Capítulo 14

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PETE

QUARENTA MINUTOS DEPOIS, NOSSO TÁXI parou nas entranhas industriais de Bushwick.

– Não – disse Vegas, bem direto, olhando para o prédio à nossa frente.

Janelas rachadas brilhavam ao luar e grafites transformavam o exterior de pedra vermelha em uma profusão de cores, cartoons e palavrões. Estava escuro, exceto por uma fileira de luzes acesas no último andar.

– Parece o tipo de lugar onde assassinos em série escondem os corpos das vítimas.

– E depois você diz que eu que ouço true crime demais.

Desci do carro e sorri quando Vegas pagou a corrida ao motorista com uma expressão de sofrimento. Ele poderia reclamar o quanto quisesse, mas já estava ali e não iria embora, ou teria pedido ao motorista que o levasse para casa.

– Juro que não tinha nenhum cadáver na última vez que verifiquei. Mas isso foi há mais de um mês, então não posso garantir que as coisas não tenham mudado desde então.

– Se eu soubesse que você era fã de comédia, teria te levado a uma apresentação de stand-up.

– Foi falta de atenção sua, mas quem sabe na próxima vez – brinquei, insinuando que haveria uma próxima vez.

Meu coração idiota e excessivamente hormonal bateu forte com a perspectiva.

Vegas e eu ainda não tínhamos falado sobre nosso quase beijo. Depois de três semanas, o que acontecera na biblioteca parecia um sonho febril, fruto de exaustão e fantasias que extravasaram para a vida real. Olhando para ele agora, tão tenso e respeitável em seu casaco de quatro mil dólares, era difícil imaginá-lo perdendo o controle daquele jeito.

– Talvez.

Vegas olhou para a porta de metal preto do armazém como se estivesse infestada de cólera. Alguém havia pintado com spray três peitos gigantes, junto com a palavra Tetaz em amarelo-fluorescente.

– Que encantador.

– É mesmo.

Deixei de lado a decepção que senti diante de sua falta de reação à minha referência a uma próxima vez e digitei o código de segurança no teclado. Um segundo depois, a porta se abriu com um zumbido.

– Sabe o que dizem de peitos: um é pouco, dois é bom, três é demais.

Vegas tossiu contra o punho fechado. Se eu não o conhecesse, poderia jurar que estava escondendo uma risada.

A porta se fechou com um estrondo atrás de nós. Descemos o corredor mal iluminado e pegamos o elevador até o último andar, onde uma mulher com marias-chiquinhas azuis e batom preto estava sentada em um banquinho perto da entrada. Não havia cômodos no prédio; cada andar era composto por um espaço gigante, semelhante a um loI, e a mulher parecia extraordinariamente pequena à frente do cenário cavernoso.

Ela ergueu os olhos do bloco de desenho por tempo suficiente para verificar nossas identidades e meu cartão de sócia antes de nos deixar passar.

O estúdio estava vazio, exceto pela mulher na porta e um cara loiro magro e de cavanhaque esfregando tinta azul no próprio tronco como se fosse óleo de bebê. Todos provavelmente estavam lá embaixo, mas eu queria apresentar o espaço a Vegas antes de atirá-lo do precipício.

Ele parou na beirada da lona que cobria o piso de concreto cinza. Havia uma divisória temporária de madeira no meio do salão, coberta com telas brancas e balões cheios de tinta pendurados em alfinetes. Abas removíveis fixavam as telas no lugar. Ao lado da parede, uma pequena estante com rodinhas continha copos, diversas garrafas de bebida alcoólica transparente e um pote cheio de papeizinhos dobrados.

Um Rei Teimoso - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora