13 : Reflexões noturnas

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Narradora

A casa de Charlotte estava imersa em silêncio, exceto pelo som ocasional do vento sussurrando através das árvores do lado de fora. Sentada em sua cama, envolta em um cobertor macio, ela observava a luz suave do abajur projetando sombras nas paredes do quarto. Aquele jantar ainda estava fresco em sua mente, como se tivesse acontecido minutos atrás, e não horas.

Ela fechou os olhos por um momento, revivendo as risadas ao redor da mesa e as piadinhas que a mãe de Elijah havia jogado para ela, de forma aparentemente inocente, mas cheia de insinuações. Aquelas palavras a atingiram em cheio, como pequenas flechas de dúvida.

*"Parece que Elijah finalmente encontrou alguém de quem ele gosta de verdade."* A frase ecoava em sua mente, a fazendo questionar o que aquilo realmente significava. Elijah havia falado tanto sobre ela para sua família? E se sim, o que exatamente ele havia dito? Como poderia um homem como Elijah, que era tão seguro de si, tão à vontade em qualquer situação, estar interessado nela? Charlotte, com seus traumas, sua timidez, e aquela sensação constante de que não era boa o suficiente.

Virando-se na cama, ela encarou o teto, sentindo uma pontada familiar de insegurança se instalar em seu peito. Por que alguém como Elijah a escolheria? Ele era tudo o que ela não era: confiante, extrovertido, cheio de vida. Charlotte, por outro lado, passava seus dias em frente ao computador, revisando manuscritos de autores que mal a conheciam, vivendo uma vida tranquila e previsível, na maior parte do tempo escondida sob a sombra dos pais que sempre a controlaram.

Ela começou a repassar mentalmente todas as razões pelas quais Elijah não deveria estar interessado nela. Ela tinha traumas que carregava desde a infância, cicatrizes invisíveis que moldavam cada escolha, cada medo. Seus pais eram controladores, sempre impondo regras, sempre ditando o que era certo ou errado. Mesmo agora, adulta, ela se via frequentemente lutando para se libertar daquelas correntes invisíveis.

E seu trabalho... era apenas isso, um trabalho. Ela passava horas ajustando palavras, corrigindo erros, mas raramente via o impacto daquilo. Ela sabia que o que fazia era importante, mas não conseguia evitar a sensação de que estava simplesmente vivendo à margem do sucesso dos outros, nunca realmente brilhando por conta própria.

*"Ele poderia ter qualquer uma,"* pensou Charlotte, mordendo o lábio inferior em um gesto nervoso. Qualquer uma com mais confiança, mais brilho, mais... vida. E ainda assim, ele estava aqui. Ele a escolheu.

Esse pensamento a deixou inquieta. Por quê? Por que ele, com toda a sua luz, escolheria alguém que se sentia tão apagada? Charlotte desejava saber a resposta, mas ao mesmo tempo, tinha medo dela. Medo de descobrir que talvez tudo fosse um engano, uma ilusão criada por sua própria mente esperançosa.

Suspirando, ela se sentou na cama, abraçando os joelhos contra o peito. Talvez, apenas talvez, houvesse algo que Elijah visse nela que ela mesma não conseguia enxergar. Algo além dos traumas, das inseguranças e da vida pacata. Algo que ele apreciava e que fazia com que todo o resto não importasse tanto.

A ideia era reconfortante, mas frágil como vidro. Charlotte sabia que precisaria de tempo para acreditar realmente nisso, para aceitar que, talvez, ela fosse digna do interesse de alguém como Elijah. Mas, por enquanto, essa semente de pensamento era suficiente para acalmar um pouco suas dúvidas.

Fechando os olhos, Charlotte tentou deixar aquelas inseguranças de lado, pelo menos por aquela noite. Elijah estava interessado nela, por razões que ela ainda não compreendia completamente, mas que, talvez, não precisassem ser compreendidas naquele momento. Talvez, tudo o que ela precisasse fazer fosse confiar um pouco mais nele – e, principalmente, em si mesma.

Enquanto o sono finalmente começava a envolvê-la, Charlotte fez uma promessa silenciosa: ela tentaria. Tentaria ver a si mesma através dos olhos de Elijah, com toda a aceitação e carinho que ele demonstrava. E, quem sabe, um dia ela pudesse realmente acreditar que era merecedora daquele amor.

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