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Música do capítulo:
Pra ser sincero - Marisa Monte

Maria

Olhei meu reflexo no espelho pela milésima vez antes de sair do meu apartamento, eu estou bonita usando um vestido com um decote discreto, os cabelos soltos em cachos bonitos e definidos, a maquiagem também está lindíssima, caprichei sem saber o motivo ou eu sabia bem.

Esses eventos familiares, não são só familiares, mamãe tem a mania irritante de tornar algo íntimo e familiar em um evento para amigos e parentes, eu sempre me senti deslocada, como se estivesse no lugar errado e com a família errada. Uma sensação que me persegue desde criança, eles nunca me trataram mal, pelo contrário.

Porém, não há nada que mude o fato de que não sou parte deles, que existe uma lacuna vazia em minha vida. Já chorei muito no passado pensando nisso, sendo na grande maioria das vezes melancólica e depressiva. Depois que Eduardo se declarou, piorou ainda mais, minha mãe pensou ser algo da minha cabeça ou outro motivo igualmente sem sentido já que sempre fui muito amada.

Fiz tratamento com psicólogos que surtiam um melhor efeito quando fui embora para Europa, mas ter voltado acendeu em mim aquele sentimento esquisito e incomodo. Resolvo empurrar toda e qualquer sensação ruim para o fundo da mente saindo do meu apartamento para ir até a mansão da minha mãe.

Entro no meu carro segurando o volante com força, não sei se estou preparada para estar no meio de tantas pessoas, coloco uma música no som do carro dirigindo em direção da casa dos meus pais, gosto de MPB e ouvir músicas desse gênero me deixam bem mais tranquila.

— Eu amo essa.

Palavras ao vento tocava no aparelho de som, eu amo pensar que há alguém em algum lugar me espera, a música tem um poder de me acalmar e transportar para um lugar bom, no final, já estava mais calma ouvindo os Tribalistas e cantando junto. Assim que chego na portaria da mansão sorriu pensando que não será tão ruim assim estar aqui.

A mansão dos meus pais foi o lugar que eu cresci há muitas lembranças boas aqui, um casarão projetado pelo meu pai com um jardim lindo na parte frontal da casa e também aos fundos com flores e arbustos junto com várias estátuas de anjos e fadas feitas de mármore, um lugar extremamente luxuoso e rico.

Minha mãe é uma herdeira que se casou com um homem de classe média, meu pai não era rico como ela, mas usou de toda inteligência e contatos para se tornar um dos homens mais poderosos e ricos da cidade.

Assim que entrei percebi o movimento de pessoas, vejo uma mesa farta como também os amigos dos meus pais e seus filhos no jardim frontal da casa com alguns parentes do meu pai. Eu sabia que eles iam inventar uma porra de reunião com pessoas que realmente não fazem sentido estarem aqui hoje. Ainda bem que vim preparada, meus pais gostam disso, e consequentemente pensam que também gosto.

Eu sorri disfarçando minha indignação querendo sumir no mesmo instante que vi a palhaçada que minha mãe inventou, ela fingi não saber que detesto isso. Eduardo e Carina foram os primeiros a levantar para me cumprimentar já entendendo que odiei tudo isso.

— Sorria e finja que está amando, mamãe também nos pegou de surpresa.

Logo a linda e elegante Rita de Cássia Cortês foi até nós sorrindo enquanto me abraçava, pegou em minha mão acariciando como fazia quando era criança, no fundo, ela não se conforma que eu não seja sua filha de sangue, talvez isso tenha sido um dos motivos que me tornou uma pessoa tão melancólica na adolescência.

Queria que tivesse vindo da sua barriga, e sei que sua maior dor é ser sua filha adotiva, já aprendi a lidar com isso mesmo que ainda cause um certo incomodo em mim. Toda essa exibição da minha figura como se fosse parte disso tudo é desproporcional, e eu realmente odeio.

Seu Amor, Meu Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora