11
Ele estava distante, em uma mesa onde ninguém mais se sentava. Suas mãos faziam a madeira ranger, e ao focar meus olhos naquele semblante triste de Cristian, percebi o quão especial ele era para mim. Ele era mais do que um amigo — ele fazia parte de mim.
Do outro lado da mesa, seu rosto tão triste e confuso fazia meu coração se partir. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto o observava ali, tão solitário. Eu queria me levantar, ir até ele, me jogar naquele abraço que só ele sabia me dar, sentir de novo o sorriso que sempre fazia o meu surgir.
Abaixei a cabeça sobre a mesa, desejando que tudo acabasse, que fosse apenas um sonho, e que, ao acordar, ele estivesse ali. Mas a vida não funciona assim. Nunca foi tão fácil.
Quando o dia letivo finalmente chegou ao fim, lá fora, a bicicleta amarela vibrante de Cristian se destacava no estacionamento. Observei-o subir e partir sem olhar para trás. Nenhuma despedida. Mesmo assim, isso nunca deixaria de me machucar.
Peguei minha bicicleta, coloquei os fones de ouvido e escolhi as mesmas músicas de sempre. Segui o caminho de costume, mas tudo parecia diferente agora. As árvores estavam sem folhas, o céu opaco, e as músicas que antes me confortavam soavam vazias. Tudo era diferente... sem ele.
Ao chegar em casa, William estava na sala, com um olhar que perguntava o motivo dos meus olhos inchados. Subi as escadas correndo. Joguei-me na cama, e as lágrimas finalmente vieram. Doía tanto. A saudade dele parecia insuportável, mas convencê-lo do contrário era impossível.
Meus olhos estavam pesados, cansados de buscar respostas que não existiam. Sem perceber, fui me entregando ao cansaço. Minha visão começou a embaçar, e antes que pudesse reagir, caí em um sono profundo, onde as lembranças continuavam a me atormentar.
Acordei com uma voz grave vinda do escritório de William. Caminhei devagar até a porta, onde vislumbrei uma sombra enigmática. Eles falavam em códigos, e eu só conseguia captar fragmentos da conversa.
— O tempo está acabando, William – suspirou a voz. — Você não consegue mesmo segurá-la em casa?
Ele sorriu, sarcástico, sentando-se na cadeira do escritório.
— Ela já está envolvida. Quanto mais você tenta esconder, mais ela vai procurar – William parecia preocupado, um semblante que eu nunca tinha visto antes.
— Não subestime a influência que ele pode ter sobre ela –o homem disse, coçando a barba.
— Ele? Cristian ainda está nisso? – William parecia confuso.
— Você realmente não presta atenção nela, não é? – o homem soltou uma risada. — Lembra do garoto desaparecido em 83?
— Não me diga que...
— Não acha irônico? Um desaparecido voltar para buscar vingança? – Ele se levantou, se aproximando demais da porta. — Mantenha Vicent longe dela.
Corri para o meu quarto e me joguei rapidamente na cama. Não podia ser. Vicent não era assim. Ele... ele não podia.
— Elizabeth? – a voz rouca interrompeu meus pensamentos.
— Sim? – gaguejei, sentindo o medo.
A sombra enigmática abriu a porta do quarto, revelando-se por completo.
— Sou eu, Nicolas, seu avô.
Não era o mesmo homem do escritório.
— Vô? – levantei-me rapidamente da cama e corri para seus braços. — Eu senti tanta falta.
Atrás de nós, William e o homem misterioso, vestido com roupas desgastadas e de pele escura, se aproximavam, seus rostos nada amigáveis.
— Elizabeth – William chamou, com um tom sério. — Por que você não troca de roupa para o jantar?
Assenti com a cabeça, ainda olhando o homem confuso que estava ao lado do meu pai. Eu reconhecia aquela voz, mas não conseguia lembrar de onde.
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Maré De Amor (Em Criação)
RomanceMaré Azul parece uma cidade de conto de fadas à primeira vista, com suas casas coloridas e praias de águas cristalinas, guardando, porém, segredos sombrios conhecidos apenas pelos moradores mais antigos. Elizabeth Hart, presa pela superproteção de s...