Capítulo sete

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07. A Festividade no Farol

(Escutem a música para uma melhor experiência)

A chuva ainda não cessava, e Cristian se aquecia nas cobertas do meu quarto, enquanto o temporal desabava do lado de fora.

Eu secava meu cabelo, observando a chuva através da janela. O céu era iluminado por trovões, e uma única luz vinha de longe, do farol. As casas, que não passavam de sombras na escuridão, pareciam adormecidas sob o som constante da tempestade. A cada relâmpago, as ruas desertas se revelavam por um instante, antes de serem engolidas novamente pela escuridão. O farol, com sua luz solitária, era o único sinal de vida naquela noite silenciosa, como se guardasse segredos que só a chuva conhecia.

Sentei-me na cama, me aconchegando nos travesseiros, e meus olhos encontraram os de Cristian, que me encarava com uma expressão confusa. Meu coração acelerou, e minhas bochechas queimaram de vergonha.

Cristian riu da minha expressão, enquanto eu cobria o rosto com as mãos.

- Não faz isso - ele disse, tirando minha mão do meu rosto vermelho.

- Tá rindo de mim, não é?

- Não, isso é bem fofo - um sorriso meigo se formou em seus lábios.

Nossos olhos se cruzaram, e um vento forte abriu a janela com uma precisão que me fez sentir um arrepio na espinha. O vento trouxe consigo um cartaz com o anúncio de uma banda. A data era recente, e parecia que o vento trouxe o cartaz como uma nova pista na investigação.

Cristian fechou a janela, enquanto eu segurava o cartaz, que não estava úmido nem molhado, o que me causou uma sensação estranha.

- Que estranho - eu disse, confusa.

Cristian se aproximou e, com uma expressão intrigada, apontou:

- Essa não é a localização do farol? - seu dedo indicava o local destacado no papel.

- Sim... parece que eles vão se apresentar lá - completei, intrigada. - Mas, como isso é possível? O farol está abandonado.

Aquele clima não me agradava, e de alguma forma, eu sabia que algo nada bom estava por vir.

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E então, o inverno chegou, e com ele, as investigações esfriaram. As mãos quentes de Liz agora pareciam um pouco mais geladas, e, embora o gelo cobrisse tudo ao nosso redor, meu anseio por descobrir a verdade permanecia aceso.

As antigas paredes do farol haviam mudado. O prédio, que antes era apenas uma sombra do passado, agora trazia uma nova vida às ruas cobertas de neve.

Lemos cada pedaço do anúncio do show, e, com a data se aproximando, pude sentir calafrios como nunca havia sentido antes. De repente, o que mais me preocupava era a permissão de William, que já havia se manifestado contra tudo isso.

Minhas conversas com ele foram inúteis, e, mesmo assim, nem pude revidar. Ele tinha um poder sobre mim que eu não conseguia controlar, e nenhum dos meus planos parecia eficaz naquele momento. Droga.

- Nós vamos sair rápido, você nem vai perceber que saímos - meu sussurro saiu carregado de incerteza, mas o que mais me deixava em alerta era o olhar implacável de William, que penetrava como uma lâmina fria.

- Liz não vai a lugar algum, Cristian - ele afirmou, sem levantar a voz, mas com uma convicção que me prendeu ao chão. - Se eu souber que tentaram sair... você sabe o que pode acontecer.

A última semana foi marcada por falsas esperanças de que William deixaria Liz sair desta vez, como eu consegui convencê-lo das outras vezes.

Então, a única alternativa que restou foi quebrar sua regra. Não seria a primeira vez, e com certeza não seria a última.

Na noite do show, Liz desceu pela treliça de sua janela e subiu na garupa da minha bicicleta. Dei partida, e quando senti seus braços ao redor da minha cintura, meu coração começou a bater mais rápido, impulsionado pela adrenalina.

- Eu não acredito que estamos fazendo isso de novo - ela disse, com a voz baixa, quase como um sussurro, que se perdeu no vento da noite.

A escuridão da estrada era iluminada apenas pelos faróis da bicicleta, e o som dos pneus deslizando sobre o asfalto molhado ecoava na quietude da madrugada. O farol, nosso destino final, brilhava ao longe, um lembrete constante do risco que estávamos correndo. Mas, naquele momento, nada mais importava além da liberdade que sentíamos.

- Você confia em mim? - perguntei, sentindo a tensão crescer à medida que nos aproximávamos.

- Sempre - ela respondeu sem hesitação, apertando mais forte seus braços ao meu redor.

O vento cortava nossos rostos, e eu sabia que não havia volta. William podia ser implacável, mas naquele instante, éramos apenas nós contra o mundo, correndo em direção ao desconhecido.

Finalmente, avistamos o farol. A música já ecoava à distância, misturando-se com o som das ondas quebrando nas rochas abaixo. As luzes piscavam em ritmo com as batidas da música, transformando o farol em um espetáculo de cores e sons.

Parei a bicicleta a uma certa distância, e Liz desceu rapidamente, seus olhos brilhando com a excitação e o medo da transgressão.

- Estamos prontos? - perguntei, tentando esconder a incerteza em minha voz.

- Estamos - ela me olhou determinada, como se soubesse que essa noite mudaria tudo.

Juntos, começamos a caminhar em direção ao farol, conscientes de que estávamos prestes a cruzar uma linha sem retorno. E, no fundo, ambos sabíamos que, apesar das ameaças de William, essa era uma aventura que precisávamos viver, custasse o que custasse.

Maré De Amor (Em Criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora