7: A tempestade

11 0 0
                                    

Elijah

Observava Charlotte à distância, encostado à porta da pequena sala de reuniões da editora. Já fazia uma semana desde o almoço que tinhamos partilhado, e notava a forma como Charlotte começava a adaptar-se ao novo ambiente. A mudança não era fácil, eu via os pequenos sinais de uma batalha interna: o olhar distante quando achava que ninguém estava a ver, os suspiros profundos enquanto revisava os manuscritos, e os momentos em que o telemóvel vibrava com as mensagens dos pais.

Ela estava a se esforçar, e eu respeitava isso. Nova York era uma cidade de contrastes intensos — bela e cruel, vibrante e exaustiva, tudo ao mesmo tempo. Lembr0-me de como também me senti perdido nos primeiros meses, a tentar encontrar um equilíbrio entre o meu próprio crescimento e as expectativas de quem deixei para trás. "Ela está a aguentar-se bem. Melhor do que eu na altura, com certeza."

Aproximei da mesa de Charlotte, batendo levemente com os nós dos dedos na borda, para não a assustar.

Charlotte, como está a correr a revisão daquele manuscrito que pegaste na semana passada? Parece uma leitura pesada.

Ela levantou os olhos do documento, com um sorriso que dizia mais sobre a sua exaustão do que qualquer palavra.

Ah, Elijah... Não faz ideia. Este autor tem um jeito especial de complicar tudo, até mesmo os diálogos mais simples. Mas acho que estou a apanhar o ritmo.

Tenho a certeza que sim. E tenho visto o seu progresso... Está a encaixar-te melhor por aqui, não acha?

Acho que sim. Ainda me sinto um pouco perdida às vezes, mas é como disse... É um processo. E, olha, estou a aprender os truques para sobreviver nesta selva de concreto.

eu ri com vontade, reconhecendo o espírito resiliência que eu mesmo tive que desenvolver.

E a cidade, está a gostar? Já encontrou o seu cantinho favorito?- Charlotte pensou por um momento, e um brilho ligeiro iluminou os seus olhos.

Encontrei uma pequena livraria perto do meu apartamento. É daquelas antigas, cheias de livros empilhados até o teto e com aquele cheiro inconfundível de papel envelhecido. Quando preciso de um momento de paz, passo por lá. Parece um pedaço de casa, no meio deste caos.

Sorri, satisfeito. Nova York tinha isso, um encanto escondido em cada esquina, pronto para ser descoberto por quem tivesse paciência para procurar.

Essa é a Nova York que vale a pena. Pequenos tesouros para nos lembrar que, apesar do tamanho e da agitação, há sempre um lugar para nós. - Charlotte assentiu, parecendo mais relaxada. Ela ajeitou os papéis na mesa e olhou para mim com um ar determinado.

Obrigada por me lembrar disso. Estou a tentar fazer deste lugar o meu lar, mesmo com todas as complicações. - suspira pesado, mas ao mesmo tempo aliviada.

E vai conseguir, Charlotte. A adaptação é complicada, mas você tem uma força que te vai levar longe. Não duvido que vai dominar esta cidade em breve. - sorri para ela que assentiu.

Charlotte sorriu, genuinamente grata. Trocamos mais algumas palavras leves sobre os projetos da editora, e logo me despedi, voltando ao meu trabalho. Eu não sabia exatamente o que o futuro reservava para Charlotte, mas eu estava certo de uma coisa: ela estava a encontrar o seu caminho, um passo de cada vez, e isso era tudo o que me importava.

-mais tarde-

Enquanto eu voltava para a minha mesa, observei Charlotte a mergulhar novamente nos manuscritos, com uma nova determinação. Uma semana pode não parecer muito, mas para alguém a tentar encontrar o seu lugar num novo mundo, cada dia era uma pequena vitória. E com certeza eu estava ansioso para ver as vitórias de Charlotte continuarem a crescer.

Amor Fora da BolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora