Respirar

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Taylor Alison Swift - 2021

Meus dedos brincavam com um fio solto da fronha do meu travesseiro, a noite estava fria o suficiente para que, mesmo em um traje quente e envolta em um conjunto fofinho de edredons que me acolhiam como uma nuvem, eu pudesse sentir que todos os meus pelos se arrepiavam. Os últimos dias foram meio caóticos e, para evitar incidentes, Travis comprou uma chaleira elétrica que diminuiria a possibilidade de uma nova crise me atingir.

Meu aniversário seria em três dias, meus amigos estariam aqui comigo e Trav e eu voltamos para aquele gelo de antes do episódio com o chiado da chaleira no fogão. Mas, em compensação, a dor que permeava todos os meus sentidos tinha se tornado minimamente menor.

          — Taylor.- foi um chamado tão frio quanto o clima que se fazia presente por toda a Big Apple. Apenas soltei um murmúrio para que ele entendesse que eu estava ouvindo. — Eu sei que você não quer fazer o tratamento por agora, e que tem grandes chances de que eu acabe com o clima do seu aniversário e tudo mais, só que... Eu, meio que assim, tipo... Só queria saber se você poderia, de qualquer jeito que você conseguisse fazer para a informação  entre na minha mente ignorante, explicar o motivo por trás disso?

          — Eu...- fechei os olhos, tentando organizar meus pensamentos de uma forma coesa o suficiente para explicar minha atual situação. — Eu só tô com medo pra caralho. A dor pode até estar diminuindo, mas já estamos chegando na metade de dezembro e toda aquela merda aconteceu na metade de outubro, toda vez que eu fecho os olhos eu volto para o exato segundo em que eu fui arremessada pelas primeiras três vezes, quando abro os olhos minha perna dói tanto que eu preferia ter morrido depois do apagão, quando tento me mexer parece que estou sendo cortada mil vezes ao mesmo tempo em que me encharcam em álcool, quando por algum motivo eu me esqueço que eu tô um caco eu me mexo e percebo que valeria mais a pena ter ficado sangrando naquele campo minado porque pelo menos assim não iria existir dor nenh-

— Cala a boca!- me cortou em um tom firme, embora não fosse um grito. — Eu não admito ouvir que a pessoa que eu amo preferia estar morta a estar em casa!- só então o olhei. Ele estava chorando. — Eu não consigo conviver com o fato de que você está sentindo dor há quase dois meses e ainda assim se recusa a aceitar o tratamento só porque, aparentemente, não acha que merece a honra de ter sido salva.- senti meu coração apertar de tal maneira que o ar sumiu de todo o quarto. Travis andava de um lado para o outro no quarto, totalmente desamparado. — Me recuso a ter que aceitar que a única coisa que posso fazer é te ver definhar quando a única coisa que imploro em cada oração que faço é que toda a dor que você pode estar sentindo seja jogada sobre meus ombros só pra você não ter que sofrer por absolutamente nada!- acho que minha tentativa de respirar produziu algum ruído totalmente anormal já que seus olhos buscaram os meus de imediato. A forma como aqueles faróis verdes brilharam em alerta fizeram com que o ar se tornasse ainda mais sólido, impossível de ser respirado. — Tay?- seus passos se apressaram em se aproximar, talvez não fosse o melhor momento para entrar em pânico. — Por favor, tenta puxar o ar com calma, vou chamar alguém pra ajudar. Só tenta respirar que eu já volto.- sumiu do meu campo de visão limitado e um pouco turvo.

Respirar. Minha única e incrivelmente desafiadora tarefa era conseguir trazer o ar de volta para os pequenos e delicados folículos dos meus pulmões. Acho mais fácil que eu faça com que dez tiros atravessem uma mesma cavidade do que ter êxito nessa missão, e isso contando com o fato de que eu nunca fui a melhor atiradora nos batalhões ou mesmo nos treinamentos.

Quando Travis surgiu novamente em meu campo de visão ele, já não estava mais sozinho, meu pai e Ed o acompanhavam e uma conversa abafada por meus próprios ouvidos fazia com que tudo parecesse ainda pior do que minha mente em negação insistia em dizer que era, mas o que realmente parecia totalmente fora do eixo, levando em consideração a dinamica estranha dos ultimos tempos, era que trav parecia prestes a quebrar por simplesmente me ver sufocando em minha propria respiração alterada.
Em um momento, no mínimo, desesperador, fui retirada da cama e carregada pela casa até que chegamos ao carro. Pelo visto eu não vou conseguir escapar do hospital, nem mesmo tinha como me opor dado a minha atual situação.

          Uma coisa que é no mínimo curiosa sobre o cérebro humano, é que ele tem o poder de fazer tudo acontecer. Quando o nível de oxigenação presente em nosso sangue simplesmente cai e o oxigênio que deve chegar ao cérebro fica muito pequeno, ele faz com que você apague, faz com que você desmaie para que o ar possa voltar a preencher seus pulmões e circular como deveria estar fazendo durante todo esse tempo. Acho que isso serve como forma de dizer que tudo simplesmente se tornou totalmente escuro poucos segundos depois que o carro começou a andar.

Travis Michael Kelce

          Quando alguém que você ama entra em pânico por sua culpa, você entra em pânico porque sente o peso grotesco da culpa em seus ombros.

          Acho que não é preciso pensar para que seja óbvio o fato de que eu quase podia sentir meu coração sair do meu corpo em total desespero apenas por ver minha garota daquela forma. Assistir seu rosto empalidecendo foi como assistir a um suicídio assistido onde a pessoa na cápsula é o seu próprio filho de apenas um ano, a situação não era nem um pouco fácil.

          Meu pai passou a cortar todos os faróis fechados quando a cabeça de Taylor tombou em uma completa inconsciência. Os minutos até o hospital pareceram horas, os segundos até que ela fosse atendida e levada por entre aquelas paredes brancas pareceram uma eternidade. Mas quando pudemos entrar e ver que ela já estava acomodada na cama com um tubo nasal para auxiliar na respiração. Ao menos uma coisa era certa, tudo ficaria bem em algum momento.

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Dias de luta, dias de glória né

The Great War - Tayvis AU Onde histórias criam vida. Descubra agora