Sangue, fumaça e poeira

212 20 24
                                    

Taylor Alison Swift - 2021

          Estávamos no segundo dia de viagem, avançávamos um pouco com os jipes, parávamos para revistar os arredores, marcávamos o lugar e repetíamos tudo isso mais algumas vezes até anoitecer. Eu estava dirigindo um dos carros enquanto Travis cuidava de conduzir o outro na minha cola.

Na parte interna de cada carro estavam quatro militares, contando conosco que estávamos dirigindo, e na carroceria coberta de cada um estavam mais seis soldados armados para o caso de precisarmos entrar em combate. O final da tarde já se aproximava e logo começaríamos a revezar a guarda noturna até que fosse seguro voltar a avançar mais um pouco.

Pelas minhas contas, levaríamos três dias para chegar ao local que fomos orientados a checar, levaríamos um dia para checar tudo, dois se o território fosse maior do que o esperado ou algum imprevisto acontecesse, e então levaríamos mais três dias para voltar para a base.

          Travis e eu deixamos claro um para o outro que aquele pressentimento ruim continuava nos atormentando, a cada quilômetro que avançamos aquela sensação fica pior e o desejo de parar e esperar até que esse aperto no peito deixe de existir.

          — Major Swift, a massa de poeira que avistamos três quilômetros atrás parece estar ficando mais densa.- a voz de Kelce ecoou pelo rádio comunicador do veículo.

          — Mais um quilômetro e paramos por hoje, a poeira provavelmente já vai ter abaixado pela manhã, tenente.- minha voz soou mais confiante do que tenho me sentido nos últimos tempos. — Pararemos perto de algum dos montes para evitar que a gente chame atenção indesejada.

          — Copiado, no momento em que achar que podemos encostar é só dar o sinal.- foi o final da curta comunicação entre meu amigo e eu.

          Os próximos poucos minutos dirigindo foram em silêncio total com os meus subordinamos atentos aos movimentos que pudessem ser sinal de alerta para o nosso objetivo. Tudo estava tranquilo demais durante o trajeto, isso era anormal e fazia com que aquela ansiedade se intensificasse quase ao ponto de me deixar possessa com a possibilidade de que algo esteja prestes a acontecer.

          Dei sinal com os faróis para avisar Travis que já era hora de montar um pequeno acampamento provisório antes de seguir viagem pelo último dia antes de um descanso mais longo longe do volante. Paramos perto de um monte que manteria nosso pessoal fora de olhares curiosos e ameaçadores durante a noite, Trav e eu logo fizemos uma ronda rápida e descartamos a chance de que havia algum fator de risco por ali, assumimos o primeiro turno de vigia enquanto os outros oficiais descansavam algumas horas.

— Quer descansar um pouco? Fico de vigia por você.- Trav me abraçou por trás, aproveitando que estávamos sendo escondidos pelo jipe.

— Aceitaria a proposta em qualquer outra missão, mas prefiro não perder muito o foco no nosso turno dessa vez. Ainda sinto que tem alguma coisa errada prestes a acontecer.- acariciei o rosto dele enquanto ainda varria a extensão do lugar com os olhos.

— Sem beijinho de boa sorte?- não precisei olhar para saber que ele estava fazendo um bico como uma criança mimada quando contrariada.

— Nah... Não sei se você tá merecendo.- me soltei dele. — Agora desgruda e vai cuidar da sua área.

A noite passou como um borrão, depois que o turno foi trocado eu e Travis conseguimos dormir por quase quatro horas na carroceria do jipe que eu estava dirigindo. Quando meu relógio de pulso apitou levantamos todo mundo e desmontamos o acampamento e voltamos para o caminho até o destino final da missão.

          Quando paramos no ponto em que o mapa marcava ser o destino final, nos deparamos com um acampamento fantasma. Descemos dos carros com as armas em punho e avançamos lentamente em total alerta caso precisássemos reagir a um ataque surpresa. Travis e eu éramos protegidos por três soldados que tinham recebido essa tarefa por ordem direta de alguns superiores da base mãe, a primeira revista não apontou nada de errado, estava tudo conforme o esperado. A segunda e a terceira confirmaram as primeiras impressões e isso fez com que eu interpretasse aquela sensação ruim como saudade de casa.

          — Vou passar a situação do espaço para o pessoal que tá esperando uma atualização.- comuniquei Travis enquanto pegava meu rádio e me afastava um pouco do grupo para passar uma mensagem clara e direta pelo aparelho em minhas mãos.

          Primeira tentativa e nada. Segunda, apenas alguns ruídos. Terceira, estávamos fora da frequência utilizada pela base. Tentando entender o que causou isso, meus olhos scanearam o local novamente, do chão até o topo das pequenas colinas que cercavam a gente. Antenas com bloqueadores de frequência de rádio fizeram meu coração gelar.

          — Recuar! RECUAR!- minha voz ecoou em uma urgência que evidenciava um sinal claro de risco. Tínhamos ido parar direto em uma armadilha.

          Tudo se tornou uma personificação do caos em instantes, a poeira voltou a se erguer conforme corríamos de volta para os carros, mas a fumaça tomou conta da minha visão poucos segundo antes de eu chegar a um raio consideravelmente seguro dos veículos de deslocamento oficial. Eu já não estava mais no chão, até estar uma outra vez com um grunhido de dor. Tinha algo na minha perna, a dor lancinante era o que me fazia acreditar nisso, sentia um rastro de sangue escorrer pela minha bochecha e se misturar com a terra remanescente no chão.

          — TAYLOR!- a voz de Travis que ecoou, não ouvi os carros saindo ou coisa do tipo.

          O solo vibrou abaixo de mim e uma mistura de sangue, fumaça e poeira se pôs em evidência quando meu corpo foi arremessado ao ar uma outra vez, meus olhos, quase se fechando, viram quando Kelce também foi lançado ao ar por uma explosão que vinha debaixo do chão e erguiam tudo o que estava pela frente.

          Algo rompeu o solo perto de mim outra vez, resquícios do que poderia ser um fragmento de uma bomba atingiram meu corpo. O torpor tomando espaço enquanto eu ainda tentava lutar para manter os olhos abertos apenas para ter a certeza de que se eu não voltasse para casa, pelo menos Travis voltaria para nossa casa. Ao menos ele nossa família não perderia.

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Agora a trama em si começa...

The Great War - Tayvis AU Onde histórias criam vida. Descubra agora