Capítulo 4 - Sombra da noite

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A noite é fria, a cidade parece completamente vazia, com apenas algumas sombras que possam ser guardiões. Jisung mal consegue se esquentar devido às roupas curtas que traja. Ao longe ele vê o amigo, chorando à beira da fonte. Felix ainda está bastante machucado, ele clama por ajuda à fonte e Jisung corre para impedir que o amigo realize um pacto. Ele grita em total desespero para que Felix abandone a ideia, mas o amigo nem ao menos olha em sua direção, ele ignora sua presença. O pacto é selado, o sangue é derramado e Felix já não pode mais voltar atrás, ele apenas balbucia um "sinto muito" ao longe e Jisung corre em sua direção, mas logo ele desaparece na escuridão.

Sem saber para onde o amigo foi, o que havia pedido, qual o destino dele, Jisung entra em pânico e cogita realizar um pacto. Mas o que ocorreria se ele o fizesse? Anularia o de Felix e o salvaria, ou o condenaria para sempre? Ele não sabe, não consegue decidir o que deve fazer, qual deve se o próximo passo.

Em meio a lágrimas ele percebe um vulto se aproximando e tenta enxergar algo que lhe identifique em meio a escuridão. Ele só enxerga um par de olhos familiares. Um olho negro como a noite e outro azul como o céu nunca fora naquela cidade, ele lembra exatamente de onde conhece esses olhos. Finalmente consegue ter uma visão mais clara do contorno de seu rosto, o nariz fino e perfeito, a boca bonita e bem desenhada parece estar dizendo algo, mas é mudo.

Jisung fica hipnotizado por aquele par de olhos intensos, mas ainda observa com fixação o que aquela boca tenta lhe dizer. Parecem palavras soltas, parece que nem ao menos fala sua língua, até mesmo parece um ritual ou algo do tipo, mas logo ele consegue ler, apenas uma palavra: "acorde".

Com um pulo assustado e o rosto amassado, Jisung acorda ao lado do amigo que segue desacordado. Ele dormira na enfermaria quando foi visitar Felix mais cedo, nem ao menos sabe quanto tempo se passou desde o momento que ali chegara, imagina que esteja com problemas, pois suas tarefas ficaram para trás, mas não se importa no momento. Ele acaricia os cabelos do amigo e beija delicadamente a testa do menino antes de se retirar.

Caminhando pelos corredores, sua cabeça ainda é atormentada pela imagem daquele rosto angelical nunca havia percebido em sua mente. Logo ele esbarra com as costas de alguém e pede desculpas antes mesmo de identificar aquele temeroso rosto sério à sua frente.

– Pequeno... eu já vi você por aqui.

– Se-se... Se-nhor.

– Konan, me chama só de Konan. – Ele sorri amigavelmente para Jisung.

– Eu estava... estava... – O menino fica hipnotizado por aquele sorriso branco e olhos cor de avelã.

– Com seu amigo, imagino. Jisung, sei que são como família, compreendo querer estar com ele.

– Ah, eu... obrigado, senhor. – Jisung fica impactado com a gentileza.

Konan sinaliza que o rapaz pode passar para onde estava indo e ele passa um pouco impactado, ainda sem entender a gentileza. O homem, forte e bastante alto, de aparência hispânica, lhe diferenciando dos demais, impõe respeito e medo em todos ali. A grande maioria dos funcionários teme Konan e alguns até mesmo contam histórias macabras sobre o homem e como em noites de lua cheia ele simplesmente some e volta revigorado na manhã seguinte. Mais forte, mais temeroso e cheio de si. Sua expressão, sempre muito séria, arrepia até os administradores mais antigos do local. Agora, seus olhos intensos pairam sobre Jisung que segue seu caminho sem olhar para trás. Assim como outros ali, ele deseja o menino, mas não age da mesma maneira rude e descarada, ele o respeita. Não são muitos os que recebem gentilezas de Konan.

Na sala onde se localizam as bebidas, Jisung encontra as meninas sendo coordenadas por um dos homens que administram o local e se direciona a ajuda-las, ele pensa em contar para Yeji sobre o ocorrido e, até mesmo, sobre seu sonho, mas a amiga parece muito distante e bastante pálida.

Fonte dos pecados - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora