Charlotte
Era mais uma tarde corrida na editora, como tantas outras desde que voltei ao trabalho. A mesa estava abarrotada de manuscritos, cada um pedindo minha atenção e análise. A rotina, embora cansativa, já se tornara parte de mim. Elijah também tinha voltado à correria, mas conseguimos encontrar tempo um para o outro, mesmo que fosse nos pequenos momentos do dia.
Enquanto lia o início de mais uma história, meu celular vibrou. A princípio, pensei em ignorar, mas algo dentro de mim me disse para atender. Quando olhei a tela, vi que era a babá. Imediatamente, meu coração acelerou.
— Alô? — Atendi com pressa, tentando esconder a preocupação.
— Charlotte, desculpe incomodá-la no trabalho, mas Emma está muito chorosa. Acho que os dentinhos dela estão começando a nascer, e ela não para de chorar por nada. Tentei de tudo, mas ela só quer você.
Minha mente imediatamente se afastou dos manuscritos, e tudo que eu conseguia pensar era em Emma. Minha pequena estava precisando de mim, e isso bastava para que eu largasse tudo.
— Estou indo para casa agora mesmo, não se preocupe. Obrigada por cuidar dela — respondi, já juntando minhas coisas.
Corri até a sala de Elijah, que por sorte estava entre uma reunião e outra.
— Amor, preciso ir para casa. A babá ligou, e a Emma está muito manhosa. Acho que os dentinhos estão começando a nascer — expliquei rapidamente.
Ele me olhou com uma mistura de preocupação e compreensão.
— Vai, vou tentar sair mais cedo e encontro vocês em casa, tudo bem?
Assenti e, sem pensar duas vezes, saí da editora. Cada minuto no trânsito parecia uma eternidade, meu coração apertado com o choro da Emma que eu podia imaginar ecoando pela casa.
Finalmente, cheguei em casa e encontrei a babá tentando consolar minha pequena. Emma estava com o rostinho vermelho de tanto chorar, e ao me ver, estendeu os bracinhos para mim, soluçando.
— Oh, meu amor, mamãe está aqui — sussurrei enquanto a pegava no colo. O cheirinho dela, a forma como se aninhou em mim, fez meu coração doer.
Passei o resto da tarde com ela no colo, cantando, ninando, fazendo tudo o que podia para aliviar seu desconforto. Em alguns momentos, ela parava de chorar, mas logo voltava a reclamar. Meu peito apertava a cada nova lágrima que caía dos olhinhos dela.
Elijah chegou mais cedo, como prometido, e ao vê-lo, Emma estendeu os bracinhos para o pai. Ele a pegou com cuidado, beijando sua testa.
— Como ela está? — Perguntou ele, preocupado.
— Um pouco melhor, acho que o pior já passou, mas ela ainda está bem incomodada — respondi, sentando-me ao lado deles no sofá. Estava exausta, mas não tiraria os olhos dela por nada.
Ele ficou com ela no colo por um tempo, balançando-a suavemente enquanto conversávamos em sussurros sobre como lidar com essa nova fase. Decidimos que tiraríamos o dia seguinte para ficar em casa e cuidar dela, adiando tudo que fosse possível no trabalho.
Naquela noite, enquanto a colocávamos para dormir, percebi como a vida havia mudado. Agora, nossos dias eram uma mistura de trabalho, correria, e o amor por aquela pequena criatura que nos ensinava a ser pais a cada novo desafio.
Ao final, quando finalmente a vi dormindo tranquila, senti uma paz imensa. Deitei-me ao lado de Elijah, sentindo sua mão entrelaçar a minha.
— Vamos dar conta, amor. Como sempre fazemos — ele disse, antes de me beijar suavemente.
Sorri, sabendo que, mesmo nas fases mais difíceis, estávamos juntos nessa.
••••
Elijah
Acordei com um som agudo atravessando o silêncio da noite. Levei alguns segundos para me situar, mas logo percebi que era o choro de Emma. Ela estava acordada novamente. Olhei para o lado e vi Charlotte, exausta, dormindo profundamente. Ela não se mexeu, provavelmente nem ouviu o choro. Ela havia passado o dia inteiro cuidando da nossa pequena, e o cansaço a dominou.
Sem fazer barulho, deslizei para fora da cama e caminhei até o quarto da Emma. O choro ficava mais alto à medida que eu me aproximava. Quando entrei no quarto, a vi se debatendo no berço, os bracinhos se movendo freneticamente enquanto lágrimas rolavam pelo seu rostinho.
— Shhh, está tudo bem, meu amor, o papai está aqui — murmurei, pegando-a no colo.
Ela se aninhou em mim, mas o choro continuava forte. Pude sentir o calorzinho de seu corpo contra o meu, e aquele sentimento de proteção tomou conta de mim. Senti uma pontada de culpa por não poder fazer mais para aliviar a dor dela.
— Eu sei, querida, eu sei que dói... — Falei, enquanto a balançava suavemente, andando pelo quarto.
Emma continuava a soluçar, o rostinho encostado no meu peito. Comecei a cantar uma canção de ninar que minha mãe costumava cantar para mim quando eu era pequeno. Minha voz baixa, rouca pelo sono, era a única coisa que eu conseguia pensar para tentar acalmá-la.
— “Durma, meu anjo, durma em paz...”, sussurrei, repetindo a melodia.
Aos poucos, ela foi relaxando em meus braços, embora os soluços ainda estivessem ali. Continuamos assim por um bom tempo, eu andando pelo quarto, cantando baixinho, tentando fazer com que ela voltasse a dormir.
Depois de um tempo, ela começou a se acalmar. Seus olhos ainda estavam abertos, mas o choro cessou, e agora ela estava apenas quieta, observando o quarto escuro.
Sentei-me na poltrona ao lado do berço e a segurei contra o peito, sentindo seu corpinho relaxar aos poucos. Enquanto ela começava a cochilar novamente, eu fiquei ali, observando-a, sentindo uma paz estranha misturada ao cansaço. Era um momento silencioso, apenas nós dois.
O amor que eu sentia por aquela pequena criatura era esmagador, quase impossível de descrever. Eu queria protegê-la de tudo, até mesmo dos pequenos desconfortos como esse, mas sabia que fazia parte do crescimento dela.
Quando ela finalmente adormeceu em meus braços, fiquei mais alguns minutos ali, certificando-me de que seu sono era profundo o suficiente antes de colocá-la de volta no berço. Cuidadosamente, a deitei, colocando seu cobertor favorito sobre ela.
— Boa noite, minha princesa — sussurrei, inclinando-me para beijar sua testa.
Caminhei de volta para o nosso quarto, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Charlotte ainda dormia profundamente, e isso me trouxe um alívio. Ela precisava desse descanso mais do que nunca.
Deitei-me ao lado dela novamente, e quando a abracei, ela se mexeu levemente, ajustando-se ao meu toque.
— Ela está bem? — Charlotte murmurou, ainda meio adormecida.
— Sim, amor, está tudo bem agora. Volte a dormir — respondi suavemente, acariciando seu braço.
Ela suspirou, relaxando novamente em meus braços. Fiquei ali, ouvindo sua respiração tranquila, sentindo o peso do dia e da madrugada em meus ombros. Mas também havia uma sensação de plenitude, de estar exatamente onde eu deveria estar, fazendo o que precisava ser feito para a minha família.
Enquanto o sono voltava a me dominar, pensei que, apesar das noites mal dormidas, dos desafios e das dificuldades, eu não trocaria essa vida por nada. Estávamos construindo algo lindo, algo que valia cada sacrifício, cada momento em claro.
E com esse pensamento, finalmente me entreguei ao sono, sentindo-me em paz por termos passado mais uma noite juntos, como uma família.
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Amor Fora da Bolha
Ficção AdolescenteCharlotte é uma jovem de 22 anos que vive com seus pais em uma pequena e acolhedora cidade. Seus pais, embora amorosos e bem-intencionados, são extremamente protetores e controlam todos os aspectos da vida de Charlotte. Ela nunca teve liberdade para...