Capítulo 5

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VEGAS

LANCEI UM OLHAR FRIO para o homem sentado à minha frente.

Depois da notícia bombástica sobre o cargo de CEO e da minha interação perturbadora com Pete no dia anterior, estava torcendo por um dia tranquilo no trabalho, mas essa esperança foi por água abaixo no minuto em que Tobias Foster apareceu sem avisar.

Ele usava um terno Zegna novinho e um Rolex ainda mais brilhante e estava inspecionando o local com um sorriso presunçoso.

– Belo escritório. Bastante apropriado para um Theerapanyakul. - Dava para ler as palavras nas entrelinhas: Eu fiz por merecer meu cargo, você nasceu com o seu. Isso era uma bobagem. Eu podia ser um Theerapanyakul, mas comecei de baixo, como qualquer outro funcionário.

– Tenho certeza de que o seu também é ótimo. – Dei a ele um sorriso cordial e olhei para o relógio. Ele perceberia o movimento; com sorte, também entenderia a dica. – O que posso fazer por você, Tobias?

Ele era o chefe da divisão europeia da Theerapanyakul Corporation e meu maior concorrente para a vaga de CEO, então abri uma exceção à minha regra de recusar reuniões não agendadas e o convidei a entrar na minha sala.

Já estava arrependido.

Tobias era o pior tipo de funcionário – bom no trabalho, mas tão grosseiro e irritante que eu gostaria que ele fosse péssimo, para que pudéssemos demiti-lo. Eu admirava sua competência, mas ele estava sempre a um passo de perder tanto a noção que nem mesmo o detetive mais talentoso do mundo conseguiria reencontrá-la.

– Vim só dar um oi. Fazer uma visita. – Tobias pegou o peso de papel de cristal pousado na mesa. – Vim até Nova York para umas reuniões. Tenho certeza de que você está ciente. A divisão europeia vem se expandindo depressa e o Kron me convidou para jantar no Thomas Luger. – A risada dele ecoou pelo ar. - Khunn Kron era o membro mais antigo do conselho da Theerapanyakul Corporation e bastante ultrapassado quando se tratava de inovação. Havíamos batido de frente várias vezes em relação ao futuro da empresa, mas, independentemente do nível de poder que ele acreditasse ter nas mãos, era apenas um voto entre muitos.

– Não fico surpreso. O Kron gosta de determinado tipo de companhia. - O tipo que lambe as botas dele como se fossem de ouro. O sorriso de Tobias desapareceu. – Talvez seja melhor você se apressar – acrescentei. – O trânsito costuma ficar bem congestionado a esta hora. Quer que eu chame um carro para você? - Minha mão pairou sobre o telefone em uma clara dispensa.

– Não precisa. – Ele soltou o peso de papel e fixou em mim um olhar duro, e todos os vestígios de falsa cortesia sumiram. – Estou acostumado a fazer as coisas por mim mesmo. Mas a vida deve ser muito mais fácil para você, não é? É só não fazer nenhuma merda nos próximos quatro meses e o cargo é seu. - Não mordi a isca. Tobias podia falar todas as idiotices que quisesse, mas eu era muito bom no meu trabalho e nós dois sabíamos disso.

– Há mais de trinta anos eu não faço merda – respondi cordialmente. – Não pretendo começar agora. - Sua falsa amabilidade voltou como uma cortina caindo sobre uma janela.

– É verdade, mas para tudo tem uma primeira vez. – Ele se levantou com um sorriso dissimulado. – Vejo você no retiro daqui a algumas semanas. Que vença o melhor.

Retribuí seu sorriso com outro indiferente. Para minha sorte, eu sempre ganhava.

Depois que Tobias saiu, revisei os relatórios financeiros do último trimestre pela segunda vez. A receita dos impressos havia caído 11 por cento, a receita on-line, aumentado 9,2 por cento. Não era ótimo, mas o resultado fora melhor do que o das outras divisões, e teria sido pior se eu não tivesse dobrado as apostas na migração para o meio digital, apesar dos protestos do conselho.

Um Rei Teimoso - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora