capítulo oito

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08  A festividade no farol ---
Parte dois

(Escutem a música para uma melhor experiência)

Chegamos ao terreno úmido pela chuva que havia caído na semana anterior. O som dos instrumentos e a empolgação do público me deixavam ainda mais eufórico. Assim que entramos, meus olhos rapidamente buscaram algo familiar, mas o que encontrei fez meu coração afundar. Lá, no centro das atenções, estava Vicent, tocando sua guitarra como se fosse uma extensão dele.

Um sentimento pesado tomou conta de mim, um misto de frustração e algo que eu não sabia desvendar. Era difícil admitir, mas cada nota que ele arrancava do instrumento parecia uma provocação, como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo. O público o adorava, e Liz estava ali, com os olhos fixos nele, completamente encantada.

Tentei desviar o olhar, me concentrar em qualquer outra coisa, mas não conseguia. O sorriso confiante de Vicent, o jeito como ele dominava o palco... tudo isso me incomodava de uma maneira que eu não esperava. Sentia que, de alguma forma, ele estava roubando algo que era meu. E a ideia de perder para ele, mesmo que fosse só a atenção de Liz, era insuportável.

Não pude evitar desviar o olhar enquanto bufava, algo que chamou a atenção de Liz, que não deixou passar despercebido.

- Está acontecendo algo? - senti suas mãos quentes tocarem meu braço, e por um momento, aquilo me acalmou.

- Não é nada, só estou com sede - menti, na intenção de esconder meus sentimentos.

- Podemos ir buscar algo para beber - ela me deu um sorriso que acalmava toda a confusão dentro de mim.

Nos dirigimos para a posição oposta de Vicent, mas o som de sua guitarra parecia atravessar toda a barreira que nos separava dele. Eu não pude evitar observar o olhar de empolgação de Liz com a música de Vicent.

Talvez, se eu deixasse os quadrinhos e aprendesse a tocar algum instrumento, eu pudesse continuar sendo o único a ter a atenção dela.

Enchi meu copo com uma bebida desconhecida, na intenção de esquecer tudo o que sentia. Depois de alguns goles, eu não conseguia distinguir a realidade das simples ficções que havia criado em minha mente.

- Você bebeu muito disso - ela disse, com os olhinhos mais preocupados e lindos do mundo.

Eu me sentia mais livre com ela, e meu olhar confuso, que ela tanto desviava, a penetrava como uma flecha no alvo. Para mim, meus sentimentos eram tão claros, mas era mais difícil ler ela do que um simples quadrinho de super-herói.

- Liz - a chamei, mas minha voz se perdeu diante da música alta.

- Cristian, precisamos encontrar algo que nos leve até minha mãe - ela pôs seu braço ao meu ombro, me levando em direção a uma enorme pedra. - O que eu faço com você, hein?

Só tinha uma coisa que eu gostaria que ela fizesse comigo, mas amigos não fazem isso.

- Eu estou bem - minha visão distorcida não se comparava à bagunça no meu coração.

Então, me levantei, e naquela mesma pedra começamos a investigar. Entre uma pausa e outra, não pude evitar observar seu rosto tão confuso e ao mesmo tempo tão fofo.

- Acho que devemos nos separar - disse Liz, me deixando desconfiado de sua decisão.

- Tudo bem - apenas bufei, com descontentamento.

Ela então se distanciou, indo em direção ao interior do farol, e eu pude enfim, me sentir vazio por completo.

Maré De Amor (Em Criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora