capítulo 12

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O jantar à noite foi tranquilo. As conversas fluíram naturalmente, com risadas e histórias do dia. Mas havia uma leve tensão no ar, algo que ninguém queria mencionar, mas que estava presente em cada troca de olhares. Depois que os pratos foram recolhidos, o silêncio tomou conta da mesa por alguns segundos, até ser quebrado.

— Então, o que fez durante todo esse tempo, Nicolas? — William disse, com um sorriso sarcástico, como se escondesse algo.

Ele tinha um olhar sério e o tom severo, enquanto direcionava os olhos para a taça de vinho de Nicolas.

— Depois de tudo... — Nicolas levantou o olhar para William. — Comecei a praticar jardinagem. Dar um tempo dos negócios às vezes faz bem. Senão, perdemos a cabeça com tudo isso. — Ele tomou um gole da taça.

A tensão só crescia no ar. Nicolas falava palavras que pareciam fazer sentido apenas para William.

A noite parecia longa. William decidiu se retirar. Subiu as escadas com passos pesados, fazendo as madeiras rangerem.

Nicolas me olhou, com um sorriso nos olhos que me trouxe o conforto que eu precisava. Ele se levantou, pedindo para que eu o seguisse. Nos direcionamos até a copa, onde meu pai guardava suas bebidas mais valiosas. Ele me olhou, indicando para eu me sentar em uma das bancadas da mesa à minha frente.

— Então, Liz, em breve você vai fazer 18 anos, não é? — ele disse, pegando uma taça e se servindo. — Já está na hora de descobrir tudo.

Suas palavras despertaram minha curiosidade. Meu avô... Como eu poderia esquecer dele? Ele estava aqui quando tudo aconteceu com a minha mãe.

— Descobrir tudo? — perguntei.

— Sim. Logo você vai se tornar uma mulher, e acho necessário que saiba como tudo funciona por aqui.

Nicolas colocou uma taça de vinho na minha frente, sorrindo de forma que parecia querer me tranquilizar.

— Eu não bebo — recusei.

— Para aceitar o que está por vir, só com uma bela taça de vinho — ele insistiu.

Relutante, segui seu conselho e tomei um gole. O gosto era suave como suco de uva, mas de alguma forma me deixava mais leve. Pude sentir minhas preocupações irem embora enquanto as palavras de Nicolas se embaralhavam na minha mente.

Meus olhos começaram a pesar, e eu me levantei da cadeira, subindo as escadas em direção ao meu quarto. Eu precisava de um tempo para processar tudo. Mas algo não estava certo.

De repente, as palavras de Nicolas começaram a ecoar na minha cabeça, misturadas com a imagem de Vicent. Ele não era assim. Eu precisava falar com ele. Agora.

Peguei minha bicicleta e pedalei pela cidade escura, meus pés quase não tocando os pedais. Eu me sentia leve, como se o vento estivesse me levando. Cheguei à porta da biblioteca e comecei a chamar por Vicent.

— Vicent! Eu preciso falar com você! — minha voz estava mais alta do que o normal, mas ele não respondia.

— Vicent! — eu insistia, arrastando meus pés pelo chão enquanto minha visão começava a se distorcer. — Você... você não é assim — Eu ria das minhas próprias palavras, sem nem saber o motivo.

Continuei chamando por ele, mas ninguém respondia. Meus pés fraquejavam, minha cabeça estava girando. O mundo ao meu redor estava ficando mais lento. Então, me deitei na frente da porta, sentindo o frio do chão subir pelo meu corpo, e deixei meus olhos se fecharem. Em questão de segundos, tudo ficou escuro, e eu me entreguei ao sono.

Maré De Amor (Em Criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora