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Para entender o presente, é necessário compreender o passado.

1808

Imaculada

Eu preciso ser feliz para vender meus quitutes, mas estou a cada dia mais sobrevivendo do que vivendo. Eu consegui libertar meus cinco irmãos e minha mãe como também primos e primas, mas para minha mãe Quitéria, eu não sou nada.

Sou filha da violência, por isso, ela me odeia. Ela só não me tirou da sua barriga por causa da minha madrinha, foi ela que cuidou de mim dando todo amor e atenção que não tive da minha própria mãe.

Eu danço para espantar a tristeza, só que depois volta tudo de novo, sorrio e sou educada pois assim vendo tudo. O rapaz de mais cedo cerca minha banca, eu sorrio de forma inocente e ao mesmo tempo sedutora.

Ele é muito bonito, um fidalgo com certeza, mas eu sou uma escrava de ganho, e esses homens só se aproximam de mulheres como eu para libertinagem, e não quero isso. Não gosto dessas coisas, desde que Xavier fez a força comigo.

Xavier é sobrinho da minha madrinha, ainda bem que foi embora para Minas, tomara que nunca volte. Ele me fez muito mal, e o pior é que não pude sequer contar para minha madrinha. Os pulmões dela sempre foram muito fracos, não vou trazer preocupações para ela. Eu mereço por ser filha de uma escrava com seu dono, tudo de ruim que acontecer comigo é castigo por ser filha do pecado.

— Qual o seu nome?

— Para falar meu nome, vai ter que comprar um doce.

Ele sorriu, esse truque sempre dá certo. Falo um nome qualquer e eles compram até mais que um doce, depois desaparecem porque os outros escravos de ganho me protegem.

— Você vai me falar seu nome verdadeiro ou mentir?

— Vai comprar o doce ou vai atrapalhar outros fregueses de chegar na minha banca?

Eu estou cansada desse tipo de homem que se acha esperto, um freguês está atrás dele por isso resolvo fingir que ele não está aqui e dou atenção para o outro freguês, assim o homem ficou parado perto de mim durante um bom tempo, Pai José passou várias vezes preocupado.

O filho dele é marido da minha mãe, também consegui comprar a liberdade dele com a ajuda do meu meio irmão. Apesar de ter vendido bem ainda tinha muitos quitutes, dessa vez exagerei na mão, pensei que com a chegada da corte o movimento seria maior, mas parece que me enganei.

— Quantos são todos os doces?

Falei o preço para o homem que não me deu sossego desde da hora da dança, ele me entregou o valor além de ter colocado mais moedas.

— Não precisa pagar a mais. Não sou prostituta, na rua das Agulhas tem muitas mulheres essa hora.

— Eu não quero uma prostituta, e sim você, não vou fazer mal. Meu nome é Pedro Antônio Lobo, sou novo na cidade e queria conhecer melhor o lugar, você poderia me mostrar?

Eu pensei no dinheiro que poderia conseguir com ele, estou com minha navalha escondida na cintura, se ele se meter a besta comigo, vou sangrar ele. Decidi fechar a banca e ir com ele, pai José ficou observando mas quando viu que eu estava o acompanhando por que quero não me seguiu.

— A vila é bonita, ainda necessita de mudanças.

— Aqui as pessoas não vão aceitar mudanças, nós gostamos de viver assim.

Seu Amor, Meu Destino Onde histórias criam vida. Descubra agora