Capítulo 2 - Ossos do ofício

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– Rápido, crianças, rápido que o show já vai começar.

– Calma Pépi, já nascemos preparadas. – Uma das strippers fala.

– E vocês, meninos? – Pépi, o manager andrógeno que, apesar de muito educado e gentil, precisa ser firme com seus empregados, pressiona os meninos que vão se apresentar.

– Estamos sim, Pépi. – Jisung responde cabisbaixo.

A verdade é que Jisung não gosta da maioria de suas funções, mas dançar sensualmente é uma das que mais lhe desagrada. Em parte, é porque sente-se mais exposto que em qualquer outro ambiente, e por outro lado odeia a liberdade que os administradores dão aos clientes de poder tocar, jogar itens e, até mesmo, puxar as roupas dos strippers no meio da performance. Certa vez um homem bastante alto e magro jogou uma garrafa no menino, por sua insatisfação com a demora com que Jisung retirava suas roupas, então subiu no palco e arrancou seu top com violência. Para piorar, o homem puxou Jisung pelos cabelos até um dos quartos minúsculos, os mais baratos, e o usurpou de porta aberta. O trauma nunca lhe deixou por completo, mesmo que o homem temeroso nunca mais tenha aparecido.

– Oh, criança. – Pépi sentou-se ao lado de Jisung e delicadamente pegou seu queixo para olhar em seus olhos. – Sei que não merece o que fazem com você, mas é nosso trabalho e, quanto antes terminar, mais cedo pode ir descansar.

– Isso se não tivermos clientes. – Felix esbraveja timidamente ao lado.

– Eu sei, meus amores, sei bem que sofrem bastante, mas... – Pépi, por um milésimo de segundo, perde a esperança e a retoma para encorajar os meninos. – Logo vocês não serão os únicos meninos na casa. Sei que isso não é animador para os outros, mas pelo menos poderão ter com quem dividir esse fardo.

Quando os dois meninos mantêm o olhar em Pépi ele balança o peito para sacudir as franjas rosas de sua blusa e arranca sorrisos dos dois.

– Isso que quero ver, meus dois soizinhos sorrindo. – Pépi deposita um beijo na testa de cada um com ternura.

Os meninos agradecem Pépi que logo bate duas palmas para que levantem. Eles vão, agora mais leves, para suas respectivas coxias. Como de costume, antes de se separarem, os meninos se abraçam e desejam sorte um ao outro.

Logo as performances começam, em cada palco particular existem as cadeiras perto do palco, as mesas um pouco mais distantes, os bares com pessoas assistindo de banquetas e os camarotes ao longe. Ao iniciar os números com a luz baixa focando mais no palco onde o stripper se encontra. Mesmo o foco de luz no palco não é totalmente claro, para manter o ambiente sombrio do local. Nesta noite em particular Jisung começa seu número de forma sensual de repente, não intencionalmente, passa a focar em um dos camarotes que exibe uma silhueta em pé com uma taça na mão. O rapaz, escorado no parapeito, parece estar completamente hipnotizado por Jisung que, por sua vez, não consegue tirar os olhos da silhueta misteriosa que acreditava nunca ter visto. O camarote muito escuro não revela muito do homem, só que tem olhos brilhantes, um negro como a noite e o outro, aparentemente azul.

Jisung não entende porque conseguiu, mesmo que de tão longe, focar naqueles olhos, mas não consegue desviar a atenção até que um estrondo é ouvido do palco ao lado. O menino para a performance, preocupado com o barulho vindo da apresentação do amigo. Mas logo recebe um puxão no braço.

– Ei, estamos pagando pra ver você pelado, então trate de agilizar essa bosta.

O homem ao lado de Jisung, um dos espectadores, fala irritado e então solta seu braço. O menino, sabendo não ter outra escolha, recomeça o show e, ao retirar o cropped volta a olhar para o camarote que agora encontra-se vazio.

Fonte dos pecados - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora