10: Proposta Tentadora

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Charlotte

De volta a Nova York, o escritório da editora estava em pleno funcionamento. As rotinas tinham voltado ao normal, mas eu me sentia diferente. A viagem à conferência não só tinha me dado um vislumbre do mundo editorial em maior escala, como também reforçou a minha confiança em mim mesma. Comecei a perceber que, apesar dos meus receios, tinha muito a oferecer e que a minha voz tinha espaço naquele universo competitivo.

Enquanto ajustava os papéis em minha mesa, refletia sobre como as últimas semanas tinham sido um turbilhão de novas experiências. Entre a chamada alarmante dos meus pais e a partilha do quarto com Elijah, que acabou por se revelar uma experiência tranquila e até fortalecedora, eu sentia a desbravar novos caminhos, ganhando terreno próprio.

Bom dia, Charlotte. Como é que está a aguentar o regresso à rotina? - apareceu do meu lado com um café na mão.

Bom dia, Elijah. Estou a tentar manter o ritmo. Foi uma boa pausa da rotina, mas acho que já estava a precisar desta normalidade outra vez.

Sim, há algo de reconfortante em voltar para o que é familiar, mesmo que seja uma pilha de manuscritos à espera. - Gargalha ao olhar minha mesa repleta de papéis dos manuscritos,

ri concordando. Elijah sentou-se na beira da mesa dela, com um ar mais sério, como se tivesse algo em mente.

Estava a pensar... Tenho observado o seu progresso, e acho que está mais preparada do que nunca para assumir um papel mais ativo aqui. Tiveste um desempenho incrível na conferência. Falaste com autores, com agentes... E viste como as pessoas responderam bem. -olhei para Elijah, surpresa e lisonjeada. Ela sabia que tinha dado o meu melhor, mas ouvir aquilo de alguém que respeitava tanto era diferente.

Obrigada, Elijah. Isso significa muito vindo de ti. Eu... nem sei bem o que dizer.

Não tens de dizer nada. Só quero que saibas que estamos todos a notar. E há uma oportunidade de revisão de projetos novos que está a abrir. Acho que deverias candidatar-te. -  senti uma mistura de empolgação e nervosismo. Era exatamente o tipo de desafio que queria, mas ao mesmo tempo, a dúvida habitual começou a insinuar-se.

Não sei... É uma grande responsabilidade, e ainda estou a habituar-me a tudo. -  falei receosa 

Charlotte, olha para o que já fez. Foi para uma conferência importante, falaste com pessoas e representaste a editora de forma brilhante. Isto é apenas o próximo passo. Se não se sentir preparada, ninguém se importará de esperar, mas acho que tem que começar a acreditar que merece estar onde está. - Ponderei as palavras de Elijah, sentindo o peso delas a assentar lentamente. Estava a tentar sair do molde de filha superprotegida e, aos poucos, começava a ver que o caminho que estava a trilhar era mais seu do que jamais tinha imaginado.

Vou pensar nisso. Obrigada pelo incentivo, a sério.

Estás a fazer isto sozinha, Charlotte. Eu só estou aqui para te lembrar do quanto já cresceu desde que chegou aqui. - Elijah deu um leve toque no ombro antes de se afastar para voltar ao seu trabalho, deixando-me  a pensar nas suas palavras. Olhei para o ecrã do computador, onde uma nova mensagem da supervisora da editora piscava. Era uma convocação para uma reunião de projetos novos. Parecia que as oportunidades estavam a surgir mais rápido do que esperava.

Passei o resto do dia a trabalhar nos seus manuscritos, mas os pensamentos sobre a nova oportunidade e as palavras de Elijah continuavam a ressoar na minha mente. À medida que o dia avançava, sentia que deveria tentar. O medo ainda estava lá, mas agora era acompanhado por uma determinação silenciosa.

Mais tarde, quando o expediente terminou, decidi caminhar até à livraria que mencionei a Elijah semanas antes. Entrei no pequeno espaço acolhedor, o som suave do sino na porta a saudar, e senti-me  imediatamente em casa entre as prateleiras altas e as pilhas desordenadas de livros. Peguei num romance aleatório, e enquanto folheava as páginas, o aroma reconfortante do papel velho trouxe-me uma calma inesperada.

-"É isto. Estes pequenos momentos, estas escolhas que faço... Estão a levar-me para o lugar onde quero estar." - pensei comigo mesma.

Sai da livraria com um livro em mãos e a decisão tomada: iria candidatar-me à nova posição. Era hora de abraçar o meu papel na editora e deixar para trás os medos que a tinham prendido por tanto tempo. Pela primeira vez eu senti que estava onde eu realmente deveria estar.

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