila da tomada. Não é nada demais, mas a sensação de nervosismo ainda está lá. Tento não pensar muito no que pode acontecer, só no que preciso fazer. Cole já está focado nas pétalas novamente. Ele me dá um olhar, mas continua trabalhando.
Chego até a tomada e, com as mãos levemente trêmulas, encaixo o fio da luminária. Não acontece nada, o que me faz dar um passo para trás, esperando algum sinal.
Respiro fundo e olho para Cole. Ele me observa com interesse, e vem na minha direção quando percebe que as pessoas na fila atrás de mim estão impacientes.
— Funcionou? — ele pergunta.
— Não sei... Acho que sim — respondo, com um pouco de hesitação, olhando para a lâmpada. — Não deveria acender agora?
Ele dá um passo à frente e, com um sorriso rápido, ajusta o fio, que estava um pouco solto. Quando ele conecta novamente, a lâmpada acende.
— Agora sim — ele diz, satisfeito.
Eu dou um pequeno suspiro de alívio, mas ainda fico um pouco surpresa com o simples fato de funcionar. A tensão vai diminuindo aos poucos.
— Achei que ia dar algum problema — confesso, sorrindo de leve.
— Não ia explodir nada, relaxa. Eu não falei?
Olho para a luminária acesa, sentindo uma pequena satisfação por ter conseguido. Não foi tão complicado quanto eu pensei, mas, ainda assim, me sinto mais aliviada do que genuinamente feliz.
— Acho que a parte elétrica está resolvida — digo, tentando mudar o foco para o que vem a seguir.
Cole acena com a cabeça e volta para seu projeto, já avançando mais na parte dele. Eu, por outro lado, me concentro nos fios e na pintura que ainda tenho pela frente.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Espresso Avonlea
FanfictionQuando Anne Shirley chega à pequena cidade de Avonlea, sua esperança de um novo começo é abalada por um engano administrativo que ameaça mandar sua vida de volta para o fundo do poço. Tudo isso com apenas meses antes de completar dezoito anos. Adota...