Eduarda Hippler
Os músculos de todo o meu corpo estavam travados e tudo ficou em silêncio. Minha mente vagou em todos os momentos em que Sofia citou sobre Matteo e nas várias vezes que eu incentivei ela a continuar.
Um tempo antes ela pediu para eu nunca esconder nada dela, mas eu estava sendo sufocada pelos meus próprios pensamentos. Eu estava parada frente dos dois, com os braços retos e em silêncio. Eu gostaria de ter desparecido nesse exato momento.
"Quero que me conte tudo. Não importa o quão difícil seja."
—Duda? Você está bem? Está pálida como se fosse desmaiar. —Sofia diz vindo para perto de mim.
—Só estou um pouco zonza, deve ser pela bebida. —falo devagar e baixo. Como eu contaria isso para ela?
—Então você é a famosa Eduarda? Sofi fala muito de você, estava ansioso para te conhecer. —escuto a voz do Matteo pela primeira vez, isso não está sendo boa coisa.
—Gostaria de dizer o mesmo, mas não vai ser possível. —ele arregala os olhos, então percebo que falei alto demais. —Digo no sentido de ser famosa, desculpa.
Minha fala sai mais ríspida do que eu gostaria, mas eles parecem não perceber. Se antes eu já estava péssima por Sofia estar com alguém, agora estou devastada. Eu vou contar sobre tudo que vi, isso é óbvio.
Mas como eu vou fazer isso?
—Tudo certo, não tem problema. —ele fala sendo simpático. —Senta aqui perto da gente, vamos comer alguma coisa.
Como se ele não tivesse acabado de comer uma vagabunda.
Eu fico em silêncio e sorrio forçado. Matteo parecia prestar olhando apenas para o seu exterior, mas ele estava enganando a Sofia como se ela fosse qualquer uma. A cada palavra que ele diz o meu estômago revira e todas as coisas que eu vi passam pela minha cabeça.
Os meninos aparentemente gostaram dele e isso é péssimo. Eu precisava acabar com isso, mas cada vez piorava. Parece ser fácil chegar e falar qualquer coisa, mas quando você pensa no impacto que isso tudo vai causar, tudo te deixa no chão e sem ter para onde ir.
Enquanto todos conversavam entre si, eu intercalava o meu olhar para o celular e para Sofia. Ela sorria às vezes e demontrava estar amando essa interação do seu "namorado" e seus amigos. Quem não estava gostando nada disso sou eu, e chegou em um ponto que era totalmente perceptível. Eu fuzilava Matteo com o olhar e desviava antes que ele me olhasse de novo.—Doarda, certo? —olho para ele sem fazer muita questão e concordo. —Pedi uma porção com camarão e salmão para a gente.
—Agradeço, mas eu não como qualquer coisa, diferente de você. —ele me encara estranho como se tivesse entendido o que quis dizer. —É que eu sou vegetariana, então nada relacionado a comer animais para mim.
—Certo, desculpa.
—Não precisa pedir desculpas para mim, não tinha como você saber. —forço o máximo de simpatia possível e resolvo me levantar. —Eu estou com a cabeça um pouco pesada, vou no banheiro rapidinho. —pego minha bolsa e meu celular me retirando de perto de todos.
—Duda, me espera eu vou com você. —Sofi se levanta e Matteo deixa um selar de lábios na boca dela. Eu não consigo, minha vontade é acertar a cabeça dele em uma rocha pontiaguda na beira da praia.
Começamos a caminhar em direção ao banheiro em silêncio. Eu estava a ponto entrar em colapso enquanto ela sorria abertamente. Coitada, mal sabia ela. Entramos dentro do espaço e eu fico me encarando no espelho enquanto Sofia retoca sua maquiagem.
—Sofi, se eu te contasse alguma coisa super séria você confiaria em mim?
—Claro que eu confiaria. É sobre o Matteo? Olha eu sei que talvez você não tenha gostado dele, mas ele me faz tão bem assim como você. —ela me encara através do espelho.
—Não é sobre ele. Mas o que você faria se alguém importante quebrasse sua confiança? —falo pausadamente ainda olhando para ela.
—Depende do que a pessoa fez e do quanto participa da minha vida. —ela dá de ombros e pega o hidratante labial da sua bolsa enquanto eu observo ela com atenção. —Você não queria me contar alguma coisa? Está estranha e muito quieta. —diz enquanto vira o seu corpo de frente para mim.
—É só que eu gosto muito de uma pessoa, e eu acabei descobrindo uma coisa que pode deixar ela péssima. Só queria te perguntar porque eu não sei o que fazer. —suspiro encarando as minhas mãos apoiadas na pia.
—Mas quanto que você gosta dessa pessoa? —guarda o hidratante e coloca dentro da bolsa.
—Eu sou completamente apaixonada por ela, Sofi. E agora eu me sinto péssima porquê eu não consigo contar. —ela me encara em silêncio e me puxa para perto rodeando os seus braços em mim.
—Você está apaixonada por alguma pessoa e não me contou nada? —ela diz baixo e eu apenas suspiro.
—Não quero te encher com as minhas coisas. Mas eu juro que não sei o que fazer. —falo quase em um sussurro sentido o meu coração acelerar.
—Pelo que eu vi você não quer me contar, mas eu acredito que você tinha que ser verdadeira com essa pessoa, antes que a situação piore.
Quando Sofia pronuncia essas palavras os meus olhos se enchem de lágrimas e eu resolvo retribuir o abraço. Ela me olha sem entender, então apenas permanecemos abraçadas de lado e em silêncio. Eu queria tirar esse peso das minhas costas, mas pela primeira vez eu vi Sofia com expectativa em alguém e eu não queria ser a primeira a estragar. Então começo a chorar silenciosamente ainda com o corpo abraçado ao dela e novamente me vejo frágil e vulnerável.
Ela estava tentando me ajudar enquanto eu estava ocultando algo que a deixaria péssima. Eu simplesmente prometo algo que não consigo cumprir e quando decido mudar eu apenas choro.Que tipo de pessoa eu sou?
—Eu nunca sei o que fazer quando as pessoas choram perto de mim. —ela diz baixo e sorri de leve.
—Você não precisa se preocupar com isso. —limpo meu rosto e me desvencilho dela. —Desculpa, eu sei que você não gosta de contato físico.
—Você é uma exceção. —ela sorri e segura a minha mão.
—Eu sou uma péssima exceção então. —puxo o ar com força. —Não queria atrapalhar sua noite, pode voltar para ficar com seu namorado.
—Ele não é meu namorado. E se você não estiver bem, não vou te deixar para ficar com ele. —segura em meu queixo como se estivesse sendo a maior verdade dita por ela.
Isso não iria durar tanto, mas por agora eu não conseguiria. Ela merece ser feliz, mas não de um jeito que a destrua por dentro.
—Você pode voltar para lá, preciso ficar sozinha por um tempo. Eu vou voltar para a casa e descansar.
—Eu volto com você, eu nem queria vir antes lembra?— segura minha mão mais forte.
—Mas você estava se divertindo. Por favor, eu não vou ficar tranquila sabendo que você deixou de aproveitar por minha culpa. —olho para ela ainda com os olhos úmidos e vermelhos.
—Tudo bem. Mas não vou demorar muito, não quero te deixar sozinha.
Ajeito meu cabelo e tento parecer mais calma antes de sair. Lavo meu rosto e seco minhas mãos em um daqueles papéis que geralmente ficam pendurados. Sofia permanece em silêncio apenas me esperando no canto. Eu sorrio de leve e faço um sinal para sairmos de lá. Ela tenta insistir para ir embora comigo, mas faço um acordo de ela apenas me levar até a porta da casa de praia.
Antes de retornar para o luau, Sofi me puxa para um abraço e deixa um beijo rápido em minha bochecha esquerda. Ela se vira de costas para voltar, mas eu chamo suavemente seu nome.—Sofi, mesmo que ações futuras mudem seu jeito de pensar, queria dizer que você é muito importante para mim e eu nunca vou deixar ninguém te fazer mal. Eu te amo, muito mesmo.
Apenas me viro e fecho a porta. Ela não se virou para olhar para mim, mas sei que ela ouviu e espero que não duvide disso pelas minha próximas ações.
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Entre sonhos e realidades - Soarda
FanficEntre risos, confidências e desafios emocionais, as duas exploram o que significa amar e ser livre em um mundo que muitas vezes parece sufocante. Enquanto Doarda se confronta com seus medos e desejos, ela descobre novas facetas de si mesma e do amor...