Capítulo 39

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PETE

– VOCÊ TRABALHOU SEM PARAR essa última semana. – Porchay me olhou com preocupação genuína. – Quando foi a última vez que dormiu mais de três horas em uma noite? - Esfreguei meus olhos turvos.

– Eu não preciso dormir. Preciso terminar o site.

O cheiro delicioso de café expresso, pães e bolos envolvia o ambiente, mas cada pedaço de croissant tinha gosto de papelão. Não havia desfrutado de uma única refeição desde que voltara do Natal- aniversário-ano-novo-palooza, e a ideia de forçar mais comida garganta abaixo fez meu estômago se revirar.

Coloquei o prato de lado e tomei um gole de café.

Porchay, Thankhun e Porsche se entreolharam. Ocupávamos uma mesa de canto em uma nova cafeteria em Nolita, que estava lotada naquela manhã de sábado. Casais elegantemente vestidos, modelos e uma subcelebridade de uma nova série de drama de sucesso amontoavam-se em torno de mesas de madeira clara enquanto garçons circulavam com lattes e mimosas. Vasos de plantas pendurados no teto de vidro davam ao espaço arejado uma sensação de estufa.

Era o local perfeito para colocar a conversa em dia depois do retorno de Porsche de Londres e da viagem de trabalho de Thankhun a Bogotá, mas todos estavam focados em mim.

– Não, você precisa dormir – disse Thankhun, direto como sempre. – Se essas bolsas embaixo dos seus olhos aumentarem mais, você vai precisar pagar taxa extra de bagagem. - Fiquei constrangido e precisei de toda a minha força de vontade para não olhar meu reflexo na câmera do celular.

– Muito obrigado.

– De nada. – Ele tomou um gole de seu café puro. – Amigos não deixam as outras andando por aí parecendo um guaxinim, mesmo que estejam na fossa. - Meu quarto café da manhã subiu pela minha garganta.

– Eu não estou na fossa.

Não era como se cada respiração parecesse perfurar meus pulmões feito cacos de vidro. Eu não acordava todas as manhãs sentindo falta do calor dele nem pegava o celular para lhe mandar uma mensagem e de repente lembrava que não estávamos nos falando.

Eu não o via em todos os lugares para onde olhava – nas páginas dos meus livros, nos acordes suaves de um piano ou no reflexo de uma vitrine pela qual passava. E eu definitivamente não ficava acordado, insone e inquieto, repassando cada memória que compartilhamos como se aquela fosse a minha vida, em vez da realidade em ruínas ao meu redor.

Não estava na fossa porque eu tinha feito aquilo comigo mesmo. Eu não tinha o direito de estar na fossa.

Mas eu estaria mentindo se dissesse que não queria ouvir Vegas fazer suas gracinhas sarcásticas mais uma vez. Só para que minha última lembrança dele não fosse a angústia em seu rosto e a consciência de que eu a tinha causado.

É cientificamente comprovado, meu querido.

Um soluço ecoou do meu peito. Virei a cabeça, olhos marejados, até recuperar o controle sobre minhas emoções. Quando voltei a erguer os olhos, meus amigos me observavam com expressões suaves, mas que deixavam claro que sabiam de tudo.

Eu tinha pulado os detalhes de porquê terminei com Vegas. Apenas disse a eles que não estávamos dando certo e que eu precisava de um tempo sozinho, o que era verdade, mas dava para ver que eles não acreditavam.

Eu não os julgava. Também não acreditava em mim.

Felizmente, nenhum deles me constrangeu e todas agiram como se eu não tivesse tido praticamente um colapso nervoso na mesa. Thankhun ergueu uma sobrancelha perfeitamente modelada.

Um Rei Teimoso - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora