Capítulo 7 - Azure

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— Acalmem-se, rapazes, com foco vocês conseguirão.

   Foco.

— Azure? Está tudo bem? — Ela veio perguntar justo para a minha pessoa? Não seria melhor, focar em quem não domina o Baco ainda?

— Olá, dona Nistram. Sim, apenas estou descansando.

— Não está cansado. Azure, trabalho com Athena a muitos anos, sou a oráculo de Athena, sabedoria também é uma de minhas bênçãos. Porque não diz o que se passa?

— Nistram, deixe-me tentar, ok? Juro que consigo.

— Então tente.

   Sim, ela é uma senhora muito sábia.

— Não se esqueça de manter o foco.

   Foco.

— Manterei.

   "— Mantenha o foco, fracote! Na sua idade eu já fazia o meu Áres!

— Realmente, um verme. Nem sei como consegue ser nosso irmão. Nós não queremos você aqui, seu lixo! Quando conseguir um atributo novo, vem falar com a gente!

— Parem de ser maus comigo, eu nunca pedi nada, o que custa me deixar participar?

— Você precisa de dois atributos pra participar, e precisa saber manipular Baco.

— Eu vou aprender, juro! Kep, Magal, deixem eu entrar. — Eu implorava tanto, por tão pouco. Apenas atenção... Pena que fraternidade é algo que desconhecem.

— Quando aprender e se tornar alguém forte, aí sim poderá entrar, mas por enquanto, fique de fora da nossa festa. Comerá o que sobrar, prometemos."

   Foco, que coisa irritante. Tão chato quanto o passado e as lembranças que guardo.

— Nistram.

— Diga, Azure. — Responde assim que a chamo.

— Você tem irmãos?

— Não, sou filha única.

— Se tivesse irmãos, e eles te machucassem, como você tentaria lidar com isso?

— Ignorando. Não iria valer a pena me estressar... E se eles tentassem me machucar justamente por estarem machucados? Ou cegos pela raiva? Ou pela tristeza? Ou ciúmes?

— Não faz sentido. Nada justifica você maltratar um irmão.

— De fato. Mas eu também não poderia tomar decisões precipitadas ou então condená-los para sempre por isso. Tem algumas coisas que simplesmente acontecem. Faz parte. Brigas e desentendimentos. Algum de seus irmãos te machucou?

— Não... Era apenas uma situação hipotética.

— Entendido. Agora tente, continue adiante com seu treinamento.

— Sim, Nistram. Deixe comigo.

...

   E então, o dia de hoje foi cansativo. Já se passaram muitas horas.

   Estranho... Não devia ter um campo de peonias por aqui?

— Noite, não é? — A voz me soa familiar. — Ah, e se estiver se perguntando "onde estão as peonias?!",  eu tomei a liberdade de cortar todas pela raiz e colocá-las num cesto... Peón havia me pedido esse favor após eu matar um de seus cervos enquanto caçava.

— Quem está ai? — Digo, virando lentamente o meu olhar para a escuridão atrás de mim.

— Calma. Sou só eu, Azure. — Ela havia vindo novamente, como o prometido na lua Quarto Crescente.

— Ah, sim. — Estava a espreita na escuridão como quem fosse me caçar. — Boa noite... Não devia estar descansando?

— Passei literalmente a tarde toda descansando, depois fui caçar junto a algumas de minhas damas... Foi aí que abati um dos cervos de Peón, que estava vagando no campo. — Diz ela, chegando mais perto e permitindo que eu vislumbre seus olhos, que possuíam um brilho único. — Você parece... Um pouco desolado. O que houve? Alguém te deixou bem pensativo...

— Pois é... Hoje teve treinamento de Baco.

— Isso não é motivo o suficiente. Não é tão difícil.

— Mas foi... Não estava conseguindo manter o foco no fil.

— O que estava te desviando a atenção, meu jovem?

— O passado... Eu me recordei de alguns momentos ruins com meus irmãos... Rejeição e também ignorância.

— Ah, sim. Dizem que os três príncipes de Momo são fortes, mas dentre eles, tem aquele que possui apenas um atributo, e os demais o rejeitam.

— Bobagem. Como se os atributos fossem algo que definisse como devemos ser tratados.

— Sabe que para os deuses... Isso é um requisito quando se trata de poder e respeito, não?

— Claro... Sei disso.

— Enfim... Tenta só não focar tanto no que já foi. — Diz ela, enquanto desliza suavemente seu dedo indicador sobre minha face.

— Não tem como.

— Tem sim. Foque no agora, Azure. Bem, até mais... Tenho alguns afazeres pendentes... Até a próxima lua.

— Até, Ártemis. — Digo, enquanto a vejo se afastar aos poucos.

— Será na minguante gibosa, te espero em seu santuário.

— Estarei lá.

   Vejo ela desaparecer na noite como uma pantera, sorrateira e demasiadamente rápida. Mas a pergunta que fica é...

— Quem vai me dar outro campo de peonias? Demorei meses para plantá-las. Peón já não possui um campo próprio?

— Azure? Está falando sozinho?

— Ah, perdão Áclis... Estava pensando alto demais.

— Venha, entre. Vamos jantar.

— Kep e Magal já chegaram?

— Dormirão em outro lugar essa lua. — Áclis não se importava tanto com o horário, nem com onde dormíamos.

— Entendi... E como foi o dia aqui no santuário?

— Tranquilo... Na verdade, estive ausente o dia todo, Anaque ficou aqui e cuidou de tudo.

— Entendi. E como ela está?

   Anaque. A minha mãe. Representação de tudo o que é inevitável, do início, ao fim.

— A Ananque? Ah, ela está bem. Aquele machucadinho não era nada.

   Eu e Áclis entramos para o santuário, todos jantamos e em seguida fomos descansar, eu, minha mãe, os sacerdotes e meu pai.

   Já Áclis ficou acordada, como o de costume... Porém parecia mais apreensiva do que o normal... Como eu não queria incomodá-la, decidi ignorar e dormir.

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