Bigorna

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Taylor Alison Swift - 2021

          Surpreendentemente hoje meu sono não tinha sido interrompido por ninguém durante a manhã, a casa estava silenciosa e meu quarto estava escuro. Já tinha mais de um mês desde o dia que ficou marcado por minha birra no carro, Travis tem tentado se manter próximo mesmo sem invadir o meu espaço, o que fez com que eu ouvisse ele bufando e respirando fundo muitas vezes pela impaciência que começava a tomar conta de seu ser, nossos pais não interferem em absolutamente nada que envolva nossa relação, já que acreditam fielmente na capacidade da nossa dinâmica e, por fim, eu já não me aguento mais.

          Pensei em fazer um pequeno esforço e "jogar" meu corpo na cadeira de rodas que já possuía um lugar fixo ao lado da minha cama provisória, mas desisti da ideia ao tomar consciência de que, caso o fizesse, teria de aguentar a dor quase insuportável que tomaria conta de todo o meu corpo pelo restante do dia. O quarto estava praticamente totalmente escuro, minha mãe tinha feito meu pai trocar a cortina creme por uma black-out por causa do tanto que eu estava reclamando de não conseguir dormir por causa da claridade, o único fio de luz que se fazia presente vinha do pequeno vão da porta e aquela coisa já me irritava de tal maneira que chegava a ser ridículo.

Tentei forçar meu corpo a subir por entre os lençóis para ao menos ficar sentada, mas a pontada que acometeu praticamente todo o meu corpo me fez soltar um gemido de dor antes de ofegar e sentir uma lágrima escorrendo pela minha bochecha. Estava tudo doendo tanto que parecia que meu corpo tinha sido esmurrado enquanto eu permanecia em um sono profundo.

          Uma batida suave na madeira polida da porta me forçou a tentar enxergar alguma coisa no escuro antes que a passagem de luz se tornasse mais ampla e um aspirante a gigante muito bem conhecido por mim invadisse o espaço. Forcei meus olhos a se fecharem, por mais que o silêncio da casa fosse incômodo não me sentia confortável em ter que interagir com alguém. Mesmo que esse alguém fosse o ser a quem confidenciei meus maiores medos e o motivo dos meus mais sinceros sorrisos.

— Tay...- foi um sussurro cortando o ar silencioso do meu espaço. — Eu sei que você tá acordada, eu só... Você vai na consulta mais tarde?- dessa vez o que meus ouvidos captaram foi um suspiro levemente irritado ao proferir a pergunta.

          — Não quero...- quase não consegui reconhecer minha própria voz, a rouquidão se misturando com a falta de força resultante da dor que fazia com que todo o meu corpo se retesasse entre os lençóis fizeram com que eu parecesse mais frágil e vulnerável do que eu desejava parecer. — Mas eu preciso dos meus remédios.

          — O período de uso permitido deles acabou ontem, pelo menos dos remédios mais fortes pra dor.- foi um tom seco, ríspido e despido de qualquer tentativa de romper aquela hostilidade que tinha se instalado entre nós dois, mas eu o entendia, eu estava sendo a porra de uma criança mimada que não aceitava ser contrariada em minhas decisões que não tinham sequer uma faísca de autoconservação. — Quer saber? Se você decidir que vai, avise algum de nós antes do carro sair da garagem.

Contemplei por entre minhas pálpebras quando ele suspirou e virou o corpo, os ombros tensos e um pouco da musculatura de suas costas ficando levemente expostos por uma escassa duração de segundos antes que suas pernas agissem e guiassem seu corpo pelo caminho de onde veio, o braço, que pouco mais de uma semana atrás ainda estava enfaixado, se estendeu e sua mão agarrou a maçaneta antes que seus olhos me lançassem a dádiva da dúvida naquele nevoeiro esverdeado que brilhava em uma esperança crua, mas no fim de toda aquela cena, que não deve ter durado nem mesmo vinte segundos, a porta simplesmente se fechou em um rangido que eu prontamente interpretei como um lamento.

Os últimos dias tem sido assim, Travis tenta se manter o mais próximo que consegue, minhas respostas às suas tentativas de conversa são praticamente nulas e então ele desiste e se afasta quando nota que não vai haver nenhum avanço na interação predominantemente desenvolvida por ele. Não é que eu não queira que ele se aproxime, ou não queira conversar com ele, eu realmente e verdadeiramente quero, mas ao mesmo tempo posso jurar existir uma força sobrenatural que me impedia de avançar em qualquer que fosse o contato que eu tentasse ter com aqueles que me cercavam. Era como se um monstro disfarçado em uma névoa opressora estivesse montado em meus ombros enquanto exercia uma pressão devastadora em meu ser de forma a me puxar para um beco sem saída onde eu não conseguia gritar por ajuda mesmo sabendo que era tudo o que eu queria naquele momento.

          Uma auto aversão profunda irrompia cada pequena partícula que compunha minha alma a cada vez que eu acidentalmente afastava alguém. Mil murmúrios ecoavam em minha mente a cada vez que eu notava meu tom alterado de forma a fazer alguém recuar a uma aproximação. Tinha notado que até mesmo meus afilhados questionavam seus pais ou mesmo a "vó Andrea" quando meu comportamento se tornava um pouco mais arisco no meio de todo mundo, minha cabeça gritava comigo quando eu via isso e minha maior vontade era que aquele castigo acabasse de uma vez.

          Percebi o ambiente ao meu redor tornando-se turvo, quase como se estivesse o observando por debaixo d'água, minha respiração se tornou pesada como se eu tivesse acabado de correr uma maratona que percorria todas as ruas e avenidas do país, minha garganta se fechou como se eu estivesse no meio de uma crise alérgica mortal. Quem me dera fosse a morte vindo me tirar dessa vulnerabilidade indesejada que me aprisionava, mas era apenas mais um dos episódios onde o choro enrosca em minha garganta e não tem a mínima oportunidade de ser deixado fluir como um riacho para levar contigo toda a angústia que prensava meu peito como uma bigorna de metal jogada do alto de um prédio com o objetivo final de estraçalhar o que restou do meu coração depois de toda a matança vivenciada na minha última década de vida.

As lágrimas nublavam minha visão, mas, como sempre, eu me negava a permitir que uma caísse para dar início àquela enxurrada que viria no momento em que eu permitisse que a primeira gota salgada percorresse um caminho indesejado se tornando uma cachoeira incontrolável que traria a tona tudo que eu não queria que se tornasse palpável ao ar sufocante que me cercava.

A dor em meu corpo pareceu fazer com que aquele amontoado de emoções me encurralasse, fui de caçador a presa em segundos e o desespero se alojou no âmago do meu coração. Mas eu não cederia, não aceitaria a fraqueza, muito menos deixaria transparecer o que me agoniava todo santo dia desde que aquelas antenas apareceram em meu campo de visão antes de tudo se transformar em destroços.

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Vou ver o que consigo escrever durante a próxima semana pq minha vida acadêmica vai ficar um pouquinho mais tranquila, mas isso é o que tenho pra essa semana. Tchau 👋🏻

The Great War - Tayvis AU Onde histórias criam vida. Descubra agora