Aos prantos Felix é consolado por Pépi que lhe toma nos braços como a uma criança. Yeji anda de um lado para o outro irritada e almejando vingança pelos atos horrendos que o homem nojento realizou.
– Eu vou matar aquele asqueroso, nojento. –Yeji fala entredentes se mordendo de raiva.
– Shiu, você não vai fazer nada. – Pépi dispara e se volta ao menino choroso em seus braços. – Calma, criança, passou. – Fala tentando amenizar os soluços do menino, alisando carinhosamente seus cabelos.
– Passou? você tem coragem de dizer isso? passou? – Yeji fala quase gritando. – Ele está todo machucado, se recuperando e aquele PORCO NOJENTO...
– JÁ CHEGA, YEJI. – Pépi se exalta com a menino, cuidadosamente tampando os ouvidos de Felix. – Não adianta arrumarmos mais problemas, pelo amor de Deus. – Ele beija a cabeça do menino e enxuga mais lágrimas.
– Por-que co-migo, Pépi. – Felix fala baixo entre soluços, as lágrimas escorrem desenfreadamente por seu rosto inchado.
– Não sei, criança, não sei.... você não merece, meu amor. Respira, vai. – Ele tenta secar as lágrimas do menino com um lenço, acariciando lhe o rosto.
Pépi despeja palavras amáveis consolando e acalmando o menino enquanto ele se agarra em seu tronco como uma criança que acabara de ter o pior de seus pesadelos. A menina, ainda irritada, senta e bate a perna no chão tentando liberar a energia e se conter, ela fecha os olhos e os abre com raiva.
Jisung entra correndo na enfermaria e Pépi, gentilmente, cede seu lugar para que os amigos se abracem. Assim que Felix vê a presença do amigo o choro volta a ser incessante, Jisung acaba também não conseguindo segurar algumas lágrimas que lhe escapam, ele acaricia o cabelo do menino com afeto. O momento de afeto não dura muito tempo.
– Boa noite. – Um dos administradores adentra ao recinto.
Com o homem estão mais duas pessoas, entre elas o senhor Shyi, o que arranca um olhar de desespero de Felix que se esconde no colo de Jisung, a ira de Yeji é aflorada e ela segurada por Pépi.
– Algum problema? – O homem se aproxima de Yeji e Pépi
– Não, senhor, ela só está preocupada com o amigo.
Yeji permanece calada se esforçando para não desrespeitar Pepi, mas em seu interior o sangue ferve e só de imaginar a forma grotesca como o amigo foi agredido, seus instintos mais violentos se afloram. Ela estuda a possibilidade de conseguir ultrapassar o homem e apunhalar o senhor Shyi com um dos bisturis que ficam na gaveta atras de si, mas seus movimentos são parados pelo mais velho que tenta evitar que algo pior aconteça.
– Certo. – Ele retorna ao pé do leito. – Felix, se prepare para começar seu turno amanhã à noite.
Todos ficam extremamente surpresos, Felix fica em completo choque, nem ao menos chora com a notícia, mas o sangue se esvai de seu rosto, a palidez diante da notícia deixa o menino quase a ponto de desmaiar, com Jisung o amparando e abanando, mesmo estando extremamente assustado ele sabe que precisa ajudar o amigo. Pepi, por sua vez, se posiciona sabendo que precisa fazer algo.
– Senhor, o menino está machucado. Por favor, reconsidere.
– Isso é corpo mole, o senhor Shyi tomou a prova hoje.
– Claro que tomou, esse filho... – Yeji começa e é interrompida pela mão de Pépi que surge em suas costas tentando evitar o pior.
– Você está dando muita liberdade para esses pirralhos, Pépi. – O homem fala direcionado a Yeji.
Antes que os problemas se intensifiquem Jisung toma a frente.
– Senhor, por favor, eu faço os turnos dele, não faça isso.
– Você mal está conseguindo trabalhar no seu turno garoto. – O senhor Shyi se pronuncia e Felix se encolhe nos braços do amigo sentindo ânsia só de ouvir a voz do homem.
– Esteja pronto amanhã no seu turno, ou sofrerá consequências. -O homem conclui o assunto.
Quando estão saindo perto de sumir dos olhos de Jisung ele então grita.
– TRABALHO NO DARK ROOM.
A frase sai como um grito de socorro. Todos os amigos lhe encaram incrédulos e ele finalmente tem a atenção do senhor de cabelos grisalhos e olhar frio.
– Você se compromete?
– Sim senhor. – Algumas lágrimas escorrem por seu rosto. – Me comprometo.
Os homens saem satisfeitos enquanto Yeji e Pépi se aproximam dos amigos abraçados. Um discurso na voz de Pépi se inicia informando o quanto Jisung fora imprudente ao tomar essa decisão impulsiva. O dark room, diferente do palco de espetáculos, possuía uma característica mais sombria, poucos eram os que trabalhavam lá, tanto pela função ser exclusivamente atender aos prazeres dos clientes, quando pelos próprios clientes que, em sua grande maioria, trava-se de criaturas não humanas que buscava prazeres diferenciados. Todos ali sabiam que os frequentadores do local eram perigosos e asquerosos e, por serem funcionários exemplares, os meninos não eram obrigados a trabalharem lá, mas Jisung mudara isso em seu destino.
No telhado do prostibulo a raiva da criatura ao lado do Nefilim era palpável, seu olho azul estava quase irreconhecível de tão escuro, os grunhidos que lhe escapavam a garganta podiam ser ouvidos, embora ele segurasse muito para que não ocorresse, sua respiração estava densa.
– O menino é corajoso. – Dispara o Nefilim admirando tal atitude.
– Tal qual você, ele confunde coragem com imprudência. – Dispara a criatura saindo do local.
– Ei, o que vai fazer?
– Você não pode entrar, mas eu posso. – A criatura pula do telhado como se a altura fosse nada mais que 2 centímetros, e pousa no chão do enorme prostíbulo tranquilamente.
O demônio se direciona a entrada do estabelecimento e saca uma carteira de reconhecimento, como se fosse um registro de sua não humanidade que lhe apelidaria por um nome, apenas para ter como ser chamado. "Lino" dizia no campo de nome acompanhado com sua categoria não humana, "Demônio - guardião", que lhe garantia uma presença vip no local, sem pestanejar ele se encaminha ao dark room, mesmo que fosse abrir em horas, sua espera valeria a pena, ele havia reservado a noite inteira.
Sozinho no telhado o nefilim se comunica telepaticamente sem chamar a atenção com alguém de sua confiança.
– Tem certeza? Posso entrar, estou pronto para isso.
– Já disse, ele não está bem, mas ficará pior se não tiver você em momento algum.
– Você disse que estava sob controle, disse que garantiria sua segurança. – O Nefilim se irrita e, andando de um lado para o outro tenso, pisa muito forte e quebra algumas telhas.
– Pare de andar, consigo escutar seus passos. – A voz em sua mente alerta. – Já disse que não posso ter absolutamente tudo sob controle, mas ele vai ficar bem, é um menino forte.
– Ele não precisaria ser tão forte se eu pudesse resolver a merda dessa situação logo.
– Você vai resolver, não caiu por nada. Tenha paciência.
– Tenho poucas virtudes e paciência definitivamente não é uma delas. – O Nefilim dispara com raiva e encara um homem forte e alto saindo do prostibulo com muitos guardas.
– Não faça, Hyunjin! – A voz adverte e o Nefilim respira fundo. Após um breve silêncio retoma. – Você não serve para nada se estiver morto.
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Fonte dos pecados - Minsung
Mistero / ThrillerPrólogo Han Jisung é um pobre jovem que, em meio ao caos da vida pobre de sua família acaba sendo deixado à própria sorte ainda bebê em uma cidade repleta de histórias macabras e superstições sombrias. Com o tempo o menino enfrenta um destino cruel...