6: Conversa amiga

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Charlotte

Aquele evento foi realmente algo muito bom para que eu começasse esse processo de adaptação, mas hoje como recebi uma ligação logo pela manhã de meus pais. 

Eu estava a mil. Depois da chamada dos meus pais, fiquei com aquela sensação desconfortável de que alguém me observava, mesmo sabendo que isso era impossível. Estou numa cidade onde não conheço praticamente ninguém, e os meus pais nunca seriam tão loucos a ponto de fazer ligações para me vigiar, certo? Mas antes que eu pudesse afundar-me mais nesses pensamentos, a copiadora decidiu surtar, imprimindo uma tonelada de papéis repetidos, e eu não fazia a mínima ideia de como desligar aquela máquina infernal. Perfeito, agora todos à volta deviam estar a pensar que eu não sabia o que estava a fazer.

E porque Murphy tem um jeito especial de me escolher para os seus testes, é claro que Elijah tinha de aparecer naquele exato momento. O topete dele estava impecável, e aquela camisa social que vestia... Ugh, que visão. "Sério, Charlotte?" pensei, tentando focar-me nos papéis que voavam em vez de no sorriso casual dele. Elijah veio direto na minha direção, olhando para o caos que eu tinha causado. 

- oh, precisa de ajuda? - O coração deu um pulo quando ele sorriu de lado e perguntou, eu que finalmente silenciou com um gemido, por ele ter parado com o caos que causei.

 Eu deixei escapar um suspiro de alívio, embora metade fosse por causa da máquina parar e a outra... bem, ele estava perto demais e eu sentia o meu rosto a aquecer. 

-Obrigada, Elijah! -balbuciei, tentando soar casual. - Acho que esta coisa só quer testar a minha paciência.

Ele riu, aquele riso suave que eu já tinha ouvido antes, mas que ainda assim fez o meu coração bater mais rápido. Pegou uma das folhas do chão e entregou-a.

-Por nada, acho que você causou um belo show para os funcionários deste setor, nesta manhã tão maravilhosa- comentou super sorridente.

Ri, sem graça, enquanto me abaixava para apanhar os papéis espalhados. 

- Pelo menos serviu para alguma coisa. - murmurei, a tentar ignorar o quanto ele me deixava desconcertada. Elijah acenou e voltou para o que estava a fazer, deixando-me ali, meio aliviada, meio nervosa, mas talvez um bocadinho mais esperançosa de que esta cidade pudesse mesmo tornar-se em algo mais do que apenas um lugar estranho.

Logo depois da cena bem atrapalhada que tive com a copiadora, logo tive meu horário de almoço. Decidi comer em um restaurante bem próximo da editora, entrei e me sentei em uma mesa afastada do movimento da entrada e pedi meu prato. Tentando relaxar depois da manhã tumultuada com a copiadora. Observo as pessoas ao redor e tento acalmar a mente, mas meus pensamentos voltam constantemente à conversa que tive com os pais mais cedo. O telemóvel toca, tirando-a do transe. No visor, o nome da mamãe aparece, e suspiro, hesitante, antes de atender.

LIgação:

Charlotte:  "Oi, mãe."

Mãe: "Charlotte! Finalmente atendes. Já estava preocupada. Como estás? Já almoçaste? Estás a comer direito aí em Nova York?"

Charlotte:  "Sim, mãe. Estou num restaurante agora, já pedi o meu almoço."

Mãe: "Oh, ainda bem. Mas tens a certeza de que esse restaurante é seguro? Nova York é tão grande, não sabemos o que pode acontecer. Já li tantas histórias..."

Charlotte: "Mãe, é um restaurante normal. Perto do trabalho. Não precisas de te preocupar."

Mãe: "Eu sei, querida, mas não posso evitar. Estás tão longe de casa... Tu sabes, aqui em casa seria tudo mais fácil para ti. Por que não voltas? Nós sentimos tanto a tua falta."

Amor Fora da BolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora