Capítulo Dez

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10

A manhã ensolarada de um domingo em Mare Azul era coberta de névoas. Na biblioteca local, Vincent nos ajudava a descobrir o significado do tal medalhão. As mãos frias de Vincent deslizavam pelas letras de um dos livros antigos.

O jeito concentrado dele, franzindo a testa e mordendo os lábios, me fazia sentir estranha. Seu toque era diferente; ele me tocava como uma guitarra, sempre sabendo cada acorde a usar. Ele era frio, mas por dentro eu podia sentir uma energia brilhante, como se houvesse uma faísca prestes a se acender.

— Já estou começando a ficar desconfortável — Vincent disse, me tirando dos devaneios.

— C... como? — gaguejei.

— Vai fingir que não estava analisando cada pedaço de mim? — ele riu, com seu olhar provocador.

— Tá se achando demais! Eu não estava fazendo nada disso.

Seu olhar cruzou o meu, e pude sentir meu coração saltar e minhas mãos suarem. Depois de tanto tempo, eu ainda não conseguia me acostumar; seu olhar me causava calafrios. Minhas bochechas queimavam enquanto ele fuzilava os meus olhos. Suas mãos frias encostavam nas minhas, e por um segundo achei que ele pudesse ler minha mente.

Ele apenas soltou um riso e voltou sua concentração ao livro. Do outro lado da mesa, Cristian nos observava com um semblante enigmático, seu olhar transitando entre confusão e fúria, e eu não conseguia compreender.

Tentei me concentrar em um dos livros que estava folheando, mas não pude deixar de notar o olhar furioso que Cristian lançava a Vincent.

A noite chegou e, com ela, a brisa suave do mar e o cheiro de água salgada. Vincent fechava a biblioteca enquanto eu e Cristian preparávamos nossas bicicletas.

Começamos a pedalar, e Vicent nos observava ao longe. Cristian me deixou em casa sem dizer uma palavra durante o caminho, algo estranho, visto que costumávamos cantar nossas músicas preferidas ou que ele não parava de falar sobre seus quadrinhos. Agora, parecia diferente.

— Cristian, você está bem? — questionei, tirando o capacete.

— Estou — ele respondeu, olhando para a estrada.

— Sério, se tiver algo incomodando, você pode falar. — acariciei seu cabelo enquanto entregava o capacete.

— É só que… — Ele hesitou, a voz carregada de frustração. — Eu não gosto do jeito que ele olha para você, como se estivesse te estudando, esperando a hora certa.

— Cristian, você está exagerando. É só amizade.

— Amizade? — Ele se virou para mim, os olhos intensos. — Parece mais que ele está se aproximando demais. Isso não era só nosso, Liz. Nós costumávamos compartilhar tudo.

— Eu sei, mas precisamos da ajuda dele. Não podemos deixar que isso estrague nossa amizade.

— Esse é o problema. — Ele cruzou os braços, seu tom se tornando mais cortante. — Você parece não se importar que ele esteja tão perto.

— Não é isso! Eu só quero entender o que está acontecendo com o medalhão.

— E eu não quero ficar aqui assistindo enquanto você se distancia de mim. — A voz dele estava elevada agora, a frustração evidente.

— Cristian, você está sendo irracional!

— Irracional? Você acha que estou exagerando? Eu vejo como ele te olha, e você não faz nada! — Ele deu um passo atrás, o rosto tenso.

— Eu não posso controlar o que ele faz! — gritei, a raiva começando a surgir.

— Então talvez você devesse pensar melhor sobre quem realmente importa! — Cristian virou as costas, pronto para ir embora.

— Cristian, espera! — tentei chamá-lo, mas ele já estava se afastando, a bicicleta se afastando na escuridão.

— Não espere por mim, Liz! — ele gritou, e seu tom cortante ecoou pelo jardim.

Fiquei parada, sentindo um nó no peito, mas não podia fazer nada

Maré De Amor (Em Criação)Onde histórias criam vida. Descubra agora